Fugas - Viagens

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Petra: Era uma vez uma rosa no deserto

E, saboreando o silêncio absoluto, exausto mas ébrio de felicidade, por ali fico a lançar olhares ao Kahzenh, aquele monumento que habita o imaginário de tantos viajantes, tão importante para colocar Petra na lista de Património Mundial da Unesco (1985) ou entre as novas Sete Maravilhas do Mundo (em 2007, numa cerimónia que teve o Estádio da Luz como palco).

- Olá!

Assusto-me e viro-me instantaneamente para trás. A voz do menino, seguido pelo pai, rompe o silêncio. Olhamos agora os três, durante mais uns minutos, aquele edifício que despreza o tempo ainda mais do que nós. E para a noite, depois de um jantar retemperador, fica agendado um encontro num lugar especial.

Com o advento do cristianismo, as igrejas começaram a recortar-se na paisagem, mas com os sismos em 363 e 551 grande parte das habitações ruiu como um castelo de cartas, um cenário para o qual despertaram os muçulmanos durante as invasões no século VII. Envolta na obscuridade durante 500 anos, Petra - mas não as suas gentes - voltou a ser mencionada no século XII, quando os cruzados construíram dois fortes na região. Na sua solidão, a cidade era agora apenas conhecida pelos beduínos, que aqui permaneceram até 1984, altura em que o governo impôs a sua mudança para uma aldeia nos subúrbios.

A paz crepuscular cai sobre Petra e é nessa meia escuridão do crepúsculo que regresso ao hotel, para o abandonar no momento em que a lua já substituiu o sol. Sentados no bar onde a vida fervilhava em voz baixa, pai e filho oferecem-me um lugar na mesa que ocupam. Também aquelas paredes me podiam contar histórias com dois mil anos, desde o tempo em que serviu de túmulo. No Cave Bar, onde as tardes morrem e as noites nascem, fala-se de viagens, de projectos, de sonhos e de amizade.

- Mais do que pai e filho, somos bons amigos. Os melhores.

A criança, sempre com os caracóis caindo até aos ombros, sorri e aquiesce com a cabeça.

Caí na cama mais morto do que um morto, um morto em vida, e quando a noite se escapava pela janela, dando lugar à primeira alva do dia, pus-me de novo a caminho. Ao longo do Siq, essa enorme garganta que me engole, ouço os cascos dos cavalos pisando aquele chão esfarelado. De repente surgem dois cavaleiros e eu quero acreditar que aquela é uma cena do filme "A Última Cruzada", de Steven Spielberg. Sean Connery é seguido por Harrison Ford, que se mostra ao mundo como Indiana Jones. Pai e filho.

Quando ir

A altura ideal para visitar Petra é na Primavera, quando os dias são mais frescos, ou no início do Outono, com temperatura amena em comparação com o clima tórrido habitual nos meses de Verão, especialmente entre Maio e finais de Setembro. Mas mesmo nesse período é importante ter em conta que as horas médias do dia podem proporcionar um calor difícil de suportar, exacerbado pelo facto de que visitar a cidade perdida dos Nabateus implica longas caminhadas pelo meio de uma paisagem deserta.

O Inverno também se apresenta como alternativa mas as manhãs e as noites são frias e há sempre a possibilidade de nevar - as chuvas ocorrem com pouca frequência. Para quem pretende escapar ao turismo em massa aconselha-se a visita às primeiras horas do dia, garantindo uma certa distância quando todos ainda se detêm a admirar o Tesouro.

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