Registam momentos, pessoas, edifícios, ruas e pormenores arquitectónicos e transformam-nos em verdadeiros diários da cidade, sob a forma de grafismos, seja num pedaço de guardanapo ou em cadernos. Não têm regras rígidas nem técnicas específicas. Aliás, a única regra é desenhar sem preocupações de traços perfeitos, sem medo de não saber desenhar.
O objectivo é registar a paisagem como os nossos olhos a vêem e as nossas mãos a desenham. E o jeito? "Ganha-se com a prática e observando os outros a desenhar", garante Till Lassmann, um ilustrador alemão convidado a participar no Comic Transfer, projecto organizado pelos institutos alemães Goethe sediados em Portugal, Espanha, França, Itália e Bélgica. O projecto desafia artistas de vários países a descobrir uma cidade estrangeira e a partilharem as suas impressões num blogue e com artistas da cidade que estão a visitar.
A Cidade Vista Pelos Teus Olhos dá o mote a este intercâmbio unido pela banda desenhada, que congrega artistas portugueses, espanhóis, francesas, belgas, alemães e libaneses. Para acompanhar o artista alemão, que trabalha também a ilustrar festas de casamento e de empresas, dentro e fora da Alemanha, a sede portuguesa do instituto Goethe, em Lisboa, convidou Ricardo Cabral, autor dos livros Evereste, Israel Sketchbook, Newborn - 10 dias no Kosovo, Pontas Soltas-Cidades e de ilustrações de livros e marcas nacionais, tendo já colaborado com vários jornais e revistas portuguesas.
Dois artistas, dois pontos de vista
Depois de Ricardo ter estado duas semanas em Berlim e em Hamburgo, terra natal de Till, coube ao ilustrador alemão vir a Portugal conhecer duas das cidades mais admiradas pela sua arquitectura e beleza histórica: Porto e Lisboa.
E é em Lisboa que os acompanhamos, numa sessão de desenho pela zona do Jardim do Torel e do Campo Mártires da Pátria. O dia, que se previa chuvoso, acabou por se revelar complacente com o grupo heterogéneo de apaixonados por ilustração que se juntou ao passeio, num pequeno workshop de diário gráfico.
A primeira paragem é a fonte junto à entrada do Jardim do Torel. Um a um, todos se colocam no contorno da fonte e durante cinco minutos - nem mais, nem menos - desenham a estátua de um corpo feminino no centro da fonte, da autoria de Viana da Mota. Repetem o processo, duas vezes, também em cinco minutos, deslocando-se em círculo para diferentes posições e perspectivas.
Descemos até ao miradouro do Torel. À nossa esquerda, a Avenida da Liberdade, à nossa frente o próximo desafio: desenhar a paisagem em conjunto, dividindo o horizonte em linhas verticais, partilhadas e completadas pela caneta ao lado. As cores dos prédios vistas de uma das sete colinas lisboetas começam a dar cor aos cadernos de duas raparigas, estudantes do 1.º ano na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. As aguarelas, mesmo em cores suaves, aquecem o branco. Ricardo Cabral prefere tirar fotografias aos espaços que delineia e colorir os desenhos depois. Till diz que costuma pintar no momento que segue o esboço, mas depois de ter desenhado com Ricardo pensa adoptar também o seu método.