As cidades Euro na Polónia | As cidades Euro na Ucrânia
"É um livro aberto", diz Vladimir, o motorista do táxi que apanhei no aeroporto, descrevendo a forma do edifício. Dias antes de chegar à capital ucraniana saíra na revista alemã Der Spiegel um artigo relatando como vários hóteis ucranianos tinham sido literalmente assaltados e confiscados pelas máfias locais, a pensar na carteira dos fãs que em Junho começarão a desembarcar aqui para assistir aos jogos do Euro 2012. O primeiro hotel mencionado no artigo era o Slavutich. E eu estava lá. Na entrada estava uma meia dúzia de matulões, vestidos de preto, mal encarados. Nenhum interrompeu o suave dormitar ao fim de uma noite de vigia nem sequer para dizer bom dia. O meu primeiro comité de recepção na Ucrânia era promissor.
Após umas horas de repouso num quarto que permitia chegar a algumas conclusões seguras sobre o fim do comunismo, estava pronto para a minha primeira experiência de encantamento. Fundada no século V, Kiev cresceu como um entreposto na rota fluvial usada pelos varegues, vikings que desceram pelos rios do mar Báltico até ao mar Negro. Na Primavera, quando chegava o degelo, esses barcos largavam de Kiev rumo a Constantinopla. Para a compreender a cidade, portanto, é preciso começar pela relação que estabelece com o Dniepr.
Tinha acabado de sair do hotel, que fica na margem esquerda do rio, que é largo como o Tejo em Cacilhas ou mais, apesar de estarmos a centenas de quilómetros da foz. Do lado de lá, espraia-se uma encosta arborizada na qual se inscrevem as cúpulas verdes e douradas do mosteiro ortodoxo da Pecherskaya Lavra. Começado a construir no século XI, é o mais antigo templo da cidade que, entre os séculos IX e XIII, foi capital de um principado (o Rus de Kiev) que ocupava quase toda a actual Rússia europeia, quando Moscovo ainda nem existia. É o primeiro mosteiro cristão no espaço que hoje é a Rússia. Os monges viviam em grutas no sopé da colina, que hoje são um lugar de peregrinação.
Kiev é o ponto de partida de uma civilização. É "a mãe de todas as cidades russas", através da qual o cristianismo e a arte bizantina entraram nesta parte da Europa.
Cúpulas de ouro a brilhar, telhados verdes e paredes brancas, misturadas com o verde suave das árvores dispersas na encosta que acompanha o rio. Há uma continuidade perfeita entre o espaço urbano e o contexto natural. É uma frente fresca, que se estende por vários quilómetros, ao pé de um rio navegável, com várias ilhas e praias fluviais de areia. Um ecossistema amplo e magnífico: a mão do homem fica escondida, com excepção dos prédios mais altos e das cúpulas douradas das igrejas e dos mosteiros, que ou aclaram o cinzento nos dias de chuva e nevoeiro ou sublinham o brilho do sol nos dias claros.
Cada uma das quatro cidades ucranianas que vão receber o Euro 2012 - Kiev, Lviv, Kharkiv e Donetsk - é uma porta de entrada para um período da História e uma parte da identidade do país, do fim do primeiro milénio ao século XIX, do principado de Kiev aos impérios que a governaram e dividiram até à independência, em 1991. Kiev é fundamental para essa identidade por ter sido a primeira grande cidade nesta parte do mundo eslavo e o ponto de partida para a respectiva cristianização, que começa com o baptismo do príncipe Vladimir, em 988.
SOS cirílico
É isso que defende Mikhail Ratushnyi, um dirigente de uma organização não-governamental dos ucranianos na diáspora e também ex-deputado. Vai ser o meu cicerone e abrir-me as portas da cidade que ainda me está fechada. Encontramo-nos à hora marcada no café do Hotel Salyut, um edifício redondo à beira do parque que dá para o rio. Eu bebo chá, ele bebe café - os ucranianos são consumidores ávidos de café. Trocamos impressões sobre a comunidade ucraniana em Portugal. Falo-lhe também em Clarice Lispector, a escritora brasileira que nasceu na Ucrânia em 1920. Ele pede-me que escreva o nome da autora de O Lustre num papel e depois mostra-mo em alfabeto cirílico. É uma excepção ao ritual que se vai repetir muitas vezes nos dez dias de viagem que tenho à minha frente. Depois de Clarice Lispector, vou ser sempre eu a pedir aos outros que me escrevam nomes de pessoas e lugares em alfabeto latino.
