Quando David Gelb se senta ao nosso lado na mesa do restaurante La Marine, em Noirmoutier, não consegue evitar o contentamento: “Uau, finalmente estou aqui!” Gelb é o autor da aclamada série documental Chef’s Table, cuja terceira temporada, inteiramente dedicada a cozinheiros franceses, acaba de estrear na Netflix. O nova-iorquino, de 33 anos, não realizou o episódio dedicado ao chef local Alexandre Couillon, mas acabara de o editar e estava desejoso de observar in loco tudo o que vira no ecrã.
Noirmoutier é uma ilha pacata meio parada no tempo. Situada na região do País do Loire, na costa atlântica francesa, a sua paisagem natural e o aspecto cuidado e discreto do casario dão-lhe uma aura especial. Talvez porque o local se afaste da ideia comum que temos de uma estância balnear. Por aqui não há grandes hotéis, nem o turismo de massas associado. E ainda que a população (com pouco mais de oito mil habitantes) aumente exponencialmente em Agosto, o local mantém uma certa pacatez e um ambiente familiar.
A ilha é plana e pequena (45km2) e a paisagem uma recompensa que convida a pedalar. Por isso não é estranho que se dê maior uso à bicicleta em detrimento do carro e, não raras vezes, com a família atrelada. Aliás, este é o meio de transporte ideal para vaguear por vilarejos, atravessar campos e os seus canais, as salinas, o Bois de la Chaize, o pontão da Reserva Natural de Mullembourg ou uma das graciosas praias de areia fina e mar sereno azul. Em termos geográficos, estamos quase na costa oposta ao Mediterrâneo, embora a temperatura (incluindo a da água), a cor do mar e as casas de paredes brancas e telhados de tijolo, aproximem os dois territórios. Ou, pelo menos, mais do que poderíamos imaginar.
Da terra e do mar
Sabendo o propósito da viagem, o jovem motorista que nos conduz do aeroporto de Nantes ao nosso destino surpreende-nos com um conselho. “Não deixem de provar as batatas de Noirmoutier.”
Já no quarto do hotel, ao procurar restaurante para jantar num guia gastronómico local, lá encontro a menção especial à “mais marítima das batatas”, entre uma dúzia especialidades e produtos de referência regionais. Ao que parece, os solos arenosos adubados com as algas recolhidas na maré baixa conferem ao tubérculo uma característica peculiar: o sabor ligeiramente salino. Entre as variedades cultivadas na ilha, destaca-se a la bonnote, tão valiosa e apreciada que o guia alerta para que se verifique a existência do logótipo da cooperativa agrícola local na embalagem, não vá estar-se a comprar uma imitação. É que a “Rolls Royce” da terra de Noirmoutier é recolhida apenas durante uma dezena de dias, em Maio, e o seu período de conservação é curto.
A noroeste da ilha, em L’Herbaudière, encontramos o principal porto de pesca local. Em tempos foi um grande centro da indústria conserveira de sardinha. Todavia, a escassez deste peixe encerrou o negócio e, hoje, os 60 barcos de pesca existentes dedicam-se, sobretudo, à apanha de variedades nobres, como o robalo, a dourada ou o linguado, e ainda a lagosta ou o lavagante.