"Durante uma década proibi que se cantasse Uma casa portuguesa ou o Cheira bem, cheira a Lisboa, diz-nos Mário Pacheco, o guitarrista que fundou esta catedral do fado lisboeta em 1995. Eis um sinal de como as coisas pelo maravilhoso mundo do fado alfacinha foram mudando nos últimos tempos.
É sob a bênção da Sé que Pacheco nos recebe no seu Clube, uma referência que, sublinha o próprio, "foi uma revolução nas casas de fado". À entrada, as medalhas: retratos dos grandes nomes do fado e visitantes ilustres (de Woody Allen a Bethânia e uma grande constelação de estrelas). À sala principal, em tecto ogival e colunas, com direito a um poço moiro, foi recentemente acrescentada uma segunda sala, mesmo ao lado.
O objectivo de Pacheco foi criar um espaço clubístico e nada típico. "Detestava a palavra. Para mim, era igual a cebolas penduradas, porcaria no tecto... restaurante típico é assustador...", resume.
Com longa carreira, Pacheco estudou com os grandes mestres da guitarra, incluindo Armandinho, os Paredes, Fontes Rocha ou o seu pai, António Pacheco, e tocou ao lado de todos os grandes - além de compor inúmeros temas interpretados por nomes como Camané ou Amália, Mísia ou Paulo de Carvalho e Mariza.
Nos anos 90, entre discos e actuações, encontrou este espaço junto à catedral. Confessa que achava que o "negócio" das casas de fado, em geral, era "tão triste, tão vendido...". "Porque o objectivo das actuações, dos artistas, era vender à mesa, o fado era um chamariz para facturar", sublinha.
Com o clube, "impus excelência em tudo, no fado e na comida", "dignidade e respeito", incluindo a interrupção do serviço enquanto o artista actua, um afastamento do "simplismo turístico". "Aqui, canta-se fado", resume, sublinhando que os jantares são alicerçados na gastronomia nacional "de qualidade" e "sem dosezinhas".
Com sala cheia, o ambiente apruma-se para ouvir a canção nacional. Para tal, Mário Pacheco acrescenta que não aceita grupos que ocupem mais de metade da sala, senão "às onze horas vão-se embora e fica a casa vazia" como acontece noutros sítios.
A luz reduz-se, os convivas que enchem a sala, e até barulhentos - "com os grupos já se sabe" - vão-se silenciando, o fado chega. Canta Cuca Roseta, toca Mário Pacheco e companhia, um contrabaixo reforça o fado.
Ao longo da semana, integram o elenco não só Roseta, mas também, entre outros, Maria Ana Bobone, Rodrigo Costa Félix, Diamantina, Carmo Moniz Pereira, Miguel Capucho, Tereza Lopes Alves, Luísa Rocha, António Vasco Moraes, Cristina Nóbrega e Cristiana. Nas guitarras, por vezes o mestre Pacheco, Diogo Clemente, Marino de Freitas ou mesmo Marta Pereira da Costa, uma das raras intérpretes de guitarra portuguesa.
Comer e beber
Um jantar no Clube ficará em redor dos 45/55 euros - A entrada só para ouvir fado custa 7,5€ + consumo.
A ementa inclui, obviamente, entre as especialidades, vários pratos de bacalhau (à Chefe Sousa ou Suado à Lisboa Antigo, por exemplo), peixe fresco (uma posta de cherne grelhado com molho de ervas ou lombo de garoupa com molho de lagosta - ambos a 27€) e marisco (açorda por 27€ ou uma cataplana por dois que custa 75€), além de carne de lombo nacional - o bife da casa, do lombo à pimenta, medalhão de lombo à portuguesa ou mesmo rojões à moda do Minho ou umas costeletas de cabrito à Hermínia e peito de pato com vinho do Porto (todos pratos em redor dos 22/27 euros).
- Nome
- Clube de Fado
- Local
- Lisboa, Sé, Rua de São João da Praça, 92/94
- Telefone
- 218852704
- Horarios
- Todos os dias das 20:00 às 02:00
- Website
- http://www.clube-de-fado.com
- Preço
- 55€
- Cozinha
- Portuguesa
- Espaço para fumadores
- Não