Há uma nova estrela no universo da restauração nacional. Rui Silvestre, com apenas 29 anos, subiu ontem ao palco das estrelas, lado a lado com apelidos tão famosos como Arzak, Roca ou Berasategui. José Avillez, Hans Neuner e Dieter Koschina, os duas estrelas de Portugal, foram os primeiros a felicitar o chef do algarvio Bon Bon e a dar-lhe as boas-vindas a um clube exclusivo, o do maior prestígio no mundo da gastronomia. O novo restaurante a exibir a estrela Michelin fica em Sesmarias, Carvoeiro, e junta-se aos cinco com estrelas já existentes na região.
A cerimónia de anúncio das novidades para o Guia Michelin 2016 teve lugar na quarta-feira à noite em Santiago de Compostela, na Galiza. Um acto ao estilo dos mais movimentados de Hollywood, com todo o aparato mediático, transmissões em directo e uma agitação que só tem paralelo com os mais solenes actos de Estado. Há, neste sentido, um poder cada vez mais visível e poderoso: o da gastronomia.
Apesar da nova conquista, Portugal mantém os 14 restaurantes com o símbolo de prestígio do mais famoso guia gastronómico, já que o L’And Vineyards, do cozinheiro Miguel Laffan, perde a estrela que tinha conquistado precisamente há um ano. O Algarve e os seus restaurantes com pronúncia internacional reforçam, assim, a hegemonia que têm mantido nos últimos anos. São agora seis os restaurantes da região a ostentar o símbolo mais ambicionado do mundo da gastronomia.
À semelhança de para Portugal, o pendor conservador dos inspectores da Michelin também não traz novidades de monta para Espanha: mantêm-se os oito restaurantes com a classificação máxima de três estrelas, há dois que sobem ao escalão intermédio das duas estrelas e 14 que são pela primeira vez distinguidos com uma estrela. Isto num universo de perto de duas centenas de restaurantes com estrelas.
Em relação ao Bon Bon, a distinção surge até numa altura em que o restaurante se encontra encerrado — fecha de Novembro ao início de Fevereiro — e desde o ano passado que circulavam rumores sobre a sua entrada para o mundo das estrelas da Michelin. “Foi mesmo uma surpresa. Falava-se também de outros e nós éramos o menos falado”, declarou o jovem chef, enquanto procurava ligar ao proprietário e aos colegas da equipa do Bon Bon para lhes dar a novidade. A primeira a saber foi a mulher; depois explica a sensação de alegria: “É quase como ter um filho. Não é bem a mesma coisa, mas é muito parecido.”
Apressado, e solicitado de um e doutro lado, para as fotografias e entrevistas da praxe, Rui Silvestre lá foi explicando que o restaurante “pratica uma cozinha de produto”. “Eu sei que soa a cliché, mas isso é o que fazemos. Muito peixe, que é o melhor que temos e estamos ali perto do mar, e uma cozinha que procura manipular o mesmo possível”, explicou ao PÚBLICO.
Apesar da pouca idade, o currículo inclui já passagens por vários restaurantes com estrelas. Dois em França, um na Suíça e ainda uma temporada na Hungria, no Costes, no intervalo das duas passagens de Miguel Rocha Vieira neste restaurante de Budapeste para o qual conquistou a estrela. No Carvoeiro, está há ano e meio, depois do desafio lançado pelo proprietário do espaço, Nuno Diogo, ao qual o liga uma amizade de longa data. O restaurante tem mais de 20 anos, mas Rui Silvestre tem um desabafo que explica o quase anonimato: “Mudámos tudo.”