Fugas - Viagens

Luís Maio

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Chatuchak - O inferno mais delicioso da Tailândia

Uma boa dica é fazer a ronda dos antiquários e lojas de artesanato enquanto a confusão é ainda suportável. A maior parte destes estabelecimentos tem ar condicionado, aceita cartões de crédito e apenas expõe meia dúzia de peças escolhidas a dedo, com pequenas legendas em inglês (época, estilo, procedência) e o respectivo preço. Podem ser as peças mais caras em venda em Chatuchak, mas o preço é negociável, como tudo o resto. O que já não vale a pena discutir é se as antiguidades são genuínas ou não, simplesmente porque não há maneira de saber. De qualquer maneira, quando nos propõem um buda esculpido em madeira ou em bronze, uma estatueta delicada e cheia de detalhes por um preço bastante atraente, acaba por ser quase irrelevante se foi produzida na Birmânia ou no Camboja do século XIX.

Bebidas em sacos de plástico

Por volta do meio meio-dia, o visitante madrugador de Chatuchak já terá sucumbido à febre desta babilónia de consumo, mas não será (só) por isso que estará a suar em bica. É porque faça sol ou esteja a chover a cântaros, o mais certo é instalar-se um calor sufocante, que se torna ainda mais castigador à medida que o mercado enche de gente. A garrafa de água ou a lata de refrigerante são escolhas óbvias, mas há opções mais interessantes para matar a sede.

Vendedores montados em bicicletas trilham o recinto a toda a hora, propondo cocos e mais frutas tropicais, mas também sacos de plástico transparentes, cheios de líquidos de cores berrantes. Contêm sumos de frutas, chás e infusões de ervas, misturados com carradas de gelo e de açúcar, mas também de sal. As cores artificiais tornam-nos duvidosos aos olhos ocidentais, ainda mais porque a freguesia local tem o hábito de beber por palhinhas do mesmo saco. As receitas que os originam constituem, porém, a fórmula certa, ou o antídoto perfeito, para combater a desidratação.

Desde o meio-dia até se fazer noite cerrada, intensos odores a comida invadem todas as secções de Chatuchak, das ruas principais até às vielas onde não passa um carro. É uma mistura de aromas perfumados de especiarias com cheiros rudes e quase pestilentos, como o é o das lulas a secar em redes, por vezes acompanhados de nuvens de fumo que fazem chorar, mais comuns quando a cozinha é à base de malaguetas. Há restaurantes convencionais que vendem pratos tailandeses em versões mais ou menos ocidentalizadas, alinhados no topo norte da zona dos antiquários. Mas há também tascas semeadas um pouco por toda a parte, no meio da via pública, onde a comida é directamente servida de tachos XL, a que se devem acrescentar os inúmeros ambulantes que param para cozinhar onde for preciso, em pequenos fogões montados em duas rodas.

O que os ambulantes e os restaurantes mais populares servem, quase sempre sob o formato de espetadas, é comida alienígena ao paladar ocidental. O caso mais flagrante, e motivo recorrente da consternação por parte dos turistas, são os insectos fritos e cobertos de picante, numa gama que inclui formigas, escaravelhos e escorpiões. Claro que também se cozinham bichos mais comuns, mas com uma particular incidência em partes que usualmente deitamos fora, como sejam fígados, intestinos e testículos de aves e mamíferos. Os amantes da alteridade gastronómica poderão ir ainda longe provando fetos de galinha e outras delícias insólitas.

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