Fugas - Viagens

  • Está constituída a Rede de Judiarias Portuguesas. Paulo Pimenta leva-nos a descobrir as judiarias e sua cultura através da fotografia
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Rede de Judiarias Portuguesas: À procura de Sefarad em Portugal

Marcas misteriosas são as da chamada "casa do gato preto" ou "casa do rabino", por supostamente ter sido sinagoga - que, também já se sabe, não corresponde à realidade. Na fachada do palacete, datado da transição do século XIX para o XX, há quatro mísulas em forma de cabeças, um imponente leão de Judá, uma pomba e uma fi gura de um judeu inclinado com a mão na cabeça.

Marcas há para todos os gostos: um IHS, acrónimo para Jesus, ou um AM, abreviatura de Ave-Maria. Descobre-se ainda um círculo com um pentagrama - até ao início do século XX, a estrela de Salomão poderia ter sido usada por judeus ou por adeptos da cabala. E também uma cruz grega numa outra porta.

Enigmas destes pedem um roteiro das marcas judaicas, cuja edição está a ser preparada. E também um Centro de Interpretação da Cultura Judaica. Que irá nascer até final do ano, diz o presidente da câmara, Júlio Sarmento. E que homenageará o nome de Isaac Cardoso, médico, filósofo e escritor polémico que nasceu na região e foi morrer no exílio. O edifício, que será construído a partir da recuperação de uma ruína segundo um projecto de Gonçalo Byrne, está numa esquina junto da Rua do Poço do Mestre. O mestre que, entre os judeus, seria o rabino.

Tomar: A mais antiga sinagoga

Onde hoje está a Igreja da Conceição, em Lisboa, teria estado a Grande Sinagoga da capital. Uma lápide na Sinagoga de Tomar, do início do século XIV, recorda, em caracteres hebraicos, o lugar de culto judaico em Lisboa: "Esta é a porta do Senhor pela qual os justos entrarão. Entrai pelas suas portas com graças e em seus átrios com louvor."

A Sinagoga de Tomar é, hoje, quase só um repositório de memórias. De quem por lá passou (mais de 28 mil visitantes em 2010), mas também do tempo que já passou pelo edifício e que deixou marcas. Obras de recuperação já pensadas tardam em começar e o aspecto não é o mais cuidado.

Luís Vasco, 73 anos, guardião do edifício desde há 27 anos, tem pena que ninguém vele melhor por esta memória da presença judaica em Portugal. A sinagoga terá sido construída entre 1430 e 1460, mas serviu os seus fi ns durante pouco tempo: no fi nal desse século, os judeus já não podiam ser judeus em Portugal, por ordem de D. Manuel.

A sinagoga foi mais tarde cadeia, capela e casa térrea. Classifi cada em 1921 como monumento nacional, foi comprada em 1923 por Samuel Schwarz, engenheiro de minas que veio trabalhar para Portugal e acabaria por trazer à luz do dia os judeus escondidos de Belmonte. Schwarz doaria em 1939 a sinagoga ao Estado português, com a condição de ali ser instalado um museu luso-hebraico. Mas, não fosse o zelo de Luís Vasco e da mais recente Associação dos Amigos da Sinagoga de Tomar, e o museu estaria hoje ainda em piores condições.

O que se vê na sinagoga são doações de judeus que por lá passam. A Arca Sagrada, onde são guardados os rimorin onde são enrolados os textos bíblicos, foi oferecida por Moses Meir, em 1992. Quando vem um grupo de judeus, normalmente rezam na sinagoga. A sala tem no meio quatro colunas que honram as quatro matriarcas do judaísmo: Sara, Rebeca, Lia e Raquel.

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