Fugas - restaurantes e bares

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O senhor “Tendinha” mantém o rock na noite do Porto

Por Andreia Marques Pereira

A história de Alberto Fonseca confunde-se com a história da noite portuense. Há dedo dele em muitos dos espaços de diversão espalhados pela cidade, mas há três anos refugiou-se em Cinfães, num regresso às origens rurais, e quer abrir lá "uma tasca mesmo tasca".

- Foi nos Poveiros [Praça dos Poveiros] que tudo começou. Na Tendinha dos Poveiros. O meu pai comprou-a em 1978, tinha eu sete anos. Houve um período em que a entregou e voltou em 1987. Em 1989 passou-a a mim.

Alberto Fonseca tinha 18 anos e estava a começar um percurso que o tornou um nome incontornável da noite portuense. Hoje, quinta-feira, chega com dois sacos plásticos e logo um cheiro distintivo enche ali o espaço perto da porta do La Bohème entre Amis, o seu espaço mais diurno (abre às 15h). Num dos sacos vêm couves, no outro a hortelã que perfuma o espaço. “Tudo fresquinho.” Daqui a algum tempo vão servir para cozinhar os petiscos que são uma das âncoras deste bar — a outra, visível por todo o lado, já que é parte da decoração, é o vinho. Alberto Fonseca gosta muito desta combinação entre gastronomia e vinho. Não hesita em ir para a cozinha sempre que é necessário ajudar, sobretudo ao fim-de-semana.

- Gosto muito de cozinhar. Herdei isso da minha mãe que era, é, uma excelente cozinheira. Nunca quis nenhum restaurante grande, mas formavam-se filas à porta da Tendinha do Padrão, quando este era da família.

E a família bem poderia ser a da “Tendinha”, porque a “marca” Tendinha estará sempre ligada a esta e, agora, a Alberto Fonseca. Ainda que agora a única “Tendinha” entre os seus negócios seja a dos Clérigos.

- A Tendinha dos Clérigos nasceu porque a dos Poveiros cresceu demasiado, cheguei a ter 52 mesas na esplanada. Quando a abri chamavam-lhe o “tendão”, porque era tão maior do que a original.

A Tendinha dos Poveiros era uma tasca,

- No início era tasca-tasca, ainda com serrim no chão, pipos e portas de vaivém

que se tornou parte de um roteiro “alternativo” na viragem do milénio, que juntava o Valentino’s e o Passos Manuel, três vértices de um triângulo “onde todos se conheciam”.

- Foi um processo longo. Tudo começou com o rock. O André Spencer e a Emília Sousa vinham ao fim-de-semana com um gira-discos. Ganhou fama no rock. Agora sou mais versátil [aponta Zeca Pagodinho, Ana Moura, Carlos do Carmo], mas na altura era o que eu mais ouvia, Bob Dylan, U2, Joy Division, Pixies, Bruce Springsteen...

A Tendinha dos Clérigos é uma discoteca e, em 2005, foi quase pioneira na nova ocupação noctívaga da Baixa do Porto (um mês depois da abertura do Café Lusitano). Trouxe o rock, que se mantém no seu ADN,

- No início, os bares daqui [Baixa do Porto] seguiram-nos os passos, eram mais rock, alternativo e indie. Agora não. Aliás, não está fácil arranjar DJ de rock.

e está ainda mais exposto desde ontem, quando reabriu depois de obras, que criaram uma zona “mais bar”.

Estamos na mini-esplanada do La Bohème, na Rua das Galerias de Paris — sim, essa de onde houve a nova noite portuense —, que abriu em 2008. E este é um cenário completamente diferente do de então. Em (quase) cada porta há um bar, café, restaurante.

- Não está fácil. Eu ainda tenho rendas acessíveis, andam por aí valores astronómicos, quatro, cinco mil euros. Por exemplo, a [renda da] Tendinha, na altura, era caríssima, agora é irrisória. Nunca foi aumentada.

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