É complicado viajar na Ucrânia porque a esmagadora maioria das pessoas não fala inglês - sobretudo nas cidades mais próximas da Rússia, como Kharkiv e Donetsk, e por causa do alfabeto cirílico. Não há indicações em alfabeto latino nas ruas, nos principais monumentos ou no metropolitano e isso obriga a um trabalho árduo de navegação. Já os menus dos restaurantes estão quase sempre nos dois alfabetos.
Apesar disso, e dos cuidados que convém ter em matéria de segurança, Kiev é uma cidade onde rapidamente nos sentimos confortáveis. O ambiente é decididamente europeu. Os cafés são muito agradáveis e variados, há lojas e restaurantes para todos os gostos. Há jardins enormes (neste país tudo tem uma dimensão colossal) nas zonas centrais das quatro cidades onde estive. É agradável passear nas ruas e é curioso mergulhar nas labirínticas passagens subterrâneas cheias de lojas, que são os centros comerciais de Inverno.
O metropolitano é muito barato e eficaz: os comboios passam de dois em dois minutos e, sempre que um parte, um cronómetro dispara e conta o tempo até à partida do seguinte.
Apesar disso, as carruagens andam sempre cheias: estamos numa cidade de cinco milhões de habitantes. A arquitectura das estações é um exemplo imperdível de grandiloquência soviética, seguindo a matriz do de Moscovo. As escadas rolantes descomunais conduzem-nos aos átrios amplos, com tectos abobadados dos quais estão suspensos enormes candelabros. O pior é os mapas com os nomes em caracteres latinos estarem dentro das composições e ser quase impossível ver o nome da estação onde estamos quando o comboio pára. É o que se consegue por duas hrvinas (dois cêntimos) a viagem. Outro problema: nas estações em que duas linhas se cruzam, cada uma tem um nome diferente, o que torna a orientação mais penosa para os desgraçados que viajam pelo alfabeto cirílico como Stanley procurando o dr. Livingstone em África: presumindo e com sorte acertando.
À superfície, essa grandiloquência dos edifícios estalinistas é esbatida por se tratar de uma cidade muito acidentada - Kiev é mais uma cidade de "sete colinas", como Lviv, aliás - num país que é rigorosamente plano de uma ponta à outra, com excepção dos Cárpatos.
Mikhail conduz-me pela avenida principal, a avenida Krechtchatik, e aponta os edifícios pesados que a ladeiam. "Isto são os prédios da era soviética [os soviet times, uma expressão mil vezes ouvida neste país], que hoje continuam a ser edifícios públicos." Um Mercedes preto ultrapassa-nos a toda a velocidade, fora de mão, na avenida de oito faixas. "Isto também é a Ucrânia", diz o meu cicerone. O seu olhar vai ganhar outro brilho quando chegamos à vasta Praça da Independência: "Foi aqui que aconteceram as manifestações da Revolução Laranja." É o ponto em que o meu percurso encontra a história recente da Ucrânia. Por causa das manifestações de 2004, esta praça era a minha única imagem visual de Kiev. Agora integro-a neste universo físico feito de colinas, catedrais e um rio. A cidade imaginária que trouxe de Lisboa começa a esconder-se atrás da cidade real.
A praça é dominada por um monumento à independência, com 52 metros de altura, construído em 2001. É um espaço aberto aos peões. Aliás, a Krechtchatik é fechada ao trânsito aos feriados e nos fins-de-semana. Ao lado do monumento, as linhas delicadas do conservatório suavizam a dureza áspera e maciça dos prédios soviéticos, construídos depois da II Guerra. Fora do centro, subsistem muitas construções anteriores à guerra e as cores dominantes são o amarelo ou o azul-claro, que encontramos em alguns dos principais edifícios religiosos, como a catedral de São Vladimir ou o mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas.
