O nome soa impronunciável. A mais rápida pesquisa na Internet mostra que é tudo menos fácil e rápido lá chegar. Não há os "resorts" luxuosos que inundam o restante Nordeste brasileiro, nem serviços hoteleiros especiais. Mas, assim que se coloca o pé em Jericoacoara, nada disto interessa, mesmo que o seu perfil de turista tenha muito pouco de aventureiro. Pequena vila de pescadores situada no Ceará, a cerca de 300 quilómetros de Fortaleza, Jeri (para os íntimos) nasceu para o turismo há apenas algumas décadas e permanece resguardada da procura em massa.
Por estar integrada num parque nacional, as suas ruas continuam a ser em areia, as construções não vão acima dos dois andares e a ausência de postes eléctricos faz com que, à noite, a vila fique apenas iluminada pelas luzes das casas, das velas e, claro está, da lua e das estrelas. Cercada por lagoas cristalinas, dunas gigantes e um mar manso, Jericoacoara ganhou fama ao ser eleita como uma das dez praias mais belas do mundo pela revista norte-americana "Washington Post Magazine", em 1994. E, apesar de os anos terem passado, o título ficou-lhe irremediavelmente associado.
Para quem pensa que há poucas alternativas aos banhos de sol e ao relaxamento num paraíso assim, desengane-se. Se quiser um dia preenchido, é só comprar uma das várias excursões aos povoados vizinhos, como Tatajuba e as Lagoas de Jijoca (ver texto ao lado), optar pela prática de "sandboard" nas dunas ou pelos passeios a cavalo. O vento constante entre Julho e Novembro tornou também Jericoacoara um dos melhores locais para a prática de desportos náuticos, como "surf" , "windsurf", "kitesurf" ou vela, e não faltam na vila ofertas de programas e de aulas para aprender a tirar partido das ondas de Jeri.
Quem preferir descontrair pode optar pelas caminhadas à beira-mar ou ceder às pequenas tentações de consumo locais: as várias lojas de artesanato espalhadas pelas ruas de areia, que vendem bijutaria, roupa, redes, loiça, objectos de artesanato, licores e bebidas da região. Mas obrigatório mesmo é deixar tudo para trás e, ao final do dia, ir ver o pôr-do-sol do alto da duna gigante que se ergue junto ao mar de Jeri.
Com cerca de 30 metros, a Duna do Pôr do Sol criou um autêntico ritual na vila. Todos os dias, dezenas de turistas e locais sobem o colosso de areia para ver o astro-rei desaparecer no mar. Por estar situada na ponta de uma baía aberta para o oeste, Jeri é dos poucos locais no Brasil onde o sol se põe no oceano. E nem mesmo os cães deixam de escalar a duna para assistir pacientemente a este espectáculo.
Ao ritmo de Jeri
Antes de seguir adiante pelas maravilhas de Jeri, um aviso à navegação: chegar a este vilarejo de pescadores perdido nas dunas não é fácil. Sem falar nas longas horas de avião até Fortaleza, conte com mais de cinco horas para fazer 280 quilómetros, num autocarro de turismo (ou mini-ônibus) até Jijoca.
A partir daqui, faltam ainda cerca de 20 quilómetros que podem demorar uma hora, pois são feitos por terra batida e dunas, em veículos 4x4, "buggies" ou, geralmente, jardineiras ou paus-de-arara (autocarros com bancos e carroçaria de madeira que chocalham por todos os lados). Mas, quando se chega, as peripécias do caminho passam à história.