Fugas - viagens

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O trilho que abraça Gales

País pobre durante muitos anos, Gales é rico na sua forma de receber, com um povo generoso, com sentido de humor, hospitaleiro. Charlotte Baston e Paul Owens são apenas dois exemplos, sempre receptivos a parar para mais uma fotografia, mais um cenário que está fora do radar do turista, até mesmo para me levar ao meu destino se eu tivesse um destino.

Sem um plano, perscrutei territórios de sonho, a natureza envolta nos seus silêncios e nos seus ruídos, escutei o marulho das águas do rio Teifi sob a ponte de Cenarth, que aqui se ergue desde o século XII (a actual data de finais do século XVIII) e, mal senti vontade, como uma saudade do cheiro do mar, regressei à costa, a Fishguard, antes de penetrar no famoso trilho do condado de Pembrokeshire, no coração do Pembrokeshire Coast National Park, que ocupa um terço do país e é o único parque costeiro britânico já definido, não me recordo onde e por quem, como um lugar que preenche o imaginário de milhares, muito semelhante ao que seria o mundo se Deus fosse um professor de geologia.

A pequena St. Davids

Praias de areias finas, beijadas pelas águas azuis do mar e encimadas por penhascos de um verde viçoso, vão pontuando a paisagem, até que se avista Saint Davids Head, um quadro perfeito e sonhador, na antecâmara da chegada à própria cidade, a mais pequena da Grã-Bretanha e com uma catedral (do século XII) de proporções inusitadas não fosse Saint Davids o local mais sagrado de todo o país, do nascimento e da morte do santo padroeiro nacional e de peregrinação há mais de 1500 anos.

Dewi Sant (Saint David) aqui fundou uma comunidade monástica no século VI, não muito longe do lugar onde nasceu, um pouco mais a sul, em St. Non’s Bay e, reza a história, em 1124, o Papa Calixtus II declarou que duas peregrinações a St. Davids eram equivalentes a uma a Roma — e três a uma a Jerusalém.

A despeito do grande número de turistas que a visitam, St. Davids permanece como uma cidade tranquila, base ideal para apaixonados pelo montanhismo, pelo surf e pela observação da vida animal, componentes fáceis de conjugar a curta distância do centro da cidade — complicado é perceber o estatuto e situar o centro.

No silêncio que emana da catedral, gosto de ouvir o sussurro produzido pela corrente que a refresca, a água deslizando por pedras polidas pelo tempo, de reler a sua história, desde a época em que foi erguida (entre os séculos XII e XIV) no lugar onde antigamente repousava uma capela do século VI até aos trabalhos de estabilização, já no século XIX, levados a cabo por Sir George Gilbert Scott, arquitecto responsável pelo Albert Memorial e St. Pancras, ambos em Londres. 

Na linha do horizonte, caminhando sempre para sul, estendem-se as ilhas de Skomer, Skokholm e Grassholm, ao fundo da baía de St. Brides, território habitado por meio milhão de pássaros marinhos, como araus, papagaios-do-mar e outras espécies, como uma forte colónia de pelicanos, uma das maiores em todo o hemisfério Norte, na última das três ilhas, a uns escassos 15 quilómetros da costa galesa.  

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