Fugas - Viagens

Miguel Madeira

A caminho do Natal

Por Andreia Marques Pereira

Se o Outono já está aí, significa que o Natal não está longe. Em muitos locais da Europa central e do Norte há mesmo quem o antecipe com os mercados de Natal a partir do final de Novembro.

Se calhar associamo-los mais ao Inverno, mas na verdade, oficialmente, ocupam mais do Outono – o final de Outono a empurrar para Inverno e a antecipar a época das festas. A tradição é incipiente entre nós, mas os mercados de Natal iluminam a Europa (sobretudo a central e do norte) a partir de finais de Novembro (muitas vezes da sexta-feira antes do Advento, este ano a 27) e transformam as cidades, grandes e pequenas, em cenários que parecem saídos de um livro de encantar.

Na verdade, as cidades maiores não têm apenas um, têm vários mercados de natal e há muitos pontos em comum entre todos. Desde logo, as barracas de madeira, em praças e jardins – onde há uma catedral, há mercado, muitos vezes desde há muitos séculos, tantos que o gótico era o estilo arquitectónico contemporâneo –, alinhadas ou construindo pequenos labirintos, iluminadas como se fossem árvores de natal e animadas por bandas sonoras que vão desde os standards norte-americanos da época, às músicas tradicionais locais e até ao canto gregoriano – em Salzburgo, por exemplo, onde nasceu o compositor de “Noite Feliz”, Joseph Mohr, todas as noites o adro da catedral é palco de um coro que canta indiferente ao frio e à neve, como indiferente está a multidão que se deixa embalar no espírito natalício. E no vinho quente que é presença obrigatória: chame-se glühwein, gløgg, vin chaud ou hot wine, o vinho é aquecido com uma dose confortável de especiarias que faz milagres em temperaturas menos agradáveis (e, na verdade, agora há uma série de bebidas que se “aquecem” para estas ocasiões, como o Aperol, por exemplo).

Nas bancas das barracas o que se vê também não varia muito, esteja-se em Praga ou Colónia: peças de decoração natalícias, artesanato variado e em vários materiais (de vidro a couro), produtos esotéricos, brinquedos de madeira, muitos doces tradicionais onde o gengibre é indispensável e o glaceado comum, petiscos em abundância, sobretudo salsichas grelhadas. As diferenças estão no modo como cada um reflecte a sua própria cultura local e, por exemplo, se Salzburgo tem krampus, os tais “demónios”, Roma tem as befanas, bruxas boas, Dresden tem stollen (um bolo de frutas de 4,5 kg que daqui se fez tradição em todos os mercados de Natal alemães), Copenhaga tem nisses, duendes maliciosos.

Estrasburgo auto-intitula-se de “capital do Natal”, Copenhaga veste os seus Jardins do Tivoli sob a batuta do designer da joalharia Tiffany, os países bálticos começam a dar os seus primeiros passos nestas andanças onde a Alemanha, o Reino Unido e a França levam a dianteira. De qualquer forma, viajar para qualquer país da Europa central e do Norte no final de Novembro início de Dezembro – e, voltemos a recordar, continuamos no Outono – é garantia de encontros imediatos com um espírito natalício feito de convivialidade, música, comida, bebida, de certa forma, um mundo protegido do frenesim consumista.

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