Fugas - Viagens

  • Cathal McNaughton / Reuters
  • David Moir / Reuters
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  • Cathal McNaughton / Reuters
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Bem-vindos a bordo do novo Titanic

Este momento épico, ricamente descrito nas páginas do Belfast News Letter, foi testemunhado por mais de 100 mil pessoas que, precisamente um quarto de hora depois do meio-dia, tal como estava previsto, pousaram os olhares naquele palácio flutuante, a excelência do luxo e do conforto. Como se de um prenúncio se tratasse, o 401, como era designado antes do primeiro contacto com a água, começou por fazer logo uma vítima. James Dobbins, ocupado a retirar maciças traves de madeira por baixo do casco para facilitar a entrada do barco na água, foi atingido por uma viga e ficou preso debaixo dela. Os companheiros ainda tentaram resgatá-lo mas as lesões sofridas acabariam por provocar a sua morte, horas depois, no hospital - na construção do navio foram contabilizados 246 feridos, alguns com tal gravidade que ficaram incapacitados para o trabalho, e oito mortos.

Entre aquele mar de gente, ébrio de alegria e de orgulho, ninguém se apercebeu da tragédia e muitos dos trabalhadores não estavam sequer presentes - aquele era um acontecimento histórico que, mesmo num tempo de miséria e de fome, justificava o sacrifício inerente à perda de um dia de trabalho.

Deambulo por mais uma galeria do Titanic Belfast, depois por outra, confronto-me com o requinte com que foi concebido, observando atentamente as reproduções das cabinas de primeira, segunda e terceira classes, as zonas comuns, os restaurantes, o ginásio, os banhos turcos, as salas das máquinas, tanta opulência; detenho-me para tentar perceber como foram criados certos mitos, os filmes que motivou (aquele que foi realizado por James Cameron, em 1997, agora de volta às salas, foi o mais caro de sempre da história cinematográfica mas rendeu até finais de 2010 qualquer coisa como 1,8 milhões de dólares, cerca de 1,4 milhões de euros), as histórias de vida e de morte que ficarão para a eternidade.

Percorro os espaços como se também eu vivesse na angústia de partir a bordo daquele gigante dos mares, aquela verdadeira cidade que se julgava estéril de perigos, que tanto abrigava uma elite endinheirada como humildes trabalhadores em busca do sonho americano - e é bom não esquecer, para melhor se perceber o projecto da White Star Line, a empresa que mandou construir não apenas o Titanic mas também o Olympic e o Britannic, que só na primeira década do século XX oito milhões de emigrantes da Europa desembarcaram em Nova Iorque. Comparo as incomparáveis ementas da terceira e da primeira classe para 14 de Abril de 1912, o dia fatídico, e deixo que o olhar se demore um pouco mais na extensa lista com que o Titanic foi sendo abastecido nos diferentes portos onde fez escala (depois do primeiro contacto com a água, a 31 de Maio de 1911, o transatlântico permaneceu na capital da Irlanda do Norte até 2 de Abril do ano seguinte, para que os trabalhos no interior fossem concluídos). Os números são, uma vez mais, impressionantes e reveladores da grandiosidade do navio e de que como era a vida no Titanic antes de encontrar a morte: 34 mil quilos de carne, 5000 quilos de peixe fresco, 3400 de bacon e fiambre, 40 mil ovos, 1130 quilos de salsichas, 1600 quilos de cebolas, 36 mil maçãs, 1250 quilos de ervilhas frescas, 2750 quilos de tomate, 40 mil de batatas, 20 mil cervejas, 15 mil garrafas de água mineral, 1500 de vinho e oito mil cigarros.

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