Fugas - restaurantes e bares

  • Enric Vives-Rubio
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Um poço com virtudes marítimas

Era incontornável pedir uma dose de "choco frito" (12,50 euros), para aferir frituras e eventualmente algo que o diferenciasse dos demais - há quem lhe dê um toque mais picante. Neste caso surgiu sóbrio de sabor, perfeito na textura e sem falhas ao frigir, acompanhado de batata frita e de um inenarrável molho cocktail, que certamente não pretende ser inovação (espero), pois não acrescenta nada ao popular petisco. 

Reconfortante e sem sobressaltos estava a "açorda de camarão" (11 euros), bem guarnecida de espécimes e de sabor apurado graças ao caldo de cozer o marisco. As estrelas da mesa e símbolos da cozinha regional foram os "salmonetes à setubalense" (42 euros/quilo) que trouxeram sabor refinado e elegância à refeição, ao serem grelhados com competência e a terem ao lado o molho dos seus fígados plenos de delicadeza - uma espécie de foie gras dos mares -, e que veio sublinhar ainda mais a excelência da matéria-prima. 

A lista de sobremesas estava um pouco desfalcada e para fugir a trivialidades experimentou-se a denominada "pé de salsa" (3 euros). Uma tarte fechada, baixa e de massa crocante, recheada no interior com doce de chila, creme de ovos e amêndoa e sem excessos de açúcar, o que permitiu sentir-lhe os sabores bem definidos. 

Serviço feminino, escorreito e popular, com toques de humor e descontracção, numa casa onde se concentra mais valor no preço dos pratos do que na apresentação das mesas, com toalhas e guardanapos de papel. A excepção vai para os copos de vinho, que cumprem os requisitos mínimos para uma carta não muito extensa e de preços ajuizados. A lista contempla as principais denominações vinícolas, mas onde o grande enfoque vai naturalmente para os rótulos da região. O ambiente geral do espaço é simples, com a sala principal a apresentar uma decoração baseada em motivos ligados ao mar com peixes dispersos em representações feitas de ferro forjado. A esplanada faz as vezes de zona de fumadores e, além de ser o local da grelha, abarca toda a reentrância onde ficam as antigas fontainhas do poço, numa estrutura fechada de gosto duvidoso em estilo marquise.

A génese do Poço das Fontainhas está no trabalho dos homens do mar e na simplicidade em saber usar o peixe e o sal, elementos que perpassam a história da região desde o século X. Antes da fundação de Portugal, o sal de Setúbal já era moeda de troca para obter os peixes que os vikings traziam dos mares do Norte da Europa. A importância salina na região esteve sempre presente ao longo dos séculos, com os cristais sadinos a serem também trocados por cereais no século XVI (A exploração e o comércio de sal em Setúbal, 1955), e a servirem para pagar a saída dos holandeses de terras brasileiras no século XVII (Histoire Naturelle & Morale de la Nourriture, 1987).

A poucos metros do restaurante fica o Museu do Trabalho Michel Giacometti. O etnólogo francês documentou esta terra de brava gente na exposição O Trabalho faz o Homem. Volvido um quarto de século, não é menos verdade dizer que, com trabalho, o mar, o sal e o peixe continuam a fazer Setúbal.

Nome
Poço das Fontaínhas
Local
Setúbal, São Sebastião, R. Fontaínhas, 96/98
Telefone
265534807
Horarios
Terça a Domingo das 12:00 às 16:00 e das 19:00 às 22:30
Preço
25€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Sim
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