“Bem-vindos ao meu bairro, eu sou o presidente da Junta”. José Avillez recebe-nos, bem-disposto, no seu Bairro do Avillez, na Rua Nova da Trindade, em Lisboa. A nossa visita aconteceu uma semana antes de abrir as portas ao público, mas quase parecia que já estava em pleno funcionamento.
Pelo espaço, enorme, espalhavam-se os mais de 60 empregados (quando a equipa estiver completa serão 78) e outros funcionários do grupo José Avillez, que estavam – com bastante entusiamo, pareceu-nos – a servir de cobaias nesses dias pré-inauguração para permitir que toda a máquina começasse a rolar e estivesse devidamente oleada para a abertura. Sentavam-se nas mesas, pediam, comiam, faziam comentários, exactamente como se fossem clientes.
Avillez guiou-nos numa visita na qual apresentou também alguns dos pratos do Bairro, enquanto se mantinha atento a todos os pormenores, dava uma indicação aqui, outra ali, corrigia alguma coisa, chamava a atenção para outra. Muitos curiosos que passavam na rua espreitavam e os mais ousados eram recompensados com um convite para espreitar o novo espaço. E, como é, afinal este Bairro sobre o qual nas últimas semanas tanto se especulou?
O espaço é parte do antigo Convento da Trindade, há muito dividido e separado entre diferentes proprietários. Foi a um destes proprietários, que ali tinha casa e atelier, que os sócios de Avillez compraram o (agora) Bairro. Por isso, a estrutura continua a ter muito do convento, com os seus grandes arcos de pedra.
A entrada faz-se pela Taberna, o espaço mais informal, com uma carta de petiscos (aqui o preço médio de uma refeição será de 20 euros), com pregos, bifanas de porco ou de atum, no bolo do caco, rissóis, croquetes, “todos um bocadinho diferentes”, garante o chef. Há, por exemplo, “pipocas de couratos” ou “ceviche de tremoços”, uma forma de brincar com alguns petiscos típicos portugueses, tal como as alfacinhas de bacalhau ou de porco, servidas dentro de folhas de alface romana.
À esquerda, logo à entrada, fica a Mercearia, onde se podem comprar vários produtos portugueses, incluindo alguns do que será, no futuro, uma linha Avillez. No tecto, por cima das nossas cabeças, dançam alimentos, legumes, limões, ovos, peixes, como se tivesse acabado de haver uma explosão e eles pairassem ali, sem gravidade – é uma peça de cerâmica de Cátia Pessoa e Maud Téphany.
Na parede à direita, um painel de azulejos, desenhado por Henriette Arcelin (pintura de Fernando Duarte, com produção dos azulejos da Viúva Lamego), onde vários porcos, das raças portuguesas, com jaleca presidem a uma farta refeição. E à nossa frente fica o espaço da cozinha da Taberna, onde há já várias pessoas em grande actividade, incluindo José Branco (filho) da Manteigaria Silva, a tradicional casa da Baixa que é parceira aqui no Bairro. Sorridente, José apresenta tábuas de queijos e enchidos que se vão vender na Taberna, onde também se poderão comprar a peso os produtos da Manteigaria.
Quem entra no Bairro pode fazer as suas compras e deixar-se ficar pela Taberna – a beber cervejas e a jogar às cartas, brinca o chef – ou pode seguir o passeio até ao Páteo. O espaço é amplo, com luz natural vinda de uma grande clarabóia, e parece corresponder a um antigo claustro do convento. Aqui come-se mais à séria (a média será de 40 euros por pessoa), com destaque para o marisco e o peixe (sem espinha e sem cabeça, a pensar nos turistas), mas também com bons pratos de carne, do bife da vazia maturada às presas de porco - não esquecendo as sobremesas, com destaque para a pavlova e o maracujá com sorvete de coco. Está até previsto um carrinho de gelados para que os pais possam dar uma moedinha aos filhos para comprarem um gelado, exactamente como numa rua de bairro.