Fugas - restaurantes e bares

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Com atum, ovas de espada e maracujá, a Rota das Estrelas passou pelo William

Luís Pestana explica que não pede aos seus convidados que usem produtos da Madeira, até porque o objectivo da Rota é que cada um possa dar a conhecer a sua cozinha ao público de outras partes do país — neste caso aos turistas, mas também aos madeirenses.

No entanto, “nascido e criado” na Madeira, Luís acha que cabe-lhe “dignificar os produtos mais emblemáticos da ilha”. Daí que no seu prato use as ovas de espada, os milhos fritos, o maracujá, a banana. “Pego nos produtos típicos da ilha mas com um conceito de alta cozinha, que é o nosso, trabalhando-os de forma mais subtil, mais inteligente, mais criativa. Por isso, a tudo isto junto o lavagante azul.”

Da “sinfonia de lagostim com caviar” de Koerper, que abriu o jantar, ao supremo de pato e beterraba, shiso e ponzu, de Rui Silvestre, passámos ainda pelo robalo do mar cozinhado a vapor com molho de Alvarinho, mexilhões, açafroa dos Açores, xarém de amêijoa à Bulhão Pato, carabineiro, codium e salicórnia, de Vítor Matos. E terminámos com uma sobremesa à base de vários queijos e pitanga, de Luís Pestana, e outra na qual Pedro Campas trabalhou os citrinos em várias texturas.

A Rota segue agora para o Norte, para a Casa de Chá da Boa Nova, do chef Rui Paula, em Leça da Palmeira, por onde passa no dia 7 de Julho. E depois, a 20/21 do mesmo mês, estreia-se do outro lado do Atlântico, no Rio de Janeiro, no Eleven Rio de Joachim Koerper.

 

Camacha

Um museu para mostrar a arte dos vimes

 

Sentados em bancos baixinhos, os chefs convidados pelo restaurante William para a Rota das Estrelas tentavam, com maior ou menor sucesso, manobrar o rachador para separar o vime em lâminas finas, a liaça. O objectivo era depois entrançá-lo, tecendo pequenas cestas — provavelmente o objecto mais simples que se pode fazer nesta arte do vime, que se tornou famosa na Madeira e, em particular, na Camacha, onde no passado servia de ocupação a perto de 90% da população.

Quem nasceu na Madeira, como Luís Pestana, chef do William, mostrava, naturalmente, mais facilidade. Os outros aceitavam de bom grado a ajuda dos artesãos que trabalham na Fábrica de Artesanato e Bazar de Vimes, no edifício do Café Relógio, o mais icónico da Camacha.

O café está aqui desde 1896 encimado pelo relógio da sua torre, vindo da Igreja Paroquial de Walton, em Liverpool, depois de esta ter sofrido um incêndio. Agora, Ivo Correia, antigo bancário e filho da vila, que adquiriu recentemente o edifício, quer dar uma nova vida ao lugar e, sobretudo, à arte de trabalhar o vime, que perdeu muita da importância que tinha e muitos dos que nela trabalhavam.

No seu iPad, Ivo apresenta-nos o projecto, que passa por um centro de formação e inovação (com o apoio de uma universidade polaca) e por um museu com o qual pretende recuperar peças em vime únicas que hoje já ninguém sabe fazer, e contar todo o processo de cultivo, apanha, cozedura e tratamento do vime.

Fotografias antigas mostram as gentes da Camacha, homens, mulheres e crianças, a trabalhar os vimes, uma actividade familiar que era um complemento dos trabalhos agrícolas. Noutras imagens vemos vendedores em pequenos barcos (os bomboteiros) junto aos navios, exibindo cadeiras, cestos e outras peças aos turistas que chegavam à Madeira. Uma das fotografias mais curiosas é a que mostra dois exploradores na Antárctida, no início do século XX, a tomar champanhe para celebrar o Dia da Bastilha e sentados em cadeiras de vime que tinham comprado na Madeira.

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