Fugas - restaurantes e bares

Nelson Garrido

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À grande e à espanhola


Do presunto para o foie gras

De Guijuelo para Palencia só muito de vez em quando o campo é pontuado por casas. Em Villamartín de Campos, mais do que pessoas, em quantidade estão os lobos (134 habitantes segundo os números de 2004, numa região onde o lobo ibérico está a recuperar).

Pelo menos em número suficiente para arreliar Manuel del Prado, um francês que estabeleceu nesta região a sua visão para uma produção de foie gras que não agride os patos: "O método artesanal que utilizamos para os alimentar é muito semelhante à forma como a mãe os alimenta quando são pequenos", assegura com um dos espécimes nos braços.

"De bucho cheio. Encher o bucho." A expressão só ganha o seu real significado (e peso) depois de uma visita à fábrica artesanal e restaurante Selectos de Castilla onde Manuel del Prado aproveita o pato literalmente até à língua - aliás uma iguaria muito apreciada na China para onde a empresa exporta com frequência.

Aos patos que se passeiam pelos campos, em época de embuche, empurra-se, à mão, cerca de 700 gramas de grão de milho francês pelo gargalo a cada seis horas. A nós, no estranho círculo da vida, foi o foie gras que se desfaz como manteiga na boca, mas também o mi cuit (do francês meio cozido), o presunto de pato (sim, ele existe), as muitas variedades de pâté de foie e o magret recheado de foie gras que escorregaram até ao bucho.

Diante da quinta que serve de restaurante, albergue e de ponto de venda dos vários produtos (a geleia de violeta ainda nos perfuma as memórias) está montada uma escola de equitação e um campo de horseball. "Foi a forma que arranjei de entusiasmar a minha filha para aqui ficar e trazer para cá jovens com quem ela possa estar", explica Manuel del Prado, ex-selecionador espanhol de horseball.

No final, rodeados de pato por todos os lados, pensámos no arroz e passámos a receita que despertou interesse a Maria Reutersten, esposa de Manuel del Prado e mãe para breve, que sabendo tudo do fígado deste animal desconhecia este prato tão comum em Portugal.

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