Fugas - Viagens

Luís Maio

Chatuchak - O inferno mais delicioso da Tailândia

Por Luís Maio

É o maior mercado de Banguecoque, uma extraordinária Meca de compras, mas também uma montra prodigiosa da cultura de rua da Tailândia. A Fugas voltou de lá com a mala cheia de prendas e muitas dicas sobre as idiossincrasias do país dos mil sorrisos

O que se faz em Banguecoque, pelo menos numa primeira visita, é ver templos e andar às compras. Dois ou três complexos budistas depois, o visitante tem sérias hipóteses de contrair a síndrome de Stendhal, leia-se de sofrer de uma overdose de beleza, na circunstância dourada. É pelo menos o álibi mais usual para cortar com a informação e dedicar o resto do tempo ao que realmente interessa, ou seja, às compras.

O destino mais comum é o mercado nocturno de Patpong, atafulhado de contrafacções e t-shirts com logos de marca. Ou em alternativa Khao San Road, o seu equivalente para jovens mochileiros. São lugares animados e pitorescos, a maior parte dos artigos em exposição valem uma bagatela para as carteiras ocidentais. Mas convenhamos que estão muitos furos abaixo da verdadeira shopping experience de Banguecoque, proporcionada pelo mercado de Chatuchak. Uma prodigiosa balbúrdia, desde logo anunciada pela pluralidade de nomes do mercado, também conhecido por Jatujak, pelas iniciais JJ (pronuncia-se djay), ou mais simplesmente ainda sob a designação inglesa de Weekend Market (mercado de fim-de-semana).

Um país inteiro revisto num mercado

Pense-se em Londres, que tem os maiores mercados a céu aberto da Europa. Pois este, na ponta norte da capital tailandesa, é capaz de ser maior e mais variado que Candem, Portobello e Brick Lane todos juntos. Há, para começar, a estatística oficial: Chatuchak ocupa uma área de mais de 14 hectares (o equivalente a Lisboa na Idade Média) e acolhe 15 mil postos de vendas, incluindo barracas precárias cobertas de pára-sóis a loja convencionais com montras e vendas informatizadas.

O que a estatística já não contabiliza é que, mesmo assim, a feira está a rebentar pelas costuras, contando-se por centenas, ou mesmo milhares, os vendedores ambulantes não licenciados que rondam nas imediações, ou se aventuram a montar estendal no recinto, arriscando a multa correspondente. De resto, se o mercado recebe 200 a 300 mil visitantes por dia, tanto ao sábado como ao domingo, aos fins-de-semana de pagamento para os assalariados tailandeses esse número pode facilmente duplicar.

Porque o mercado de Chatuchak - fundado nos anos 50 e no presente local desde 1982 - , foi e continua a ser eminentemente tailandês. Isto tanto no sentido de aqui virem parar os artigos mais variados de todos os cantos do país, como no de ser sobretudo frequentado por locais (a clientela estrangeira é estimada em cerca de 30 por cento). Funciona, portanto, como um ecrã panorâmico que projecta a cultura de rua da capital e, mais em geral, o mosaico humano que constitui a Tailândia. O género de local onde se encontram pilhas de coisas e magotes de gente que são very thai, mas que dificilmente figuram nas campanhas oficiais da "Amazing Thailand".

Vai dos quadros ilustrados com as letras do alfabeto local a todo um sortido de tatuagens mágicas, das crianças que andam às compras em bando, todas de uniforme escolar, aos velhotes de pés descalços com pesados fardos às costas. São testemunhos vivos de preservação das tradições, mas Chatuchak é bem mais do que isso. É também uma rampa de lançamento para os criadores de arte e design em inícios de carreira e um recreio de eleição para as tribos juvenis mais ou menos alternativas da capital. Ou seja, a mega feira de Banguecoque é também um espaço de celebração dos figurinos juvenis, cada vez mais híbridos e originais, que hoje dominam a cultura urbana tailandesa.

--%>