Fugas - viagens

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O trilho que abraça Gales

É também nesta área, mas já no vizinho Cowny County Borough, que o viandante depara, subitamente, com uma das visões mais dramáticas e infinitamente misteriosas ao longo do percurso, o promontório rochoso de Great Orme, motivo de inúmeras especulações que dividem arqueólogos e historiadores.

Orme é uma antiga palavra de origem viking que significa serpentear ou serpente do mar, a forma que o rochedo tinha aos olhos dos invasores quando aqui chegaram nos seus barcos, muitos anos depois de terem sido construídas no local as mais extensas minas pré-históricas do mundo. Descobertas em 1987 e ainda hoje alvo de trabalhos de investigação, as minas de cobre remontam à Idade do Bronze, uns dois mil anos antes da ocupação romana, da qual também há vestígios mais ou menos dissimulados entre a paisagem.

Partindo de Llandudno, cidade considerada a rainha dos resorts galeses e que ainda hoje mantém muita da grandeza que lhe proporcionou fama no século XIX, um antigo eléctrico (também se pode utilizar o teleférico), de um azul-vivo, rasga o cenário verde e conduz os turistas ao topo do promontório (com um comprimento superior a três quilómetros) de onde se obtém, num dia de boa visibilidade, uma panorâmica soberba sobre o mar da Irlanda, a ilha de Man e Snowdonia, o primeiro (de três) parque nacional a ser reconhecido em todo o país (em 1951).

Errando pelos trilhos que riscam a Great Orme, aqui e acolá despontam monumentos do período Neolítico, uma impressionante cornucópia de flores sobre a qual esvoaçam borboletas de múltiplas cores (algumas subespécies apenas podem ser encontradas aqui) e pássaros marinhos num alegre chilreio, bem como, numa área próxima, uma razoável população de cabras selvagens de Cachemira — descendentes de um rebanho em tempos oferecido a George IV. 

Llandudno (Llan significa igreja, literalmente a igreja de São Dudno, um missionário que no século VI viveu numa gruta próxima da actual capela, construída mais tarde, no século XII) é uma cidade serena e orgulhosa do seu estatuto de luxo conquistado em tempos vitorianos e, ao mesmo tempo, virada para o futuro e para as artes — a abertura do centro Venue Cymru, com um teatro com capacidade para 1500 pessoas, contribuiu decisivamente para estimular a vida cultural, sempre associada à exibição de Punch and Judy, um teatro de marionetas que anima o passeio marítimo da cidade desde a década de 60 do século XIX, quando Richard Codman aqui chegou, vindo de Liverpool.

Os encantos de Anglesey

Quem não se sentir atraído por Llandudno, segue em frente — e talvez não. Dada a sua proximidade, a ilha de Anglesey seduz o viajante a fazer um desvio no trilho, atravessando a ponte suspensa de Menai, sobre o estreito com o mesmo nome, antes de pisar o solo da maior ilha de Inglaterra e Gales, com a maior concentração, neste último, de lugares antigos e pré-históricos.

Sagrada para os celtas e a última a cair nas mãos dos romanos, Anglesey é vista por muitos galeses como o verdadeiro coração do país, a “Môn mam Cymru”, a “mãe de Gales”, como já era citada, no século XII, por Gerald of Wales. A ilha abriga, em Beaumaris, o último dos grandes castelos mandados construir por Eduardo I no Norte do país — que é também o maior, considerado tecnicamente como o mais perfeito do Reino Unido e justamente na lista de Património da UNESCO. 

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