E a Barreta/Deserta (N 36º 57" 51.21"" , W 7º 52" 42.55"" ) ali ao lado. Seria completamente deserta se não houvesse um restaurante - afamado, por sinal - e um habitante lendário, o senhor Alves, o único resistente. Conseguiu uma permissão especial para continuar a viver ali, na costa norte da ilha, numa das casinhas de madeira junto ao restaurante. Não o conseguimos encontrar - aqui algumas lanchas flutuam à beira da areia e os tripulantes apanham sol em metros e metros de areia livre.
Avistamos mariscadores enterrados no lodo, por cima passam constantemente as "aves mais comuns aqui, os aviões", ironiza Jaime Pinho, mas é a garça-branca-pequena que se impõe, elegante, ao aterrar. Zona Húmida de Interesse internacional, este é um local obrigatório de migração de aves, da África e da Europa, que aqui passam os invernos, tornando-a um paraíso debirdwatching - entre visitantes e locais, estão catalogadas 214 espécies. O que se vê menos são os cavalos-marinhos, que aqui têm a sua maior concentração do mundo, mas em decréscimo acentuado: restarão menos de 300 mil e nós não vemos um sequer. Tão-pouco nos cruzamos com um camaleão, outros dos habitantes exóticos das ilhas.
A ilha aqui tão perto e nós a esperar o ferry. É de curta duração a viagem até à ilha de Tavira (N 37º 5" 40.64"" ,W 7º 39" 12.37""), onde encontramos o já habitual "corredor" de cimento. Entra no pinhal para logo passar entre restaurantes - os edifícios de um lado, as esplanadas do outro, o marisco vivo em exposição e os veraneantes em filas para o areal - que acabam virados para as dunas, o mar a brilhar. Antes, o parque de campismo, poucas casas entre as árvores e uma série de vendedores de artesanato que recordam a fama de ilha de hippies e freaks - em Espanha chamam-lhes perro y flauta e a verdade é que há cães, guitarras, djambés.
O habitual passadiço de madeira transpõe as dunas até à praia - galardoada pela Quercus pelo "melhor concessionário" de 2013. O areal é extenso até perder de vista, mas aqui há balizas de futebol, redes de voleibol e chapéus-de-sol de colmo - as línguas mais ouvidas são o inglês e o espanhol e, por isso, num peditório do IPO, somos abordados na primeira. Mas é em português que nos falam maravilhas da praia e da surpresa com os preços. "Sempre pensámos que o Algarve fosse muito caro, só para ricos", dizem Natália e Licínio. Esta é a segunda vez que o casal emigrante em Paris aqui vem e é para continuar. O filho, Alex, é o mais entusiasmado e já não quer ouvir falar das praias do centro, de onde a família é originária: "Nunca é tão bom lá em cima. Há vento e muitas ondas."
Da Praia de Tavira para poente sucedem-se três praias. Terra Estreita, Barril e Homem Nu (é tão isolada que as práticas naturistas são frequentes). É ao Barril (N37º 05" 11.0" W7º 39" 45.0") que nos aconselham a ir, visitar o cemitério de âncoras. "Mas não podem ir a caminhar", avisa o empregado do restaurante, "são seis quilómetros e está muito sol". A solução é conduzir até ao aldeamento Pedras d'el Rei e daí passar para a praia, a pé ou de comboio - antes de tudo, uma ponte de madeira, quase rés-do-chão com a ria, que aqui parece um canal, apenas. O cemitério de âncoras está escondido por uma espécie de mini-aldeamento (lojas, cafés) em edifícios alvos, na duna mesmo sobre a praia, toldos e espreguiçadeiras azuis.