Mas aqui, na Praça da Independência, estamos num eixo que funciona como uma das espinhas dorsais da cidade. Nesse eixo inscreve-se o Estádio Olímpico, onde terá lugar a final do Euro 2012. O estádio, com capacidade para 70 mil espectadores, foi inaugurado no ano passado. Apesar de já estar a funcionar, ainda decorriam ainda alguns trabalhos na zona envolvente quando por lá passei. Obras do Euro 2012 nas cidades ucranianas significa novo estádio e novo terminal do aeroporto. O terminal de Kiev estava em obras quando cheguei e ainda não se encontrava operacional, mas prevê-se que os trabalhos estejam prontas antes do arranque da competição.
O eixo central continua pelo mercado da Bessarabia, um típico mercado ucraniano, onde começa a Krechtchatik. Os primeiros edifícios administrativos soviéticos que aqui existiam foram dinamitados pelo NKVD, a polícia secreta do regime, depois de os nazis ali terem instalado o seu quartel-general. Em consequência desses atentados, em Setembro de 1941, mais de 33 mil judeus foram massacrados na ravina de Babi Yar, nos arredores da cidade. Ao longo da guerra, mais de cem mil pessoas seriam assassinadas no mesmo lugar. Durante a guerra, a população de Kiev passou de 800 mil para 295 mil, nota o historiador Mark Mazower, em Hitler's Empire. Quase nenhum dos 600 mil soldados soviéticos cercados pelos nazis no cerco da capital ucraniana sobreviveu. Mazower nota também que houve colaboracionistas ucranianos que participaram nas atrocidades dos nazis. Mas a guerra neste lado da Europa, explica o mesmo autor, era uma guerra de extermínio de judeus e eslavos.
Entre colinas
A Krechtchatik (também lhe chamam a Krechtchkaya) corre entalada entre duas colinas, a que acompanha o rio e outra onde estão as catedrais de Santa Sofia e de São Miguel das Cúpulas Douradas, o ponto onde a cidade começou. Sobe-se até lá a partir da Porta Dourada, uma das quatro portas da cidade do tempo do príncipe Iaroslav, uma estrutura em madeira do século XI, com uma capela no interior, reconstruída nos anos 1980. No topo, chega-se a uma praça extensíssima, com os dois templos em cada extremo. Só Santa Sofia - que integra também o património mundial da UNESCO - vale a viagem até aqui. Numa obra publicada em 1954, o historiador de arte George Hamilton definiu-a como "a maior estrutura religiosa monumental da Rússia e a fonte a partir da qual iriam derivar as igrejas ortodoxas nos nove séculos seguintes". Foi construída à imagem de Santa Sofia de Constantinopla, mas, segundo o mesmo historiador, representava já um ponto de partida em relação ao modelo bizantino. No entanto, muito pouco resta da catedral original - foi destruída em 1240, quando os mongóis de Batu Khan arrasaram a cidade, causando a decadência desta. Entra-se no complexo através de uma torre barroca, azul-clara, e avista-se a catedral com as 13 cúpulas verdes e douradas sobre as paredes brancas, que representam Cristo e os 12 apóstolos. O interior é deslumbrante, e preserva alguns frescos originais. O mais impressionante é o da Virgem Orante, do século XI, situado por trás do altar.
Entre os elementos que subsistem da catedral original estão as ânforas vazias colocadas no interior das paredes, para melhorar a acústica. Subdividido em nove naves, o espaço interior é fragmentado e escuro. Hamilton sugere que essa estrutura, que dá um ambiente intimista ao templo, serviria para suportar as 13 cúpulas que iluminam o interior.
