Embora sinta que "está a envelhecer, que as coisas se estão a tornar mais lentas", a necessidade de "criar sempre desafios ligados a uma coisa genérica chamada viagens mantém-se". Não crê que a idade vá afectar as suas viagens, afirma, porque estas são alimentadas pela sua "curiosidade e necessidade cultural de percorrer o mundo". É com elas que terá de fazer contas, não com o seu físico. Por isso, "não interessa o tipo de viagens, mas sim a motivação" - nem que seja "uma pequena viagem a um desfiladeiro no Norte de Espanha que mudou a História da Península Ibérica (onde os árabes voltaram para trás)", que se calhar ficará para quando tiver 80 anos. Até lá, outras viagens se escondem para lá do horizonte, a desafiá-lo. "Sempre senti que estava em viagem."
Bilhete de identidade
Gonçalo Cadilhe nasceu em 1968, na Figueira da Foz, e licenciou-se em 1992. Foi no final da licenciatura que começou a viajar "de forma mais consistente" e a publicar textos das suas viagens, actividade que se tornou permanente em 1996. Mantém colaborações regulares com o Expresso, Visão Viagens, Blitz, SurfPortugal, uma revista de surf brasileira e tem uma crónica semanal sobre viagens na Antena 1 (às sextas-feiras, às 9h40). Publica regularmente desde 2005, ano de Planisfério Pessoal e de No Princípio Estava o Mar. Seguiram-se A Lua Pode Esperar (2006), África Acima (2007), Nos Passos de Magalhães (2008), Tournée (2008), 1 Km de Cada vez (2009), O Mundo é Fácil (2010) e, acabado de sair, Encontros Marcados (2011). Em 2007 estreou-se nos documentários para televisão com um projecto sobre Fernão de Magalhães, experiência que repete com Geografia das Amizades (2010) e, no mesmo ano, com Nos Passos de Fernão Mendes Pinto, que assinalou os 500 anos do nascimento do autor da Peregrinação. O próximo projecto ainda é "um diamante em bruto", por isso não o revela - mas será, novamente, televisivo.
As viagens de eleição
2002-2004
Volta ao mundo sem transportes aéreos. Durante 19 meses, atravessou 38 países, numa viagem que deu origem ao livro Planisfério Pessoal. "Foi o maior desafio que tive."
2006
Viagem do Sul ao Norte de África, "à boleia e no que fosse possível". Foi a viagem mais exigente em termos físicos e de desconforto. E se, conta, na viagem à volta do mundo tinha fé de que tudo ia correr bem, nesta ia "muito céptico". "Só quando cheguei à Mauritânia respirei fundo." Acabou em livro - África Acima.
2007
A viagem no rasto de Fernão Magalhães. Foi "um bocado atípica", pela "logística brutal que implicou", e resultou num documentário (RTP2) e num livro, Nos Passos de Magalhães. À medida que as coisas foram acontecendo, foi descobrindo "uma poesia na viagem que a partida não antecipava".
2008
Um ano a viajar pelas ondas de surf preferidas. E um projecto muito pessoal: há anos que andava a pensar esta viagem para os seus 40 anos, 12 ondas para 12 meses. "Uma viagem de que me orgulho muito, porque demonstra alguma determinação e perspectiva do que é importante na vida." Uma aposta (quase) ganha, só nas Galápagos é que nem chegou a tirar a prancha porque não houve ondas. A memória está no livro 1 Km de Cada vez.