Fugas - Viagens

  • Pedro Cunha leva-nos até La Rochelle, cidade portuária a que não faltam encantos, numa região repleta de monumentalidade, construída e natural. A fotogaleria conduz-nos também pelas belezas da Ilha de Ré ou de Cognac. E, por todo o lado, uma certeza: o transporte oficial (e ideal) é a bicicleta |
    Pedro Cunha leva-nos até La Rochelle, cidade portuária a que não faltam encantos, numa região repleta de monumentalidade, construída e natural. A fotogaleria conduz-nos também pelas belezas da Ilha de Ré ou de Cognac. E, por todo o lado, uma certeza: o transporte oficial (e ideal) é a bicicleta |
  • La Rochelle |
    La Rochelle |
  • La Rochelle, pormenor de mosteiro românico |
    La Rochelle, pormenor de mosteiro românico |
  • La Rochelle |
    La Rochelle |
  • La Rochelle, Torre da Lanterna |
    La Rochelle, Torre da Lanterna |
  • La Rochelle |
    La Rochelle |
  • La Rochelle, Aquarium |
    La Rochelle, Aquarium |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Coulon, no Marais Poitevin |
    Coulon, no Marais Poitevin |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Marais Poitevin |
    Marais Poitevin |
  • Ilha de Ré, marismas |
    Ilha de Ré, marismas |
  • Ilha de Ré, marismas |
    Ilha de Ré, marismas |
  • Ilha de Ré, marismas |
    Ilha de Ré, marismas |
  • Ilha de Ré, as bicicletas reinam por aqui |
    Ilha de Ré, as bicicletas reinam por aqui |
  • Ilha de Ré, ciclovia |
    Ilha de Ré, ciclovia |
  • San-Martin de Ré, Ilha de Ré |
    San-Martin de Ré, Ilha de Ré |
  • Ilha de Ré |
    Ilha de Ré |
  • Ilha de Ré |
    Ilha de Ré |
  • Ilha de Ré, marismas |
    Ilha de Ré, marismas |
  • Ilha de Ré |
    Ilha de Ré |
  • Adadia des Chateliers, Ilha de Ré |
    Adadia des Chateliers, Ilha de Ré |
  • Castelo François I Maison Otarb, Cognac |
    Castelo François I Maison Otarb, Cognac |
  • Cognac, o palácio onde se faz o cognac Baron
    Cognac, o palácio onde se faz o cognac Baron
  • Cognac, uma casa com 500 anos |
    Cognac, uma casa com 500 anos |
  • Cognac, uma casa com 500 anos |
    Cognac, uma casa com 500 anos |
  • Cognac |
    Cognac |

Quando todos os sentidos desaguam no mar

Por Abel Coentrão

Outrora um rochedo rodeado por mar, La Rochelle viu o esforço humano conquistar terra ao Atlântico, e fez do oceano a sua janela para o mundo. A Fugas passeou por este porto de mercadores situado na Charente-Maritime, junto ao Marais Poitevin, a segunda maior zona húmida de França, e ainda pôde perceber o que leva milhares de franceses à vizinha Ilha de Ré antes de um salto, curtinho mas intenso, a Cognac
Mais de vinte anos afastado das "biclas" dá nisto. Chega-se a La Rochelle e, para além da estranheza da língua - no francês, a boca parece tropeçar nas palavras como se abusasse de conhaque logo pela manhã -, sentimo-nos duplamente estrangeiros só porque não andamos sobre duas rodas. Quando Rabelais, nas suas grotescas histórias sobre uma famosa dupla de gigantes "revelou" que, vindo desta cidade, Gargantua, ébrio, se aliviou de uma urgência de tal forma que inundou toda a região a Norte, fundando o Marais-Poitevin, esqueceu-se de nos dar conta que o pai de Pantagruel viajava, imagino eu, numa imensa bicicleta. Ainda que ela não tivesse, no século XVI, sido inventada. É que por aqui, o domínio das duas rodas é tão natural que parece ser assim antigo.

Não tem séculos, mas ainda assim é velha de três décadas e meia, a aposta desta cidade do litoral Atlântico francês na mobilidade sustentável. É coisa para turista ver - e usar - porque não dá para não reparar. Sai-se do hotel manhã cedo, a ver como assentam os primeiros raios de sol sobre o calcário das casas antigas e sobre os cascos das centenas de veleiros adormecidos no Vieux Port, e aí estão elas, silenciosas, limpas, a caminho do pão e das primeiras compras. Jornalista-turista, eu sigo a pé, em ecológica solidariedade, perdendo-me sozinho pelas ruas, horas antes de um encontro com a simpática guia Anne Lepelletier. Sem contexto, La Rochelle é apenas uma cidade bonita de se ver. Em contexto, é uma cidade interessante de se conhecer, cujo ar prazenteiro que ostenta nos dias que correm esconde a sua grandiosa e, porventura por isso, muitas vezes tumultuosa, história. Tão velha como as suas torres e faróis.

Não há, no casco histórico, muitos sinais da vila de pescadores erguida sobre uma zona rochosa rodeada de marismas, zonas submetidas aos avanços e recuos das marés, à qual Guilherme X, Duque da Aquitânia, deu grandes privilégios, corria o ano de 1137. E esse apagamento da marca inicial talvez se deva ao desenvolvimento constante desta cidade que, mais do que aos pescadores, deve aos armadores/mercadores o estatuto que alcançou ao longo do tempo. Libertos de muitos constrangimentos feudais, os de La Rochelle cultivaram sempre um sentimento de autonomia - ainda no século XII foram os primeiros, no reino, a eleger um presidente de câmara - que lhes trouxe riquezas mesmo quando França e Inglaterra se digladiavam na designada Guerra dos Cem Anos. E que, mais tarde, valeu ao burgo o epíteto La Rochelle, la Rebelle.

O espírito dos mercadores locais ajuda a explicar a adesão de La Rochelle à Reforma Protestante no final do século XVI. Mas este importante porto, tornado bastião do calvinismo e habituado a cuidar dos seus próprios negócios, não cosia bem com o absolutismo centralizador que se erguia no Reinado de Luis XIII, pela mão de um famoso primeiro-ministro, o cardeal Richelieu. E em 1627 este empenhou-se pessoalmente, tendo a seu lado o monarca, num longo cerco à cidade. Que, após 13 meses, soçobrou, exaurida de três quartos da sua população. Como castigo, ainda perdeu privilégios, e entre eles a autonomia municipal, elevada aos píncaros durante os 30 anos (1590-1620) em que se tornara uma cidade livre e das liberdades religiosas, graças ao Le Bon ami des rochelais, o rei Henrique IV. Pai de Luis XIII.

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