[A reportagem em Marbella: Michelin 2015, o melhor ano de sempre para Portugal]
Foi a virar hambúrgueres que Pedro Lemos recebeu a notícia da coroação da estrela Michelin para o seu restaurante na Foz Velha, no Porto. “Nem sei se hei-de rir se hei-de chorar”, disse, ao telefone, enquanto se ouvia um rugido de fundo que a circunstância fazia interpretar como o borbulhar de champanhe mas que era, afinal, o crepitar do grelhador.
A notícia caiu em cima da inauguração do Stach, um bar de sandes que esta quarta-feira abriu com a mulher na Baixa do Porto. E logo no momento de maior afluência. “Está aqui uma grande confusão e ainda nem consegui falar com a equipa e dar-lhes os parabéns”, disse ao mesmo tempo que não deixava de sublinhar a ironia: “Estou a comemorar a estrela a virar hambúrgueres”.
Sobre o reconhecimento do mais importante e influente guia gastronómico, o jovem e talentoso chef disse não estar nada à espera. “Foi mesmo uma grande e agradável surpresa, que tenho que partilhar com a minha equipa. Não sei quando, mas vamos comemorar com certeza”. Pedro Lemos associa também os clientes a este reconhecimento. “Foram eles os meus críticos, os verdadeiros avaliadores e isto vem reforçar a ideia de que tenho de me concentrar ainda mais nos clientes”.
O agora estrelado chef confidenciou que no início do ano, depois do habitual fecho para férias, o seu aconchegado restaurante vai sofrer algumas remodelações “com o objectivo de dar ainda mais atenção aos clientes”. Já estava decidido, mas isto vem reforçar a convicção de que este é o caminho certo”, sublinhou, explicando que além da sala de refeições passará a haver um espaço mais convivial e informal para degustação. “Para que os clientes possam vir e estar connosco para além das horas de refeição”.
Já Leonel Pereira reagiu à notícia de que o São Gabriel reconquistou uma estrela Michelin com total surpresa. "Não estava à espera, não estava mesmo, e estou a ser 100% sincero", disse o chef à Fugas, numa breve conversa telefónica. "Hoje em dia a estrela Michelin já não tem um sabor de vitória", confessa logo de seguida.
"No ano passado [quando, pouco depois da sua entrada, o São Gabriel perdeu a estrela, devido às mudanças de proprietário e chef] não dei explicações a ninguém e este ano também não vou falar sobre isso. Tenho 25 anos de cozinha, estou muito seguro do que faço, e estou muito seguro do trabalho que fiz aqui nos dois últimos anos". Diz mesmo que o facto de os inspectores da Michelin terem retirado a estrela ao São Gabriel no ano passado "foi muito bom" porque o obrigou a começar do zero, e o desafio tornou-se um estímulo.
Neste momento o São Gabriel está encerrado para o Inverno, mas Leonel Pereira diz que na última reunião com a sua equipa deixou preparado já em 70% o menu de degustação de 16 pratos que irá apresentar quando reabrir, a 1 de Março de 2015.
"Estou muito à vontade com o meu plano para 2015, que foi todo pensado sem a ideia da estrela", garante. "E agora não vamos alterar uma vírgula". Não tem dúvidas de que o próximo ano será "ainda melhor" do que 2014, porque se sente com "grande capacidade criativa".
E foi isso também que pediu à sua equipa: criatividade. Haverá espaço para todos apresentarem as suas ideias, afirma. "O que lhes disse foi que todos temos que ser melhores no próximo ano, trabalhar ainda mais do que neste". Uma coisa garante: "Não vou cristalizar, até porque no dia em que não conseguir criar deixo de cozinhar". E, sem revelar muito, deixa uma pista: "Pode haver novidades dentro de pouco tempo em relação ao restaurante, o que me vai deixar ainda mais à vontade para criar."
José Avilez, que marcou presença em Marbella, na cerimónia onde foram reveladas as estrelas para o próximo ano, disse à Fugas que não esperava para tão cedo a segunda estrela para o Belcanto, mas que é um prémio também muito importante para ao país e para a cidade de Lisboa.
“É claro que trabalhamos todos os dias para melhorar mas não estava nada à espera que viesse já a segunda estrela”, disse, acrescentando que “constitui o reconhecimento para o trabalho e esforço de toda a equipa, não apenas do Belcanto mas de todos os que colaboram com os outros espaços do grupo”. Além disso, sublinhou, “esta distinção é também muito importante para o país e para a cidade de Lisboa”.
Perguntado sobre a eventualidade de uma terceira estrela, entende que essa é uma possibilidade apenas para o futuro. “Para já não quero sequer pensar nisso. É claro que trabalhamos todos os dias para ser cada vez melhores e se ou quando vier será obviamente bem-vinda.”