Fugas - Viagens

  • Cathal McNaughton / Reuters
  • David Moir / Reuters
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  • Cathal McNaughton / Reuters
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Bem-vindos a bordo do novo Titanic

Numa quarta-feira, dia de partida dos navios da White Star Line, à uma da tarde, o povo erguia os braços para se despedir do palácio flutuante que se preparava para deixar Southampton. Estávamos a 10 de Abril de 1912.

A meio de uma manhã de uma luz mitigada, chego ao portão principal do porto desta cidade inglesa. Vou ao encontro de um agente que me tira as medidas, como anteriormente tirei as do Titanic para informar o leitor, e identifico-me.

- Benfica?

O escocês, adepto do St. Mirren, olha-me nos olhos com um sorriso:

- Vou chamar o meu supervisor.

Daí a uns breves minutos, o responsável, com problemas de locomoção, aborda-me:

- Caminhe até àquele edifício que vê à sua direita e diga o que pretende ver e fotografar.

Antes de chegar aos Estados Unidos, o Titanic ainda tinha escalas previstas em Cherbourg, em França, e em Queenstown, na Irlanda - actualmente rebaptizada Cobh, transportando a partir daqui 1316 passeiros e 882 membros da tripulação, num total de 2208.

Deixo que os meus passos percorram aquele curto trajecto. Fico à espera, não muito tempo, e uma senhora simpática, até essa altura oculta num gabinete, cruza o olhar com o meu no momento em que assoma à porta e sorri. Preencho um documento e recebo na mão direita um colete reflector que ela me estende com a mão esquerda. E, juntos, caminhamos, recebendo na face a brisa do mar.

- Está a ver aquelas carrinhas brancas à sua esquerda?

Olho e vejo um barco sulcando as águas na direcção do porto. E vejo também as carrinhas brancas.

Lorrane Nottley fita-me para se certificar de que vira mesmo.

- Foi precisamente dali que partiu o Titanic.

Depois de deixar Queenstown, e numa altura em que deslizava a uma velocidade superior à que registara até aí, o Titanic atingiu as águas geladas da costa de Newfoundland. Estávamos a 14 de Abril, a escassos 20 minutos da meia-noite, uma noite em que o mar estava manso. O icebergue, avistado pouco antes, não pôde ser contornado e a colisão tornou-se inevitável, danificando a parte direita do navio. A água infiltrou-se em alguns dos compartimentos dianteiros e a proa não tardou a inclinar-se, numa altura em que muitos passageiros dormiam. Thomas Andrews, que desenhara o barco, informou o capitão Edward Smith de que ao Titanic restava entre uma hora e meia a duas horas de vida. Não mais. Cinco minutos após a meia-noite, foram dadas ordens para preparar os barcos salva-vidas. Alguns dos passageiros mostraram-se relutantes em abandonar o conforto do navio, preterindo a única solução de recurso. Muitos dos barcos salva-vidas, escassos face ao número de passageiros, partiram com metade dos lugares por preencher. Mulheres e crianças tinham prioridade mas, contrariando o estabelecido, Bruce Ismay, presidente da White Star Line, saltou para o penúltimo a partir. Eram duas e dezoito quando as luzes desapareceram, dois minutos depois o mar engolia a cidade flutuante e com ela tantos sonhos. A frieza dos números desta vez quase podia ser dispensada. Mas o leitor exige saber: 705 sobreviventes e 1503 mortos.

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