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  • Omphalotus olearius, uma
espécie levemente tóxica
    Omphalotus olearius, uma espécie levemente tóxica
  • Coprinus atramentarius,
que intoxicam quando
consumidos com álcool
    Coprinus atramentarius, que intoxicam quando consumidos com álcool
  • Resalgar, tóxico
    Resalgar, tóxico

Intoxicações por cogumelos

Por Marisa Castro (Investigadora da Universidade de Vigo (Galiza)

No Outono é quando aparecem os cogumelos e são muitas as pessoas (micófilos e micogastrónomos) que saem ao monte para apanhá-los. É bem sabido que há espécies com sabores delicados e agradáveis, mas também há outras que não o são e podem causar transtornos muito graves no organismo ao ingeri-las (micetismos).

O facto de os animais poderem ter comido algumas espécies não quer dizer que sejam comestíveis pelo ser humano. Apenas há uma maneira de diferenciar as “boas” das “más”: conhecendo-as bem.  Quando uma pessoa sabe que aquele cogumelo se conhece como “rebiós ou abesó” (Amanita caesarea), está claro que não o vai confundir com o “resalgar” (Amanita muscaria) lavado pela chuva, que é tóxico e alucinogénico. Em geral, as intoxicações produzem-se mais por excesso de confiança que por ignorância. Quem não sabe nada, consulta, mas quem sabe alguma coisa, ignorando o muito que desconhece, pode enganar-se.

Também é importante dizer que nem todas as intoxicações são iguais e perigosas. Há cogumelos que causam problemas pouco tempo depois de serem ingeridos. Nestes casos, pode não ser grave. Se a pessoa vomita, liberta-se o tóxico e em qualquer centro de saúde pode ser resolvido o problema, como se passou com vários intoxicados nos últimos anos com o cogumelo das oliveiras (Omphalotus olearius) ocorridas em Bragança e Évora. Conhece-se uma intoxicação deste tipo muito curiosa. Ocorre com algumas espécies, como o Coprinus atramentarius, quando se consomem com álcool, mas desaparece sem sintomas quando se deixa de consumir álcool (pode tardar vários dias em passar).

O pior tipo de intoxicação é quando vómitos e diarreia se manifestam quatro a seis horas depois de os cogumelos serem comidos. Já se deu o caso de pessoas que comeram “falóides” ao almoço e, como lhes souberam bem, voltaram a comê-las ao jantar, antes de se manifestarem os primeiros sintomas de intoxicação. Nestes casos fala-se de intoxicações de “período longo” e aqui o problema é muito grave. No primeiro momento manifestam-se sintomas gastrointestinais durante horas, com certa violência, depois cedem e podem passar até 24 horas sem sintomas. Traição, porque os sintomas gástricos regressam de forma mais agressiva e o tóxico (amanitinas) passou ao sangue e está circulando por todo o organismo. O órgão mais afectado é o fígado, uma vez que as amanitinas, ao passarem por ele, afectam-no: quando passam à urina, atingem também os rins.

Se o intoxicado não é tratado de forma adequada pode falecer por coma hepático. Por isso, ante a mais mínima suspeita de uma intoxicação deste tipo é necessário recorrer imediatamente ao hospital. Quanto mais rapidamente se iniciar o tratamento, mais probabilidade de êxito há. E deve-se informar o médico da hora da primeira ingestão de cogumelos, levar um pedaço do cogumelo (serve cozinhado) e dar o maior número possível de informação para o poder identificar. Uma dose de 60 gramas de “falóides” chega para intoxicar gravemente a uma pessoa de 70 kg de peso.

O tratamento está baseado na manutenção dos sinais vitais (evitar a desidratação), no impedimento da absorção das toxinas por parte do organismo eliminando-as (lavagem gástrica, sonda naso-gástrica, administração de diuréticos e laxantes), além da aplicação de um protector hepático. Demostrou-se há mais de 30 anos que funciona bem a penicilina cristalizada (G sódica) em grandes doses (1 milhão de UI/hora) para um adulto. No caso de pessoas alérgicas a este medicamento, pode substituir-se por ácido tióctico ou silimarina. Não são antídotos, são simplesmente protectores dos hepatocitos. Apenas nos casos extremos, ou quando o tratamento começa demasiado tarde, é necessário o transplante de fígado. O fígado fica debilitado durante vários meses, mas trata-se de um órgão que pode recuperar-se por si só.

Com este tratamento, nas intoxicações outonais dos últimos anos na Galiza não houve mortes, ainda que, em vários casos, alguns dos afectados fossem já pessoas e de muita idade que tinham consumido Amanita phalloides ou Lepiota bunneoincarnata. Algo semelhante ao que se passou no Hospital de Bragança há cerca de quatro anos com uma família (quatro pessoas) da região: apenas uma criança precisou de ser transplantada depois de terem consumido “falóides”.

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