Marraquexe é a cidade privilegiada para derivas urbanas. Falamos da medina, das ruas, recantos e vielas onde é fácil ao caminhante viver um movimento improvável — é sair do local de residência, enfrentar a rua, e avançar, perdendo-se.
O Jardim Majorelle, obra de Jacques Majorelle (1886-1962), pintor que chega a Marraquexe em 1917 depois de uma curta estância em Casablanca, merece a nossa visita. Apaixonado por África e Marrocos, irá construir um jardim, com casa e atelier (com traço do arquitecto Paul Sinoir) que tornará sua residência permanente. A casa-atelier abriga nos nossos dias o Museu Berbere, com a colecção reunida por Pierre Bergé e Yves Saint Laurent, que adquiriu a propriedade e lá residiu.
Num dos hammams da cidade, em visita única, foi possível desfrutar de uma sensação de plenitude clara — o corpo deitado e relaxado nas pedras, a água que caía para o retemperar da violência da humidade iludia o cansaço do mundo.
O dia de regresso a Lisboa aproximava-se e não podíamos partir sem uma excursão ao Alto Atlas. Dirigimo-nos a Ouhka, pequena povoação na vertente norte, onde saboreámos uma óptima tajine. Dos terraços, sentia-se a presença das montanhas próximas, altas, agrestes e nevadas, silenciosas.
O dia da partida chegou. Depois de um ligeiro sobressalto (o voo para Casablanca foi substituído por uma viagem em minibus), a estrada levou-nos de regresso.