A saúde é a primeira preocupação. “E a estética, porque brasileiro é muito ligado em estética. Nossa! Se eu vendesse a minha alimentação dizendo que as pessoas iam emagrecer, estaria milionária.” Mas depois a coisa torna-se mais política — e para Bela este é um aspecto muito importante. “A gente tem que comer não só pelo nosso corpo mas pelo meio ambiente, pelo respeito à terra, ao produtor.”
Democratizar a alimentação saudável
Essa é uma mensagem um pouco mais difícil de passar. “As pessoas gostam da culinária como entretenimento. Eu uso uma ferramenta para falar de outros valores que a comida tem, a importância do biológico, falo da comida local, tradicional, regional, da forma como ela valoriza a nossa cultura, o nosso país, o nosso povo. E de como é um investimento na conquista da nossa independência em relação à indústria.”
Quem não sabe cozinhar, afirma Bela, “fica à mercê do que a indústria coloca na sua mesa, seja uma pizza que compra à noite quando vai para casa, seja uma lasagna congelada que esquenta no micro-ondas.” Fala com crescente entusiasmo: “Comer de maneira saudável é um acto político. Mas de uma forma global, tem que ser holisticamente saudável, uma comida que faz bem para tudo e para todos.”
No Brasil, toda a conversa sobre alimentação levanta várias outras questões. “Comer como um acto político é muito importante mas a comida só se torna um acto político quando a gente tem oportunidade de escolher o que comer. Infelizmente, no Brasil não são todas as pessoas que podem escolher o que comer. O meu trabalho é para democratizar a alimentação saudável e para que todos possam escolher o que colocar no prato. Assim a comida torna-se um acto político.”
Um exemplo de como se pode mudar o mundo através do que se come é a utilização de alguns ingredientes especiais. No livro que acaba de lançar em Portugal, Bela tem, por exemplo, uma receita de bolachas feitas com farinha de jatobá e castanhas-de-baru. No texto que a acompanha, ela explica: “Muito valorizado pelos índios, o jatobá é uma árvore do Cerrado que tem sofrido um acelerado processo de fragmentação devido à expansão urbana, agropecuária e criação de gado. […] A castanha-de-baru foi outra descoberta incrível. Típica do Cerrado, tem um sabor agradável, que lembra um pouco o do amendoim.”
Por paradoxal que pareça, consumir estes alimentos é fazer com que eles continuem a existir. “Há uma cooperativa de mulheres que quebram a castanha-de-baru, são chamadas de quebradeiras. Consumindo essa castanha, a gente ajuda a que elas possam permanecer no campo de maneira justa.”
Bela é muitas vezes acusada de “fazer comida para a elite”. Mas ela vê as coisas de outra maneira: “A gente está precisamente tentando democratizar, para que todo o mundo tenha acesso. Na roça come-se bem, mas as pessoas mais tradicionais chegam na cidade e param de comer aipim, mandioca, fubá de milho e passam a comer o pão francês da padaria e a beber refrigerantes. É uma maneira de dizer ‘Eu não sou mais aquela pessoa da roça’.”