Depois da remodelação urbanística operada na viragem do século na zona marginal entre Massarelos e a Foz do Douro, os portuenses conquistaram um novo espaço ajardinado e com ele o direito a usufruir do rio e da sua margem. Em modo atlético ou preguiçoso deleite, o jardim das Sobreiras é disso espelho fiel com os dias soalheiros pejados de cor e movimento. Uma dinâmica que se alarga também às águas prateadas do Douro com embarcações turísticas e de recreio em constante rodopio.
Longe vão os tempos em que a azáfama local resultava da actividade portuária da Cantareira. Desde inícios do século XIX que o porto de Leixões passou a acolher o tráfego marítimo e, mais recentemente, com as obras do molhe e a regularização do caudal o Douro amansou e atirou para a história o flagelo das cheias.
Velhas casas e modernas edificações estão tomadas pelo luxo urbanístico e neste movimento foram também instaladas no novo espaço duas construções envidraçadas. De inspiração linear e minimalista, para maior deleite e usufruto das vistas do rio e da sua foz.
Desde início ocupadas com negócios de restauração, numa delas funcionou até início deste ano a Cervejaria Portugália, espaço agora ocupado pelo “Bocca, eat & drink”. O conceito, que privilegia a vertente gastronómica e a degustação descontraída, inclui um forno a lenha para confecção de pizzas e uma zona de balcão para petiscos ou refeições mais apressadas. Há também, claro, a esplanada voltada ao rio, em plena convivência com a zona de passeio e jardim.
O objectivo primeiro passava por cortar com o anterior ambiente de cantina e a monotonia dos bifes como oferta gastronómica. Manuel Tavares de Pina, um dos obreiros da mudança, sabe ao que anda e tem experiência e dinâmica acumuladas em projectos anteriores como Al Forno e D’Oliva.
Basta chegar, ver a azáfama, o ambiente acolhedor e descontraído e a parede de vidro voltada ao Passeio Alegre convertida em garrafeira, para logo se constatar que há sangue novo na Cantareira. E, apesar de ser também evidente que há ainda muita coisa a afinar, parece também que o Bocca se converteu já num novo espaço de moda na oferta da Foz.
A carta é concisa e parece privilegiar a utilização de produtos nacionais de reconhecida qualidade, numa cozinha de interpretação moderna e cosmopolita. O ceviche com robalo da costa ou o bife tártaro com carnes de fornecedor identificado são disso exemplo.
Para lá da refeição convencional, a lógica de petisco e degustação pretende igualmente afirmar-se, com rojõezinhos, croquete, gambas, lulas, pimentos ou cogumelos em pequenas porções e preços convidativos (2,20/8,60€). São também propostas quatro versões de Carpaccio (polvo com vinagreta; vitela; atum; e bonito) com preços a variar entre 7,80€ e 9,80€.
A ideia é que a carta acompanhe os produtos e oferta de temporada, como foi o caso do tártaro de ostra que nos foi sugerido, uma proposta que está ainda a ser testada com o fornecedor e ainda não consta da oferta escrita. Promete mesmo!
Provou-se também o robalo em duas composições. Primeiro num delicado e competente ceviche (11,60€), saboroso e equilibrado; depois grelhado e com um apurado arroz de coentrada (15h80€). Lombinhos limpos e delicadamente grelhados com o arroz, caldoso, fresco e saboroso, a envolver o palato. Belo prato!
- Nome
- Bocca
- Local
- Porto, Foz do Douro, Rua do Passeio Alegre, 3
- Telefone
- 226170004
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 23:30
- Website
- https://www.facebook.com/RestauranteBocca/
- Preço
- 40€