Do outro lado da praça está São Miguel das Cúpulas Douradas, um mosteiro em estilo barroco ucraniano, que foi duas vezes destruído na sua história. O edifício original, da Idade Média, também foi destruído pela invasão mongol. Reconstruído no século XVIII, o mosteiro foi depois demolido na era soviética para dar lugar à sede do governo da República Socialista da Ucrânia, nos anos 1930. O complexo soviético só foi parcialmente construído - é agora ocupado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano - e o templo seria reconstruído no princípio deste século. O mosteiro reconstruído, todo ele em tons de azul-claro e com cúpulas cintilantes, tem à entrada uma torre que oferece um panorama excelente da cidade.
O percurso às origens de Kiev fica completo se descermos de São Miguel até ao Podil, um bairro comercial nas margens do rio. Pode-se ir pelo funicular e sai-se em frente à bela Igreja da Natividade. Hoje em dia é a alternativa à Descida de Santo André, uma das ruas mais interessantes da cidade, onde se ergue outra magnífica igreja barroca, que também se chama Santo André, e domina todo este lado da cidade. Igualmente em tom azul-claro, a igreja foi encomendada pela imperatriz Isabel, em 1744, e o projecto é de um arquitecto italiano, Bartolomeo Rastrelli. Na descida há galerias de arte e um mercado de rua onde é possível comprar souvenirs como antigas bandeiras ou bonés militares soviéticos. Mas a rua está interrompida e é impossível não só visitar a igreja como seguir até ao Podil, que é um bairro singular, de prédios baixos, com lojas e cafés simpáticos, que parece ter ficado esquecido deste lado da cidade. É, no entanto, uma das partes mais antigas de Kiev, que originalmente era constituída pela colina onde fica Santa Sofia e por este bairro, onde ainda hoje existem inúmeros embarcadouros.
Falta o mosteiro do Lavra para ficar com o retrato da Kiev que não se pode perder. Como em todos os mosteiros ortodoxos, a porta de entrada é monumental e, neste caso, excepcionalmente bela. Lá dentro, um complexo gigantesco, do qual se destacam a Catedral do Dormitium (reconstruída em 2001), a torre sineira, as grutas e a igreja do refeitório. Não se pode entrar na primeira - uma situação muito frequente nas igrejas ortodoxas - e as grutas do mosteiro também estavam fechadas. Passei ao lado de uma das mais extraordinárias iconóstases (ícones que estão no altar que separa as naves do santuário, onde só o padre pode entrar) da capital. Construído no século XI, o Dormitium foi destruído por três vezes, a última das quais durante a II Guerra Mundial. Desforrei-me com a torre barroca e um pequeno, mas muito interessante, concerto de carrilhão.
Uma polifonia percorre o céu cinzento do fim de tarde que precede a minha despedida de Kyiv. É o momento em que fechamos os olhos e deixamos os sinos conduzirem-nos até The Great Gate of Kiev, uma das peças de Quadros numa Exposição, de Mussorgsky, que ilustra uma porta projectada para a cidade que nunca foi construída. De novo a cidade imaginária. E Kiev é de facto a porta para um país, o ponto onde a língua ucraniana e a língua russa mais se confundem: uma fronteira dentro de um país cujo nome deriva de "fronteira", em eslavo.
Sentado no espaço para os peregrinos deixo-me ficar a ouvir a missa. Toda a gente está de pé, surpreende a intensidade dos coros, fica-se com a ideia de um culto mais cru do que o católico. Pormenor: as confissões são feitas em público, na igreja, ainda que não à hora da missa.
Cheguei imaginando uma cidade agreste e encontrei uma cidade aberta, amável apesar do gigantismo, tapada pelas colinas onde se foi escrevendo uma história essa sim agreste - a de uma cidade que foi o primeiro centro de uma civilização e que, depois de destruída pelos mongóis, só recuperou a sua autonomia com a independência, em 1991. As catedrais e mosteiros ortodoxos são a marca maior dessa identidade fundadora que Kiev reclama para si, como legitimação, aliás, de uma independência que começou a ser projectada, nos moldes actuais, em pleno século XIX. Apesar da rivalidade entre as igrejas ortodoxa ucraniana e russa, não são as igrejas que vincam as diferenças entre a Ucrânia e a Rússia. O barroco, um dos estilos dominantes na cidade, é comum às catedrais ucranianas ou ao Palácio Mariinsky ou à igreja de Santo André, dois marcos deixados pelos czares da dinastia Romanov nesta cidade que foi a terceira tanto da Rússia imperial e da União Soviética, a seguir a Moscovo e a São Petersburgo (ou Leninegrado).
