Fugas - viagens

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Índia: Andar muito, devagar

Conduzir no estrangeiro nem sempre é fácil, mas pode ser mais difícil se for na mão esquerda e se o país for a Índia, recordista de acidentes na estrada, onde os turistas não conduzem e os expatriados também não. Para aumentar a parada só mesmo fazendo-o num triciclo motorizado, veículo de casta inferior, na base da cadeia alimentar rodoviária.

As estradas são realmente perigosas, ou melhor, há muitos automobilistas que dirigem de forma bastante perigosa; os restantes cumprem as regras do código, apimentadas pelas regras da prática, a saber: quanto mais depressa melhor; avançar com total confiança, mesmo que não seja seguro; desviar no último momento. Uma razia milimétrica é aceite por ambas as partes, a bem da fluidez do tráfego nacional. E buzinar, sempre! Apitar a toda a hora, não para dizer "chega p'ra lá", mas para informar "eu estou aqui."

Transformar café em água

Para a adrenalina da aventura não toldar o lado B do país, faz parte da inscrição no evento uma doação por equipa de 1200 euros à organização inglesa Frankwater para executar projectos que abrem fontes de água potável na Índia rural. Os participantes na corrida despertam para problemas de um país onde milhões de pessoas não acedem a bens de primeira necessidade. Os donativos contribuem para transformações a médio prazo na vida de milhares de pessoas, comunidades que se tornam mais saudáveis.

Sendo conhecida por apoiar projectos culturais e filantrópicos, pedimos o patrocínio da Delta Cafés. Associando-se à nossa equipa, a empresa fez a doação dos 1200 euros em nosso nome.

Também organizámos um jantar em Lisboa para angariar fundos, e assim conseguimos entregar 1650 euros à Frankwater.

A economia cresce na Índia e o consumo dispara, mas os bairros de lata alargam fronteiras e agudizamse problemas sérios de poluição.

O país dá cartas na indústria digital, moderniza-se, orgulha-se do seu programa espacial, mas não consegue deter o aumento da pobreza. A Índia harmonizou a convivência das tecnologias de ponta com as tradições milenares e a opulência asiática com a miséria crónica. O hi-tech e o rudimentar cruzam-se já sem se dar por isso.

No Rajastão, ultrapassa-nos um jipe veloz a fazer de ambulância, atrás vai um jovem que segura alto o balão de soro do lado de fora do jipe. No sentido contrário, camiões transportam peças industriais enormes que saem fora dos limites dos reboques, peças do desenvolvimento. Mukesh, um humilde taxista de Disa, diz-nos: "A esta hora não há cybercafés abertos, vejam aqui" carrega num botão e estende o seu telemóvel para consultarmos o e-mail, gentileza e tecnologia. Em Indapur, foi apenas com a luz do seu telemóvel que um mecânico limpou o carburador do nosso riquexó, já era noite e na oficina não havia luz.

Turismo lento e aleatório

Andar a 60 km hora só numa boa estrada e a descer, a velocidade de cruzeiro com pouco trânsito rondava os 45 km hora. Fazer em 15 dias o que se pode fazer em quatro dias de carro é andar devagar, e assim tão devagar estabelecese uma relação diferente com o território que se atravessa, de maior intimidade. O riquexó não tem portas nem janelas, o frio e o calor, os sons e os cheiros invadem a cabine. A fronteira entre os viajantes e a estrada é ténue, a Índia passa lá fora, mas também dentro do riquexó.

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