"Em Roma sê romano." É um dos adágios que sobreviveu à Antiguidade e que se pode actualizar de cada vez que se visita a antiga Cetóbriga. Aqui chegados, a paráfrase mais adequada à velha máxima seria qualquer coisa como isto: "Em Setúbal coma peixe." Foram as terras mais baixas das margens sadinas que deram origem à milenar Caetobriga, agora denominada de Setúbal. A conhecida Avenida Luísa Todi funciona hoje como a Cardus Maximus dos tempos romanos, por ser uma via transversal da cidade e à volta da qual todo o comércio gravita. É nesse eixo central que fica o Mercado do Livramento, barómetro do melhor peixe que se pode encontrar por estas bandas e arredores, e local de visita obrigatória para se sentir o pulsar das gentes e a qualidade abundante dos produtos que o mar dá.
A grande cidade piscatória absorve com naturalidade o potencial da sua localização geográfica na unidade do rio Sado com o mar Atlântico e a serra da Arrábida. A influência marítima é preponderante e visível em especialidades emblemáticas que preenchem as ementas de grande parte da restauração local, transformando-a numa espécie de Meca do peixe para quem mora na Grande Lisboa. A oferta é ampla e em vários estabelecimentos é quase decalcada do vizinho que o antecede, só que infelizmente o estar lado a lado às vezes também significa estar "pendurado" no prestígio de outrem. Ou seja, tal como noutras situações da vida, também aqui é preciso separar o trigo do joio, e, no meio de um leque tão extenso de moradas, perceber onde estão as que não transigem com a qualidade e a autenticidade dos produtos. O que é de aquicultura não pode ser vendido com o apêndice "de mar" sob pena de se ir uma vez e não mais voltar...
Felizmente ainda vão existindo algumas moradas fiáveis. Uma das possíveis fica fora das sequências que ladeiam as ruas e avenidas do centro, sendo necessário um pequeno desvio até ao carismático Bairro das Fontaínhas, na freguesia de São Sebastião, para encontrar, numa das históricas áreas residenciais de pescadores, o Restaurante Poço das Fontainhas. A linha férrea traça a fronteira que separa o bairro do cais das embarcações que atravessam o Sado quando se quer ir ao encontro de Tróia. Aos pés da ladeira revestida de casario antigo está alojado um antigo poço - dos vários que existem ou existiram na zona - que dá nome ao restaurante aberto em 1993, paredes-meias com o local que em tempos foi o ponto de chegada das águas que brotavam da escarpa.
Das fontainhas epónimas já não emerge a fonte de vida mas o poço mantém-se como um ponto, neste caso de encontro, para os que procuram o ex-líbris do restaurante. Uma vistosa montra de peixes e mariscos, rica em exemplares frescos de aparência imaculada, e prontos a irem até à grelha ou para o tacho. Nas propostas habituais pode encontrar-se arroz de lagosta, cabeça de cherne, arroz de garoupa, caldeirada à setubalense, raia à varino, ensopado de enguias ou alfaquim frito (peixe-galo) com açorda de ovas, mas que já tinha terminado aquando da nossa visita, uma falta a lamentar pois é uma das especialidades mais procurada.
Não se ficou mal com meia dúzia de "ostras do Sado" (20 euros/kg) logo a abrir as provas. Fresquíssimas e acabadas de chegar dos campos de ostreicultura localizados nos sapais da região, mas de calibre demasiado pequeno e com alguns resíduos no interior resultantes da abertura das conchas. A "saladinha de ovas" (3,50 euros) deu boa conta de si com o tempero certeiro no equilíbrio avinagrado a jogar com as ovinhas carnudas, saborosas e sobretudo sem estarem secas no interior. Sem chama era a "saladinha de lulas" (4 euros) cortada em pedaços robustos, pois o tamanho original do molusco era de monta, com os troços envolvidos num picadinho de cebola e azeite a acusarem sabor amargo a carvão e consistência emborrachada, o que arruinou o conjunto.
- Nome
- Poço das Fontaínhas
- Local
- Setúbal, São Sebastião, R. Fontaínhas, 96/98
- Telefone
- 265534807
- Horarios
- Terça a Domingo das 12:00 às 16:00 e das 19:00 às 22:30
- Preço
- 25€
- Cozinha
- Trad. Portuguesa
- Espaço para fumadores
- Sim