Quando chegamos a Espinama estamos felizes, aliviados, com os olhos cheios de paisagens inesquecíveis e a precisar urgentemente de um gelado. Regina, que não fizera o trilho de Cares, já chegou e está sentada numa esplanada, de rosto vermelho. "Pensei que ia lá dentro buscar um gelado, mas ainda não tive forças para me levantar", sorri.
Eu cambaleio até ao gelado e sento-me no chão (já não há cadeiras) a saboreá-lo. Na hora de me levantar, vale-me a ajuda providencial de Avelino, que me estende a mão. Sim, porque se eu estou de rastos, há quem pareça ter sempre mais uma réstia de energia. Há por ali gente que foi operada aos joelhos e com problemas de anca. Até há quem esteja a recuperar de uma pneumonia recente. Mas, à noite, depois do jantar, quando é preciso vencer os três quilómetros que separam o centro de Cangas de Onís do nosso hotel, dizem adeus com a mão à camioneta e fazem o trajecto a pé. Lembro-me da minha avó, que diria: "Isto não é gente como nós." E sento-me na camioneta.
As caminhadas terminaram e temos pena. Mesmo que nos doam as pernas para lá do que julgávamos possível. Em dois dias, foram mais de 35 quilómetros percorridos a pé. Aguentámos e não nos arrependemos. E até podemos dizer que queremos mais.
Quando ir
Dizem que a Primavera e o final do Verão, início do Outono, são os melhores períodos, para tentar escapar à época alta das férias, quando milhares de pessoas se dirigem aos Picos da Europa e os trilhos se tornam demasiado movimentados para serem gozados com a calma necessária. Os rigores do Inverno também desaconselham os menos preparados a aventurar-se por ali.
Como ir
Pode visitar os Picos da Europa a título individual ou integrado num grupo. Há quem faça excursões que o vão levar às principais cidades e vilas, deixando-o subir no teleférico ou espreitar os lagos de Covadonga, mas sem experimentar verdadeiramente a montanha, percorrendo os seus trilhos. A Fugas viajou com o grupo de montanha do Académico Futebol Clube que, todos os meses, realiza pelo menos uma caminhada por diferentes paisagens do país ou no estrangeiro. Mas há outros amantes de caminhadas a propor viagens aosPicos da Europa. Uma pesquisa rápida no Google poderá elucidá-lo.
Precauções
O tempo nos Picos da Europa muda rapidamente e, por vezes, de forma violenta, pelo que é aconselhável estar sempre preparado para tudo. Leve protector solar, chapéu e óculos de sol, mas também um impermeável, e algo suficientemente quente para aguentar uma descidabrusca de temperatura. O calçado deve ser confortável e forte, para resistir ao solo rochoso e à chuva. E as botas devem ser muito bem apertadas (bata com o calcanhar no chão, puxando bem o pé para trás, antes de apertar os atacadores, firmemente, primeiro no penúltimo atilho e só depois no último), para evitar que os pés deslizem para a frente nas descidas, causando pisaduras nas unhas. Os bastões de caminhante também ajudam, sobretudo em solo mais solto ou nas descidas mais abruptas.
Aconselhamos, seriamente, que não se aventure na garganta de Cares se sofrer de vertigens. O trilho estreito, sem qualquer protecção sobre o desfiladeiro, não é aconselhável a quem tem medo de alturas. E, não se esqueça, mesmo,da máquina fotográfica.