O traço mais forte da era soviética acaba por ser a enorme (102 metros de altura) estátua da Mãe Pátria, dedicada às vítimas da Grande Guerra Patriótica (foto ao lado). Na Ucrânia, as figuras femininas costumam ser as mais importantes nestes monumentos, nos quais há sempre uma chama acesa. Feios e brutais, esses monumentos impõem-se ao nosso olhar como a evidência da brutalidade inexplicável do conflito.
Muitas vezes ocupada e destruída, Kiev é uma cidade que nunca foi apagada. É o que sentimos percorrendo templos e edifícios sucessivamente arrasados por guerras e depois reconstruídos. A memória desta cidade fundadora é fluída. E uma das chaves para a compreender é decifrar e preencher os vazios dessas sequências de destruição e reedificação, que são a marca de cultura resiliente e de um povo de sobreviventes às fronteiras da geografia e às fronteiras da história.
Estádio Olímpico de Kiev
Capacidade: 70.050 lugares
Capacidade no Euro 2012: 60.000 lugares
Número de jogos: 5
Jogos
Grupo D
11 de Junho: Ucrânia-Suécia
15 de Junho: Suécia-Inglaterra
19 de Junho: Suécia-França
Quartos-de-final 4
24 de Junho: 1.º Grupo D-2.º Grupo C
Final
1 de Julho
É o maior dos oito estádios que vão receber jogos do Euro 2012, sendo, por isso, o local da final. Na Europa de Leste, só o estádio Luzhniki (Moscovo) é maior. Construído em 1923, este recinto foi renovado para receber esta competição, numa obra que custou cerca de 400 milhões de euros.
Guia prático
Como ir
A TAP voa para Kiev às sextas, domingos e terças-feiras e os preços para o início de Junho rondam os 335 ou 375 euros, ida e volta. De Kiev pode voar com a Ukraine International Airlines para Kharkiv por cerca de 127 euros (sem taxas), para Lviv por cerca de 104 euros (sem taxas) ou para Donetsk por perto de 122 euros (sem taxas). Há também ligações internas entre as cidades ucranianas que não obrigam a passar pela capital, mas tendem a ser mais caras.
As viagens de avião entre Kiev e as três outras cidades demoram em média uma hora.
Prevê-se que os novos terminais já estejam operacionais nas quatro cidades ucranianas. O mais atrasado, quando estivemos no país, era o de Kiev. Entre as cidades onde Portugal jogará no âmbito do grupo B, Lviv já estava semi-operacional e Kharkiv plenamente operacional. Em Donetsk, o terminal pago pelo presidente do Shakhtar, Rhinat Akhmetov, está pronto mas só abre a 28 de Maio.
Outros transportes
É possível viajar de comboio dentro da Ucrânia, mas é preciso ter em conta que as distâncias são grandes e as ligações longas. O comboio demora seis horas e meia a ligar Kiev a Lviv (quatro ligações diárias, preços entre as 540 hrvinas, em primeira classe, e 75, em terceira) e seis a ligar a capital a Kharkiov (quatro ligações diárias e duas à noite). A ligação ferroviária para Donetsk dura cerca de cinco horas e meia. Não recomendamos a terceira classe.
Também se pode viajar de autocarro, que sai do próprio aeroporto de Borsipol, pelo menos com destino a Kharkov.
Se pensar em alugar um carro prepare-se para um regresso ao passado e a estradas parecidas com as portuguesas dos anos 1970, com bastantes buracos. Em geral, os ucranianos gostam de guiar depressa.
Em Kiev e Kharkiv não hesite em usar o metro, apesar das dificuldades que decorrem da pouca informação em alfabeto cirílico. Cada viagem custa duas hrvinas (mais ou menos dois cêntimos contra 1,25 euros em Lisboa...) nas duas cidades. Os autocarros também custam duas hrvinas e são outra opção.
