Fugas - viagens

  • Inscrição na estrada entre Viana do Alentejo e Aguiar.
    Inscrição na estrada entre Viana do Alentejo e Aguiar.
  • Nuno Ferreira, no Miradouro da Barriga, Vila do Bispo.
    Nuno Ferreira, no Miradouro da Barriga, Vila do Bispo.
  • Algarve, Armona.
    Algarve, Armona.
  • Algarve, Alto Fica.
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  • Algarve, Estoi.
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  • Algarve, na barbearia em Silves.
    Algarve, na barbearia em Silves.
  • Algarve, Petanca na Fuzeta.
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  • Alentejo, Futebol em Serpa.
    Alentejo, Futebol em Serpa.
  • Alentejo, Estrada entre Minas de São Domingos e Vale do Poço.
    Alentejo, Estrada entre Minas de São Domingos e Vale do Poço.
  • Alentejo, Mértola, ponte da antiga linha, Minas de S. Domingos.
    Alentejo, Mértola, ponte da antiga linha, Minas de S. Domingos.
  • Alentejo, a ver passar o tempo em Viana.
    Alentejo, a ver passar o tempo em Viana.
  • Alentejo, Estrada entre Pulo do Lobo e Serpa.
    Alentejo, Estrada entre Pulo do Lobo e Serpa.
  • Alentejo, Taberna-museu Pata Curta, Pias.
    Alentejo, Taberna-museu Pata Curta, Pias.
  • Alentejo, Mértola, o sr. Xico Rouxinol, antigo guardião da Torre do Relógio.
    Alentejo, Mértola, o sr. Xico Rouxinol, antigo guardião da Torre do Relógio.
  • Alentejo, Mértola, casa perto das minas de S. Domingos.
    Alentejo, Mértola, casa perto das minas de S. Domingos.
  • Alentejo, Sociedade Recreativa Amarelejense.
    Alentejo, Sociedade Recreativa Amarelejense.
  • Alentejo, Sociedade Recreativa Amarelejense.
    Alentejo, Sociedade Recreativa Amarelejense.
  • Alentejo, Túnel da antiga linha entre Pomarão e Minas de São Domingos.
    Alentejo, Túnel da antiga linha entre Pomarão e Minas de São Domingos.
  • Alentejo, banda em Estremoz.
    Alentejo, banda em Estremoz.
  • Alentejo, Évora, músico Hugo Fernandes ensaia na  Sociedade Harmonia Eborense.
    Alentejo, Évora, músico Hugo Fernandes ensaia na Sociedade Harmonia Eborense.
  • Alentejo, Piscina Fluvial de Portagem, Marvão.
    Alentejo, Piscina Fluvial de Portagem, Marvão.
  • Na estrada entre Viana do Alentejo e Aguiar.
    Na estrada entre Viana do Alentejo e Aguiar.
  • Alentejo, Alter do Chão.
    Alentejo, Alter do Chão.
  • Junto à estrada à saída de Viana do Alentejo.
    Junto à estrada à saída de Viana do Alentejo.
  • Tourada em Portalegre.
    Tourada em Portalegre.
  • Uma caravana de diversões abandonada em Picha, na região do Pinhal Interior.
    Uma caravana de diversões abandonada em Picha, na região do Pinhal Interior.
  • Na barragem do Cabril.
    Na barragem do Cabril.
  • Serra de Montemuro, chega de bois.
    Serra de Montemuro, chega de bois.
  • Zimbreira, Mação, Café Portela.
    Zimbreira, Mação, Café Portela.
  • Mação, Zimbreira, cascata do Pêgo da Rainha.
    Mação, Zimbreira, cascata do Pêgo da Rainha.
  • Piscina fluvial em Oleiros.
    Piscina fluvial em Oleiros.
  • Serra da Estrela, Folgosinho, pastor António Cristovão.
    Serra da Estrela, Folgosinho, pastor António Cristovão.
  • Serra da Estrela, Manteigas, pastor Balote.
    Serra da Estrela, Manteigas, pastor Balote.
  • Serra da Estrela, Covão da Ponte.
    Serra da Estrela, Covão da Ponte.
  • Linhares da Beira.
    Linhares da Beira.
  • Linhares da Beira, o descanso da mochila.
    Linhares da Beira, o descanso da mochila.
  • Ria de Aveiro, Torreira, Ovar.
    Ria de Aveiro, Torreira, Ovar.
  • Praia da Torreira, Ovar.
    Praia da Torreira, Ovar.
  • Trecho da Linha do Tua.
    Trecho da Linha do Tua.
  • Placa da antiga linha de caminho de ferro do Sabor entre Torre de Moncorvo e Carviçais.
    Placa da antiga linha de caminho de ferro do Sabor entre Torre de Moncorvo e Carviçais.
  • Ecopista na antiga linha do Sabor perto de Torre de Moncorvo.
    Ecopista na antiga linha do Sabor perto de Torre de Moncorvo.
  • Em Macedo de Cavaleiros.
    Em Macedo de Cavaleiros.
  • Entre o Homem-Aranha e a cruz: Carnaval em Macedo de Cavaleiros.
    Entre o Homem-Aranha e a cruz: Carnaval em Macedo de Cavaleiros.
  • Carnaval em Podence, Macedo de Cavaleiros.
    Carnaval em Podence, Macedo de Cavaleiros.
  • Uma moradora de Paredes do Rio, Montalegre.
    Uma moradora de Paredes do Rio, Montalegre.
  • Nuno Ferreira na Cascata de Cela Cavalo, Montalegre.
    Nuno Ferreira na Cascata de Cela Cavalo, Montalegre.
  • Um trecho que resta da antiga linha do Corgo em Vila Real.
    Um trecho que resta da antiga linha do Corgo em Vila Real.
  • Senhora da Graça, Mondim de Basto.
    Senhora da Graça, Mondim de Basto.
  • Viana do Castelo.
    Viana do Castelo.
  • Lebução, Valpaços.
    Lebução, Valpaços.
  • Feiras Novas, Ponte de Lima. Pedro Cachadinha.
    Feiras Novas, Ponte de Lima. Pedro Cachadinha.
  • Em Ponte de Lima.
    Em Ponte de Lima.
  • Lindoso.
    Lindoso.
  • Arcos de Valdevez, Tasca do Delfim. Delfim Amorim.
    Arcos de Valdevez, Tasca do Delfim. Delfim Amorim.
  • Serra da Peneda.
    Serra da Peneda.
  • Gração, Arcos de Valdevez.
    Gração, Arcos de Valdevez.
  • Na Serra Amarela.
    Na Serra Amarela.
  • Salgueiros, Vinhais.
    Salgueiros, Vinhais.
  • Nuno Ferreira a caminho da meta, Cevide, o ponto mais setentrional de Portugal.
    Nuno Ferreira a caminho da meta, Cevide, o ponto mais setentrional de Portugal.

