Fugas - Viagens

Adriano Miranda

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O sonho indiano começa em Bombaim

Das ruas para um lugar ao sol

Sente-se o pulso da cidade aqui, nesta estação ferroviária que é um microcosmos da cidade (do país?). Mas é mesmo nas ruas que Bombaim pulsa com essa energia que a torna única - nas ruas que são seres autónomos, com os seus ritmos, códigos, modos de vida (e de morte). É impossível caminhar por Bombaim sem entrar na vida de bombaítas que têm ali a sua casa, os filhos a brincar e a dormir, os seus parcos haveres amontoados ou pendurados em ramos de árvores. É impossível caminhar por Bombaim sem ser em resistência - aos pedintes e aos vendedores, muito mais insistentes, chegando até a provocar fugas declaradas.

Andando para Norte, afastando-nos, portanto, da cidade vitoriana turística, a decadência de Bombaim dá lugar a uma cidade que, a espaços, parece ser zona de guerra - edifícios esventrados sucedem-se, em ruas pardas; barracas alinhadas formam largos quarteirões e a vida continua a fazer-se maioritariamente na rua. Até o Chor Bazar, o "bazar dos ladrões", um dos mais visitados da cidade, surpreende como uma sucessão de "ruínas", cor de areia e cinzento, onde os produtos se exibem com pó que lhes empresta um ar sujo e triste, mesmo quando são dourados.

Mas Bombaim é a cidade dos bazares, a cidade dos mercados: aqui tudo se vende e tudo se compra, dos produtos quotidianos mais básicos (como comida ou desodorizantes) aos souvenirs turísticos, de livros a bússolas, de roupa a bijutaria e há sapateiros, barbeiros, alfaiates com balcões na rua - dir-se-ia que a cidade poderia sobreviver apenas com este comércio informal. Onde há edifícios com arcadas é quase certo encontrar uma sucessão de bancas que à noite se convertem em dormitórios; à porta de um restaurante de luxo, em frente dos seguranças, pode estar um vendedor de "digestivos" tradicionais, preparando as ervas ali mesmo; em qualquer lado pode estar uma vaca e a respectiva dona que prepara uma espécie de almôndegas verdes que vende a transeuntes que por sua vez alimentam a vaca - tudo sob o beneplácito de um pequeno altar, colorido e kitsch.

Na Colaba Causeway, que se estende perto do Taj Mahal Hotel, é difícil circular - os passeios são tendas onde se vende artesanato e bricabraque, t-shirts, lenços, saris (os melhores estão nas lojas, como indicarão os vendedores se pressentirem curiosidade), brinquedos, chinelos e sapatos, sacos e relógios. As fachadas são lojas, lojas, McDonald"s, centros comerciais, cafés - entre eles o Leopold Café and Bar, que, aberto desde 1871, é uma instituição na cidade guardada por seguranças. Lá dentro, uma atmosfera europeia, com as mesas de madeira e tampos de mármore, as pinturas nas paredes e a quota de turistas.

Em ruas paralelas, antiquários, joalharias, galerias de arte, lojas de roupa de marca lembram que Bombaim é o lar dos maiores milionários indianos. Esses têm residência em Malabar Hill, posto avançado sobre o Mar Arábico, que se observa de Marine Drive, a avenida em meia-lua que abraça o mar em perfil Art Déco, estilo popular na cidade nas décadas de 30 e 40. Os seus hotéis de luxo estão coroados de terraços, onde os ricos e famosos desfilam em hedonismo desenfreado.

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