Fugas - viagens

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O Luxemburgo das encruzilhadas

É verdade que, em 1867, as potências europeias decidiram pôr um ponto final no vórtice de cobiça em que a cidade se tornara, ordenando a destruição da fortaleza que, entretanto, crescera mais do que a própria urbe: 18 anos de trabalho e um milhão e quinhentos mil marcos de ouro custaram a tarefa de a reduzir (quase) ao seu aspecto de cartão postal actual. Na década de 30 do século XX voltou-se à fortificação, desta feita para restaurar, com o lazer em mente e então as casamatas voltaram a ser transitáveis e visitáveis. São 23 quilómetros delas, um labirinto de túneis e galerias esculpido na pedra. Não é uma viagem ao centro da terra, mas é uma viagem às entranhas da Europa.

À superfície, sobem-se pequenas torres, descansa-se nos pequenos jardins, miradouros para o cenário de gargantas atravessadas por pontes (incluindo a vermelha, e por isso polémica, Grand Duchesse Charlotte) e viadutos que unem os diferentes promontórios que se erguem sobre um manto de vegetação e casas brancas (ou ocre), telhados pretos quase como num conto de fadas, com a intromissão frontal do "bairro europeu". Estamos de cabeça no ar, mas ela foge rapidamente para terra, para o fundo do vale, o Grund, aninhado à beira-rio. É para lá que descemos, finalmente na "mais bela varanda da Europa", o Chemin de La Corniche, caminho íngreme encaixado entre a paisagem e a parede rochosa revestida por casas elegantes e colorida por floreiras.

No Grund tudo parece ter a rusticidade típica dos pequenos povoados, o chão de pedra desigual, as pontes pitorescas que atravessam o rio, as casas baixas e tradicionais sobre ruelas estreitas. Era o bairro dos artesãos, agora é um dos pontos mais apetecíveis da boémia luxemburguesa em contraposição com alguma sofisticação que corre no "andar de cima" da cidade. Quando o dia se esvai transfigura-se, mas a meio da tarde de sábado alguma agitação já toma conta das ruas. O ponto central é o Scott's, um pub onde o pátio, entre a ruela e o rio, está quase cheio e a língua franca parece ser o inglês debitado com olhos ao alto, no "Bock" e no caminho que descemos erguido em parede. À noite, entramos no Liquid, quase ao lado, bar de traves de madeira e espelhos dourados, velas e baralhos de cartas ao som de música com ambições alternativas.

Caminha-se acompanhando o rio, passa-se a Abadia de Neumunster (restaurada e acrescentada de um bar de design contemporâneo) e sem quase darmos conta somos rodeados por verde. Entretanto, o rio é quase um fio, mas o parque do Vale do Pétrusse é um pequeno esplendor no fundo da garganta rochosa formada por dois vales abruptos. Estamos no centro da cidade, porém, esta mal se ouve a passar em cima, enquanto se percorrem os caminhos divididos com ciclistas e patinadores, por entre relva e árvores que vistas de cima parecem ocupar tudo. A subida à "superfície" é o que mais custa, são escadas atrás de escadas e pequenos miradouros para descansar até se chegar às largas esplanadas de onde, até o sol se pôr no horizonte, as objectivas fotográficas "captam" a essência luxemburguesa.

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