A longa caminhada de Nuno Ferreira por Portugal é agora um livro

Por Luís J. Santos (fotos de Nuno Ferreira)

Ao longo de dois anos, Nuno Ferreira calcorreou o país de ponta a ponta. O projecto "Portugal a Pé" toma agora a forma de livro e traça um retrato singular de um país quase esquecido, por vezes desconfiado, por vezes hospitaleiro. Um país que por vezes abandona as suas aldeias, enquanto, noutras, alguns lutam pela sobrevivência do seu quotidiano, artes e memória. E mostra um país repleto de belezas naturais e pessoas únicas. “Ando morto por arranjar um projecto para voltar aos sítios”, declara.

Depois de dois anos a conhecer Portugal passo a passo, como se sente um caminhante quando, por fim, descansa? "Um grande vazio". "Queria escrever e não conseguia. Só queria voltar a caminhar. Sinto-me parado", confessa-nos Nuno Ferreira, "parado" na Costa da Caparica. A confissão não surpreenderá ninguém. O jornalista, hoje com 49 anos, percorreu a pé o país de ponta a ponta, entre Fevereiro de 2008 e Novembro de 2011, "com percalços e interrupções pelo meio". O seu projecto pessoal, Portugal a Pé - que acaba de tomar forma de livro, a ser lançado no início de Dezembro -, levou-o de uma ocidental, "Sagres, precocemente primaveril e soalheira", a Cevide (São Gregório, Melgaço), o ponto mais a norte do país. Como um mar que corre para os rios, do Atlântico às águas interiores do Minho.

Entre partida e meta, com muita sola gasta, Ferreira descobriu um país desconhecido de muitos, longe dos centros de decisão, de "resistentes num país sem 'shoppings' e esquecido nas notícias". O tal Portugal dito profundo - que foi contando no "Expresso", depois no seu blogue ou no site Café Portugal - e que, agora, relata em mais de 400 páginas de texto a que se juntam centenas de imagens. E, se por um lado a descoberta do país o foi surpreendendo ou maravilhando, por outro deixou-lhe a mágoa de confirmar no terreno um Portugal "tão desertificado". "Uma coisa é falar sobre isso. Outra é andar de mochila às costas a descobri-lo".

