Fugas - dicas dos leitores

Chichen Itza

Chichen Itza Adriano Miranda

México: O Mayasutra

Por Jorge Forreta

Demasiado tempo no check-in até que o Simão abriu a goela e nos tornaram prioritários. Umas voltas pelo freeshop, tempo para o pequeno-almoço reforçado, constato com prazer que, em Portugal, o nível de vida é alto, em Estocolmo paguei mais barato. Sala de embarque, o Vasco já dorme, o Simão, vidrado nos aviões que descolam.

- Avião, avião, anda cá!
Mais espera, e a ordem da torre. O Airbus faz-se à pista, já leva uma hora de atraso.
- Papá, papá, México!

Chichen Itzá. Os maias criam que a Terra se assemelhava a uma plataforma que vagueava num imenso oceano (onde já li isto?), com riscos e bolas já detinham o sistema vigesimal e, portanto, já conheciam o vinte a matemática, contavam 365 dias e, mais sagazes e sem sindicatos, dezoito meses, dezoito salários – talvez pela insustentabilidade, os espanhóis tenham intervindo. Como amigos, claro.

"El Castillo", a imponente pirâmide quadrangular em honra de Quetzalcóatl, domina o zócalo, guardião das vozes e segredos toltecas.

Para oeste, contíguo ao Templo dos Jaguares, a imensidão de "pok to pok", o "juego da pelota" onde literalmente se jogava a cabeça dos que perdiam: por sorte, que a religião presenteia os crentes com miminhos, assegurava-se uma vida nova, estilo prémio de consolação. No extremo oposto, os "baños de vapor", com qualidades terapêuticas, pudera, iam lá os vitoriosos aliviar aquela estranha tensão muscular no pescoço...

Verdade que é preciso correr mundo, mas há mais beleza natural além da Sandra! Os xenotes são poços naturais aonde se acede por escadas espiraladas, uma torre invertida da Regaleira em que, dos nove círculos, resta o Paraíso e se existe cruz templária, as águas turquesa e os pequenos peixes, de seda, negros, que vagueiam à superfície, dissimulam-na melhor que Manini o fez com o(s) Milhões. Do tecto, pendem estalactites e as finas raízes das árvores que, desde trinta metros acima, atravessam toda a galeria.

No extenso areal, com tela de coqueiros e palmeiras, cabe tudo: chapéus de colmo e espreguiçadeiras na água, bares de praia, tequila Viuda de Romero – sim, capaz de ter morrido disso – e ingleses de Corona na mão, que de manhã se começa o dia, totopos com guacamole, tostadas e tortillas com chile jalapeño e, à frente, um asterisco com cinco malaguetas dá para pendurar a camisa, ritmos latinos, disco, mariachis e concheras, onde há areia há barulho e animação e onde há rocha só dá iguana. O Simão e o Vasco debruçados nos lagartos, a Sandra mantendo a distância de segurança, leia-se, do outro lado da praia (onde estavam outros, mas não interessa)...

O Simão:
- Crocodilo, dança!
E o Vasco, fanático da limpeza:
- Papá, a "liguana" está suja! Anda, "liguana", anda, vem tomar banho!

Quem nunca o fez, atire a primeira pedra e o meu Simocas foi mesmo o primeiro a aliviar a bexiga nas águas tépidas do Mar das Caraíbas! Talvez por isso, Chaac, o deus da chuva e dos raios, não nos esqueceu. Confinados aos comes e bebes do hotel, o Simão e o Vasco - Zapata e Pancho Villa - também não e, sem praia, mostraram-se inigualáveis a azucrinar-nos a massa cinzenta!


- Um quilo de paciência! - tranquilizou-me o António, com uma pancada no dorso.
- Não, é mais um grama de paracetamol...

Adorámos, para a próxima vamos sozinhos, comprei um chapéu para ir ao mexicano de Algés, pago em dólares que não querem pesos na mão, meia dúzia de livros e o Mayasutra - visto e praticado, dai maya? - com graus de dificuldade e tudo, algumas com os pés no chão, vira o disco e toca o mesmo, ideias também eu tenho, receio é partir o resto!

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