“A minha mãe sempre disse que os austríacos têm uma mão especial para a cozinha”, diz Joy. Curiosamente, ela, enquanto era criança, não tinha qualquer interesse, sobretudo pela alta cozinha que se fazia no Vila Joya, onde vinha passar as férias várias vezes por ano. “Não gostava de ostras, de fígado, de caviar, muitos dos produtos de luxo desse tipo de cozinha”, confessa. “Quando estava no Vila Joya comia sempre comida de crianças.”
Claudia achava que os clientes que vinham com os filhos gostavam de jantar sossegados, por isso organizava uma grande mesa, debaixo de uma árvore, para o jantar das crianças. Joy, claro, era a responsável. “Éramos sempre umas 12 ou 13 crianças, e havia sopa, um prato principal e a sobremesa. Eu não gostava de sopa — hoje adoro. Por isso, quando os empregados se afastavam eu dizia aos outros miúdos ‘Vá lá, um, dois, três, colina abaixo’. Agora temos plantas lindas nesse sítio”, diz, com uma gargalhada.
Nesses primeiros tempos, o Vila Joya era muito procurado por alemães e austríacos. “A minha mãe não gostava de trabalhar com agências ou de pertencer a grupos de hotéis. Acreditava no boca a boca e como somos alemães era mais fácil vender o hotel na Alemanha.” Hoje, Joy acredita que o Vila Joya já não tem essa imagem de “enclave alemão no Algarve”. “Eu não sou muito ligada à Alemanha, sou uma cidadã do mundo e para mim é muito importante mudar essa imagem do Vila Joya. Apostei muito em trazer clientes de outros países e em promover o Vila Joya em Portugal. Hoje já temos muitos clientes portugueses.”
Quando Koschina chegou, em 1991, Joy era já uma adolescente — e em vias de se tornar uma adolescente rebelde. “Quando era pequena gostava muito do hotel, de atender o telefone, aceitar as reservas, estava muito na cozinha com os cozinheiros ou em cima do telhado a ver as pessoas lá em baixo. Mas depois, já adolescente, era muito complicada. Provavelmente tinha alguns ciúmes do hotel porque a minha mãe empenhava-se muito nele e não tanto em mim. Por isso comecei a dizer não a tudo.”
Recentemente encontrou um artigo publicado numa revista portuguesa depois da morte da mãe, no qual o pai dizia uma coisa que “foi um pequeno choque”: “Era exactamente assim que eu me sentia.” Klaus Jung contava: “Depois tivemos um segundo filho, e para que não houvesse problemas entre eles, demos-lhe o mesmo nome, chamámos-lhe Vila Joya.” Joy ficou a pensar nisso. “Era como se eu tivesse uma irmã gémea que era mais bonita, mais sexy, melhor na escola e que fazia tudo melhor do que eu.”
Tudo isso reforçava nela a convicção de que “não queria ter nada a ver com hotelaria”. Foi então que Claudia Jung adoeceu. Tudo foi muito rápido. Nove meses depois morria. “Foi quando a minha mãe adoeceu que percebi que o Vila Joya era o meu destino. E foi o Vila Joya que me deu muita força, ia até à praia, ouvir música e receber a energia do mar. Isso ajudou-me um pouco a ultrapassar a dor que a doença dela provocava. Não falámos muito sobre o facto de ela ir morrer, mas prometi-lhe que tomaria conta do seu outro bebé.”