Em Novembro do ano passado, num depoimento ao PÚBLICO sobre a viagem, Ferreira resumiria o sentimento: "Comecei em plena crise e estou a acabar com a crise ainda maior. Comecei com o interior de Portugal a desertificar-se e acabei com ele ainda mais deserto". Um ano depois, o lamento é mais lapidar ainda: "O campo deixou de existir", conta-nos. Mas, a pé por Portugal, como se vai vivenciando na sua obra, não há só terras em processo de desertificação. Há também a beleza das paisagens, a descoberta da amizade e companheirismo de pessoas únicas, momentos surpreendentes de revelação, hospitalidade ou partilha. E cansaço, que para isto de andar a pé milhares de quilómetros de mochila às costas é "preciso muita resistência física". "Sobes e desces uma serra e, quando chegas ao objectivo, estás derreado. Precisas de descansar, de um dia ou dois para recuperar".

Uma longa caminhada

Nuno Ferreira há muito que acalentava a ideia de andar por todo o país. Jornalista, tendo passado pelo "Expresso" ou PÚBLICO, já tinha sido premiado pelos seus trabalhos de viagens - casos de "Route 66, A Estrada da América", distinguido pelo Clube de Jornalistas do Porto e menção honrosa da Fundação Luso-Americana, ou "A Índia de Comboio", premiado pelo Clube Português de Imprensa. Pelo meio, outro livro com outras viagens: a partir das histórias de Pedro Faria, motorista de ilustres, escreveu "Ao Volante do Poder". O projecto Portugal a Pé acabará por ter parto natural a partir de uma retórica simples: "Se toda a gente anda a viajar e a escrever sobre todos os cantos do mundo (...), por que não revisitar o interior do meu país a pé e escrever sobre o que vou encontrando?". Pés ao caminho. E, quase sempre, longe de centros urbanos.

Para começar, o Algarve servir-lhe-á de "treino". Aos primeiros passos em Sagres ("pelo tempo mais ameno e, claro, pela simbologia"), "verdadeiramente nervoso", aprendeu logo que lhe faltava preparação física e que a mochila era demasiado pesada. Pela serra do Caldeirão, o caminhante surpreende-se com a "descaracterização". Também com a "desconfiança inicial" das pessoas. Um homem solitário, de mochila às costas, a andar por aí. Já ninguém anda por andar. "Percebi que isso acontecia por todo o lado": "De sítio para sítio, há muita desconfiança. Há zonas onde as pessoas são muito desconfiadas (pode ter havido um assalto ou uma burla), mas há zonas onde não. Desces uns quilómetros e és bem recebido, depende muito do que se passou lá". "Uma pessoa passa lá de mochila às costas, num determinado dia, se calhar noutro é diferente". Depois, vai-se sendo reconhecido e bem recebido com um "Desculpe, não sabíamos quem você era".

O que é certo é que não faltava quem se admirasse com este caminhante. Tomavam-no ora por vagabundo, ora contrabandista ou peregrino a Fátima ora por pior. E também não faltava quem se assustasse: "Não esperava ser recebido com medo em determinadas zonas. Numa aldeia do Vimioso até chamaram a GNR". Mas, passadas as reticências iniciais e aberto caminho às conversas, Nuno Ferreira foi-se surpreendendo tanto com a hospitalidade de muitos como com maravilhas várias, a beleza paisagística, a gastronomia ou artes tradicionais quase em extinção. E com a luta de alguns "resistentes", dedicados a projectos que mantém vivos a memória colectiva, seja a gaita-de-foles em Miranda do Douro ou o cante alentejano, o trabalho do Ecomuseu do Barroso para registar documentalmente a região e sua cultura, as chegas de bois de Faifa, Montemuro, ou a arte da pesca da xávega na Praia da Torreira.

Andar surpreendido

"Há sítios de uma beleza natural fantástica". "Uma pessoa até fica surpreendida". "Como é que eu, aos 40 e tal anos não conhecia a Serra de São Macário, no concelho de São Pedro do Sul, e a aldeia de Covas do Monte e as suas quase 3000 cabras ao lado da Aldeia da Pena", "ou a cascata fantástica da Frecha da Mizarela, na serra da Freita". Agora, não lhe faltam na ponta da língua sítios assim, pessoas, momentos, aldeias abandonadas e aldeolas em que se luta pela sobrevivência, tabernas e cafés, serras e planícies. De tudo guarda memórias únicas e resume-as em "Portugal a Pé" - o livro. Pelas suas páginas, passa tudo o que viu, "cascatas perdidas na serra de São Mamede", "lameiros entre as águas bravias e geladas de rios transmontanos", "searas ondulantes e douradas na planície alentejana", "garranos à solta entre a névoa da Serra Amarela".

