Fugas - dicas dos leitores

Jaipur, uma valsa nos céus

Por Rute Camacho

Quando a conversa é voar de balão, as opiniões dividem-se: "Ah, já fiz, está feito" ou "Quero mais!". Descobri que me identifico com estes. Depois do excitante baptismo sobre a savana do Serengeti, não hesitei em repetir a experiência na Índia.

De madrugada, atravessamos as ruas de Jaipur, com destino a Amer. Paramos junto a uma clareira, onde jazem dois gigantescos farrapos coloridos à espera do sopro quente da vida.

O nosso motorista dos céus recebe-nos com um grande sorriso. Chama-se Fernando, é de Barcelona e está encantado por ter dos hermanas a bordo. Os restantes três passageiros são, sem surpresa, americanos reformados. Felizmente, desta vez, fomos dispensadas dos tradicionais oh my god!

Depois de um aromático e reconfortante chai, partimos, deslizando ao sabor suave do vento. A neblina peganhenta que nos envolve turva um pouco a visão, mas ainda distingo duas galinholas e um veado correndo entre montes e vales pouco profundos, de vegetação quase desértica. O silêncio tranquilo e embalador, apenas interrompido pelo atiçar das chamas, compensa a falta de espectacularidade da paisagem.

Então, Fernando solta uma expressão animada, quando se apercebe que o vento hoje está generoso e nos conduz mesmo por cima do magnífico Forte de Amer, cujas imponentes muralhas abraçam um lago artificial. Já não me lembro quanto tempo voámos. Sabe sempre a pouco. Lentamente, o nosso balão vai descendo.

Fernando mudou-se para Jaipur com a família há dois anos e, desde então, faz este percurso duas vezes por dia, sempre que as condições atmosféricas o permitem. A sua experiência diz-lhe que é sempre preferível aterrar antes de sobrevoar a cidade. Desta vez, está a apontar para um terreno baldio com aspecto de campo de futebol da liga dos últimos.

Chegados a terra firme, aplaudimos e aguardamos autorização para sair da caixinha. Esperamos que o ajudante de Fernando vá pedir a alguém que abra o portão do campo, cujos muros têm mais de dois metros de altura.

Ali perto, quatro homens sikh, de tronco nu e turbante na cabeça, estão a jogar vólei. À nossa volta começa a juntar-se um grupo de crianças sujas e maltrapilhas. A sua expressão é de medo e curiosidade. Não sei porquê, mas lembram-me hienas vigiando uma presa que já tem dono.

O ajudante regressa com a notícia de que o portão não se abre. Toda aquela gente deve ter saltado o muro. A Fernando não resta alternativa: voltar a pôr o balão no ar, mas apenas o suficiente para que ele salte o muro sem voltar a ganhar os céus. E isso requer preparação.

Os jogadores de vólei continuam alheios à nossa presença, como se fosse natural um balão daquele tamanho estar ali àquela hora. Já os miúdos vão ganhando confiança. Rendidos ao sorriso da minha amiga e ao feitiço da sua máquina fotográfica, metem conversa, fazem poses e macacadas à nossa volta. E, finalmente, ajudam a içar o balão por cima do muro para fora do campo, onde a aventura termina.

Até à próxima. Não. Até às próximas!

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