Fugas - restaurantes e bares

HUGO SANTOS

Vítor Matos leva constelação de sabores aos Caminhos do Romântico

Por José Augusto Moreira

Fez um ano, o restaurante Antiqvvm, e com ele veio uma nova vida e dinâmica para o Museu do Romântico e percurso que lhe está associado. A cozinha apurada e a cultura do gosto dão novos sabores às vistas fabulosas e evocação histórica.

É quase um bosque de camélias o caminho de entrada na Quinta da Macieirinha, onde há um ano se instalou o restaurante Antiqvvm. Sobranceira ao Douro, com jardins e quintais que descem em socalcos, proporciona um cenário único e maravilhoso nos fins de tarde soalheiros com o rio e o mar tingidos a ouro.

São os Caminhos e o Museu do Romântico, que, a par da evocação histórica, proporcionam agora também uma vivência dinâmica e experiências gastronómicas diferenciadoras. O restaurante está no piso térreo do amplo palacete do século XIX e o jardim de canteiros geométricos é o seu terraço voltado à foz e ao Douro. Cenário mais que perfeito para juntar amigos, conviver, partilhar e desfrutar.

O enquadramento à medida para um chef como Vítor Matos, que faz da amizade, partilha e afectos o eixo central da sua cozinha de sabores. Fê-lo ao longo do ano com os menus “Cumplicidades”, com cozinheiros como o vizinho Rui Paula ou o holandês Michel van der Kraft (duas estrelas Michelin), e foi também com a comunidade dos fogões que quis partilhar a celebração do primeiro ano de vida do Antiqvvm.

Um menu a que chamou “Constelação de Sabores”, uma manifestação fraterna do espírito de “fazer cozinha”, como gosta de sublinhar para significar o contexto de influências, memórias, tradições, sensações, técnicas e produtos. Origens e experiências diversificadas, que se fundem numa cozinha apurada como manifestação da cultura do gosto.

E mesmo dispondo de uma cozinha pouco avantajada, de dimensão quase individual, deu primazia à vertente de partilha e emocional, que são, no fundo, ingredientes gastronómicos essenciais. A festa fez-se em grupo, a catorze mãos, e com cozinheiros do Algarve à Galiza, sabores do mar e da serra.

Começou António Loureiro, cozinheiro do ano em 2014, que acaba de abrir o requintado A Cozinha, em Guimarães. Cavala em lombos delicados com toque fumado e frescura marinha, à mistura com sabor afirmativo de foie gras, gelado de tomate e tostinha crocante. Elegância, sabor e afinado jogo de temperaturas.

Matteo Ferrantino, o irrequieto italiano que se fez chef no reconhecido Vila Joya e agora quer voar por conta própria (ver texto ao lado), escolheu a vieira, batata, pancetta, cebolinho e caviar. Um desafiante jogo de sabores e texturas com caldo de leve espessura (milhos), gordura crocante e sensações ácidas (vinagre?) e salgadas (caviar) quase excessivas face à delicadeza da vieira em dupla textura (corada e em finas lâminas). De grande nível!

O tom de desafio subiu ainda com o primeiro momento do anfitrião. Vítor Matos juntou o picanton (franguinho de quatro semanas) com lavagante azul, salva e trufa de Verão. Texturas imaculadas e sabores divinais. Caldo cremoso (das cabeças do marisco), delicado ravioli, manteiga de sal e aroma de trufa num jogo de equilíbrio e vitalidade notáveis.

Palco em seguida para João Oliveira, que se anuncia como forte candidato ao estrelato Michelin com a cozinha que pratica no algarvio Vista, na praia da Rocha, Portimão. Raia, enguia, alcaparras e óleo de salsa, num fabuloso exercício de equilíbrio e evidência de sabores. A raia corada em delicados troços de sabor marinho (parecia lingueirão), enguia afirmativa e delicada (fumada e desfeita em caneloni), aveludado puré de nabo e nabo de aipo. Apresentação também muito apelativa.

--%>