São imagens que preenchem a obra com um Portugal que, por vezes, parece em "perigo de extinção", um país que foi descobrindo na sua caminhada, quase sempre solitária: "Fazia trilhos e mais trilhos que em quase não encontrava ninguém". Também, sem GPS e sendo que "os mapas não servem para tudo", daria por si não só sozinho como perdido e até a correr perigos - no Marão, teve mesmo que ser resgatado por bombeiros. "Teimava em não usar GPS. Até ao centro do país tinha a caminhada controlada. No Norte é mais complicado, há mais desvios, perdi-me muita vez. Andava com uma fúria muito grande a descer as serras todas e espetei-me ao comprido".

Dos regressos

Mas dos dias de andarilho, o que fica sobretudo são as pessoas desse "Portugal profundo". "Fiquei com um grande apego às pessoas que vivem no interior, que se mantêm lá, com projectos associativos, com pequenos comércios, que tentam". E um grande "apego" aos guardiães da memória. "Deste livro que vai sair, já muita gente faleceu", diz Ferreira. "O senhor de Mértola que tomava conta da torre do relógio já não está lá", "já me ligaram de uma taberna de Pias a dizer que o senhor faleceu", o mesmo em relação ao senhor que tinha a campanha da pesca da xávega Torreira. O livro serve também para preservar os ensinamentos desta gente, alguns deles revisitados meses depois de dar a caminhada por terminada.

A oportunidade de voltar a alguns sítios surgiu com um convite de uma produtora italiana para gravar um vídeo para o canal de televisão Discovery, onde, em três minutos, se resume o projecto. Em Março, com a equipa da produtora, e desta vez de carrinha, percorreu o país, revisitando terras e gentes. "O reviver da aventura e o reencontrar de pessoas a quem fiquei ligado afectivamente caiu como uma bênção", resume Ferreira. "Com espanto e alegria", voltou à "tasca-museu de Francisco Fitas", em Cuba, "praticamente como a vira há três anos" e viveu o "reencontro mais emotivo" na Zimbreira, aldeia de Mação, com a família Portela, que o acolhera em Julho de 2008 numa altura em que andava "desanimado com a desertificação, a desconfiança de alguns moradores e abatido pelo intenso calor". Também tinha havido mudanças, a família fechara o último café da terra - sítio onde, nas paredes, se lia "O Sol quando nasce é para todos" ou "Zimbreira também é Portugal"; mas abrira uma esplanada: o Retiro da Esperança".

Voltou também à Serra de São Macário, à família e restaurante de Alfredo de Brito, e reviu Mariana, a "a primeira criança a nascer ali em 34 anos". Ou regressou também a Covas do Monte, "a aldeia das três mil cabras e 50 pessoas", às "estradas desertas" de Carrazeda de Ansiães e ao abandono da linha do Tua, "esse monumento a um Trás-os-Montes remoto e em extinção". E ao "último poço da morte em Portugal", onde o senhor Henrique Amaral, de 81 anos, em Aguada de Cima, Águeda, deixou de lado as canadianas para ser filmado a fazer o que mais gosta: pôr-se "em cima da mota e rodar como um jovem no poço".

A revisitação, graças ao vídeo do Discovery, só lhe deu vontade de planear outros retornos. "Ando morto por arranjar um projecto para voltar aos sítios". "Gostava de regressar, mas a pé vai ser difícil". "Talvez de bicicleta, ainda não sei". Agora, "parado", dedica-se ao lançamento do seu livro, às crónicas e artigos sobre o país e as suas gentes, mas também a uma segunda obra baseada na caminhada: será uma edição para a Fundação Manuel dos Santos, um ensaio sobre Portugal onde analisa ideias e conclusões deste país caminhado.

Portugal a Pé - o livro
Edição: Vertimag
Texto/fotografia: Nuno Ferreira
Nº de páginas: 500
Tiragem da 1.ª edição: 5 mil exemplares
Será lançado no início de Dezembro e custará cerca de 20€.
À venda nas livrarias e via o site do livro.

Em Dezembro: Sessões de lançamento pelo país (Porto, Coimbra, Figueira, Guimarães, Faro, Guia-Algarve) - agenda actualizada aqui e no Facebook do autor.

Portugal a pé na net
Site do livro
Crónicas no site Café Portugal 
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