Os táxis são o transporte mais selvagem do país. É preciso regatear preços (ofereça um quarto do valor proposto) e não embarque em qualquer veículo. Há muitos táxis clandestinos. Uma regra que aprendi antes de ir: se transportar malas no porta-bagagem nunca saia do veículo antes do táxi. Há o risco de este arrancar com as malas, tornando inútil o esforço feito para regatear o preço da corrida...
Onde ficar
É possível encontrar alojamento em hotéis de quatro estrelas nas quatro cidades do Euro 2012 a partir dos 50 euros/dia, mas desconfie dos preços demasiado tentadores. Evite os hotéis de três estrelas, que no geral estão longe de ser satisfatórios. Quatro estrelas é o mínimo olímpico, mas dá garantias. Houve notícias de que alguns hotéis iriam aumentar significativamente os preços durante as semanas do Euro, o que levou o Governo e a UEFA a ameaçarem tomar medidas para regular a oferta. Os preços médios que referimos são desta semana, mas se fizer reservas para o mês do Eeuro pode ser que encontre valores mais elevados.
A oferta de hotéis aumentou em todaos as cidades. Se quiser fazer algumas experiências topo de gama, em Kiev recomendamos o Premier Palace, na avenida principal (Tarasa Shevchenka Blvd, 5; Tel.: +044 537 4500; www.premier-palace.com) e, sobretudo, o Hyatt, admiravelmente localizado na colina da catedral de Santa Sofia (Ally Tarasovoi St, 5; Tel.: +044 581 1234; kiev.regency.hyatt.com). Em Donetsk há uma oferta crescente, destacando-se o Shakhtar (Germana Titova Ave., 15) e o Victoria (14 A Mira Avenue), ambos ao pé do Donbass Arena, mas o must da cidade é o clássico Donbass Palace (80, Artyoma Street, Tel.: +38 062 343 43 33; www.donbasspalace.com). Em Lviv, há bastantes hotéis no centro histórico, destacando-se uma nova unidade, o Leonidas. Em Kharkiv, há o Kharkov, um clássico (7 Svobody Square), e o Kharkiv Palace Premier (2, Pravdy Avenue, Tel.: +38 (057) 766 44 45; www.kharkiv-palace.com).
Também é possível alugar apartamentos. Em alguns hotéis, prepare-se para voltar a viver experiências nostálgicas, como por exemplo, como quartos sem chaves magnéticas.
Trocar dinheiro
Uma hrvina vale 0,09 euros e a maneira mais rápida, ainda que aproximada, de fazer os câmbios, é dividir o valor em hrvinas por dez. Trocar dinheiro é fácil, a qualquer horas. Banco, hotéis, lojas e casas de câmbio são opções disponíveis em qualquer uma destas cidades. Tenha atenção às taxas de câmbio, mas não encontrámos grandes discrepâncias.
Comer
A gastronomia ucraniana é interessante, muito à base de sopas, vegetais e legumes. Os ucranianos tomam um pequeno- -almoço substancial e costumam jantar cedo, mas a maioria dos restaurantes serve refeições a qualquer hora, o que é muito prático. As opções são muito variadas e os preços em conta para as bolsas portuguesas. É possível comer por cinco euros nos cafés, que servem refeições ligeiras, ou em buffets onde é possível experimentar muitos pratos diferentes. Nos restaurantes, é possível comer bem por preços entre os dez a 20 euros. As ementas costumam estar em inglês e russo ou ucraniano.
Falar
Os ucranianos falam ucraniano na parte ocidental e russo na parte oriental, mas é provável que não perceba as diferenças. Falam pouco inglês e isso é um problema, sobretudo nas parte oriental do país. É fácil contratar guias ou intérpretes através da Internet. Há muito poucas indicações em inglês nas cidades e mesmo as ruas muitas vezes só estão assinaladas em cirílico, mas é possível que a situação melhore para o euro.
Apoio aos adeptos
Todas as cidades têm zonas para apoio aos adeptos, devidamente assinaladas, e milhares de voluntários para apoiar, além de linhas telefónicas especiais.