Fugas - Viagens

Luís Maio

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Chatuchak - O inferno mais delicioso da Tailândia

Os objectos estranhos e os costumes esquisitos, ancestrais ou ultramodernos, mais frequentemente cruzados sem preconceitos, resultam assim como um alucinante bombardeamento de "novidades" aos olhos ocidentais. É todo um novelo de charadas que surpreendem e por vezes até chocam (o que fazem tantos transexuais de braço dado com meninas de rostos angélicos?), mas que não são indecifráveis. Basta sorrir neste país onde o sorriso é uma espécie de língua franca para ficar a saber mais. Outra maneira de dizer que Chatuchak se oferece igualmente como uma ocasião privilegiada para meter conversa e ganhar contacto directo com as complexidades da actual cultura urbana tailandesa.

Rezar para vender

Na perspectiva, justamente, de querer ficar a saber mais, vale a pena chegar de madrugada. Por volta das cinco da manhã, as lojas ainda não abriram portas, mas as ruas do mercado são já calcorreadas por um batalhão de vendedores. Caminham todos no mesmo sentido, para um pequeno altar, plantado no coração do recinto, invariavelmente coberto de grinaldas de flores amarelas e de resmas de paus de incenso. O "contrato" com os espíritos da terra sobre a qual se eleva Chatuchak requer que os vendedores, antes de iniciarem a actividade, venham aqui rezar e fazer-lhes oferendas de comida e bebida.

É um singular ritual, este, que alia a fé com a fortuna, mas o visitante mais observador verificará também a profusão de estatuetas de Nang Kwak, a deusa do comércio e da prosperidade (de mão levantada, em jeito de saudação aos clientes), substituídas nos comércios mais modestos por todo um sortido de amuletos protectores. Estes constituem, aliás, um dos artigos mais transaccionados nas feiras tailandesas e Chatuchak é a maior delas. Daí a profusão de bancas repletas de efígies de Buda e de homens santos, mas também de talismãs fálicos, raízes de plantas medicinais e de uma multiplicidade de curiosidades abençoadas, tipo dentes humanos, olhos de gatos ou mesmo telemóveis. Há amuletos meticulosamente embrulhados e acondicionados em caixas de madeira, mas também os há empilhados em plásticos no chão, como se fossem sucata. Uns e outros atraem uma legião de coleccionadores, muitos de lupa em riste, que demoram eternidades a examinar-lhes o valor.

Os vendedores de amuletos são dos primeiros a abrir negócio, mas de resto o arranque do mercado é bastante lento e está longe de ser sincrónico. Para quem quiser fazer compras de algum valor, pelo menos com algum discernimento, a manhã é a melhor altura do dia em Chatuchak. Mesmo assim, o mercado é tão amplo e tão labiríntico que é de toda a conveniência começar por fixar o seu principal ponto de referência, a Torre do Relógio e aí, no posto de informação turística, pedir um mapa do recinto (gratuito).

Tudo parece muito organizado: os 14 hectares do mercado estão divididos em 27 secções, organizadas em áreas de cor segundo as especialidades, sendo as alas identificadas por letras e as ruas por nomes. Esta ordem é, no entanto, algo equívoca, porque depois o que não faltam são desalinhados, gente a vender mercadorias que não correspondem à especialidade da zona, para além dos ambulantes mais ou menos legais, que param onde estiver a dar. Na verdade, a impressão de caos organizado que se tem à chegada ou ao consultar o mapa depressa se desvanece.

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