Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
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Harpa afinada em versão clássica e cuidada da cozinha tradicional

Por José Augusto Moreira ,

Grande afinação, critério e pormenores de classe e elegância, numa cozinha que é feita na hora e com base em produtos de temporada. Manuel Paula comanda as artes.

Há uma harpa, sim senhora, logo na entrada, numa antessala onde se alinham também interessantes instrumentos vínicos que ajudam aos acordes afinados da composição gastronómica. Como instrumento musical, o seu efeito parece meramente decorativo, com o objectivo único de captar a atenção e sublinhar a designação dada ao restaurante.

Começou, segundo nos foi explicado, por ser uma casa dedicada à cozinha e gastronomia italiana. Há cerca de três anos, no entanto, as coisas mudaram de rumo, tendo-se fixado a cozinha e os produtos portugueses, numa versão cuidada e clássica. É caso para dizer que se mantém a harpa mas agora a música é outra.

É avantajada a oferta, que se decompõe em assados, cozinhados de tacho, carnes de diferentes peças e preparações, os tradicionais rojões, tripas à moda do Porto, cozido à portuguesa e o bacalhau ou polvo à lagareiro. E os peixes e mariscos frescos, que variam segundo a faina diária mas que tanto podem passar pelo forno, cataplana, grelhados ou arrozes caldosos.

Particular sucesso parecem fazer a vitela e o cabritinho assados no forno, que são muito requisitados. Mas a oferta vai variando ao longo da semana dependendo da temporada e da oferta de mercado. Ou seja, uma cozinha de proximidade, com base nos produtos regionais e o receituário tradicional. A carta de vinhos é abrangente, com predominância de Douro e Alentejo e algumas opções para as outras regiões. 

O espaço é amplo, confortável, decoração cuidada e mesas bem-postas, com espaço e disposição para não incomodar ou interferir com as conversas dos vizinhos. Tecto alto e com candeeiros a condizer, cozinha adossada e separada por vidraça mas cuja decoração deixa pouco por onde se ver. É pena, porque é bem interessante o que de lá sai e seria interessante perceber também como se trabalha.

Cestinho com pãezinhos de trigo e broa de milho e uma pasta de atum sobre a mesa, sendo servido um espumante de cortesia, da Bairrada, enquanto se entrega a carta. 

Das entradas, optou-se pelo “presunto Pata Negra” (10€), “crepe de legumes” (6,50€) e “folhado de bacalhau” (9,75€). Trivial mas bem fatiado o presunto, enquanto o crepe e o folhado se revelaram de primorosa execução culinária. Fofo e envolvente o crepe, enrolado sobre finíssima e saborosa juliana de legumes de cozedura impecável. No folhado, a massa fina e crocante acolhia no interior um leve refogado com lascas de bacalhau, cebola e tomate. Tudo bem afinado, sabores e texturas bem definidos e em dimensões e quantidades de grande generosidade. 

Apetecia provar o “bacalhau à chef”, mas a clientela que se sentara para esse jantar de sábado já o tinha esgotado. Tal, de resto, como a “vitela assada à Harpa”. Ficou a explicação de que o bacalhau é levemente confitado e depois envolto em pão de Ul para ir ao forno acabar a cozedura. 

Coisas simples

Convocaram-se, então, os “filetes de pescada” (12,50€) e o “arroz de kototxas” (15,75€). Nova afirmação de cuidado e rigor culinária com os filetes, suculentos, saborosos e envoltos num polme escorrido e crocante. Como se seguiria um arroz, optou-se por uma salada como acompanhamento em vez do proposto arroz malandrinho de tomate: alface, tomate, agrião, rúcula e cebola, apenas com um leve vinagrinho que a tornava fresca e apetecível. Bem se diz que o mais difícil são as coisas simples, mas assim se revela também a competência culinária.

Nome
A Harpa
Local
São João da Madeira, São João da Madeira, Av. da Misericórdia, 278
Telefone
256 042 945
Website
www.facebook.com/restaurante.aHarpa/
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