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Wroclaw, uma mão-cheia de coisas extraordinárias (que não são polacas)

Por Luís Maio (texto e fotos)

Depois de Cracóvia, chega a vez de Wroclaw ficar na moda. A nova sensação urbana da Polónia tem pontes com cadeados fechados a corações e muitos edifícios com plantas circulares. A espantosa capital da Silésia é um dos palcos do Euro 2012 e, em 2016, será Capital Europeia da Cultura.

As cidades Euro na Polónia
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Breslau é o nome que sobressai nas brochuras, nas canecas e até nos néones de Wroclaw. Breslau é alemão, Wroclaw é polaco. Mas a cidade também já respondeu pelas designações latinas de Vratislavia e Wrotizla, Wretslaw (em checo) e Pressau (sob domínio austríaco). Poucos serão os lugares na Europa que já conheceram mais nomes e bandeiras diferentes. A maior cidade da região da Silésia começou por pertencer ao reino da Polónia, depois da Boémia, foi parte do Império Austro-Húngaro, do reino da Prússia, do Império Alemão e do Terceiro Reich, até ser integrada na Polónia moderna.

Wroclaw já passou por tantas mãos que pouco sentido faria reclamar-lhe a pertença por direito a uma só nação. Foi este, porém, o cavalo de batalha que levou as autoridades comunistas a montarem a Exposição dos Territórios Recuperados em 1948, na grandiosa Sala Centenária, por essa altura rebaptizada de Sala do Povo. O espectáculo de propaganda, o maior alguma vez organizado na Polónia, serviu realmente para legitimar a anexação soviética pós-guerra daquela que era a franja mais oriental da Polónia. A mudança de fronteiras levou milhares de polacos a debandar da actual Ucrânia, em particular da cidade de Lviv (antes Lwow, em polaco) para Wroclaw - da qual foram entretanto compulsivamente expulsos milhares de alemães. 

A maior parte das atracções de Wroclaw não é polaca e ninguém é de lá - pelo menos há mais de duas gerações. Boa parte dos turistas, por outro lado, é alemã, de volta às suas raízes. Aos "pioneiros" que emigraram da Ucrânia depois da guerra juntaram-se desde a queda do Muro os contingentes de estudantes europeus que passaram a frequentar a sua dezena de faculdades. São hoje cerca de 40 mil universitários numa população que ronda as 700 mil pessoas, a quarta maior da Polónia. As consequências não poderiam ser mais interessantes, do ponto de vista cultural. Wroclaw tem um centro histórico recheado de jóias de épocas e em estilos muito diferentes. Mas é também uma cidade com uma vibração jovem e cosmopolita, que procura rivalizar, mais do que colar-se, ao sucesso da "vizinha" Cracóvia. 


A ponte dos corações

Wroclaw cresceu sobre uma dúzia de ilhas e ilhotas emolduradas pelo rio Odra e uma série de afluentes que nele entroncam por estas latitudes. A ligação entre esses pedaços de terra é hoje assegurada por mais de uma centena de pontes, entre as quais meia dúzia de obras notáveis de engenharia em ferro da segunda metade do século XIX. A mais famosa é a ponte Tumski, que liga as ilhas do Sal e da Catedral e está carregada de cadeados com corações pintados. Mas muito antes da moda criada por Tre Metri Sopra Il Cielo, o livro de Federico Moccia de 1992 transformado em filme em 2004, já a ponte Tumski era um santuário para os apaixonados polacos. É o género de local com aquela dose de magia que se divisa numa entrada para outro mundo, neste caso a ilha da Catedral. O sítio em que a cidade nasceu tornou-se um condensado de arte e arquitectura religiosas, onde se sucedem, e por vezes se sobrepõem, preciosas obras góticas e barrocas. Entre igrejas, bibliotecas, conventos e seminários, respira-se um ar de recolhimento e de meditação, mas também de vila dentro da cidade. 

A pacata ilha da Catedral rivaliza no topo das atracções locais com a bem mais agitada Praça do Mercado. A segunda maior do país, logo a seguir à de Cracóvia, tem uma superfície de 3,7 hectares e funciona como súmula de meio milénio de arquitectura civil, desde os coloridos prédios estreitos, típicos do maneirismo holandês, ao meio quarteirão de escritórios de matriz modernista, passando pela monumental câmara municipal, própria ao gótico tardio. Pode não parecer, mas quase tudo aqui é réplica de outra coisa qualquer. Metade da praça estava em ruínas no fim da guerra, em 1945, o resto foi na altura desmontado e "emprestadado" para a reconstrução do miolo antigo de Varsóvia. Não impede que seja agora o lugar onde quase tudo se passa na maior cidade do sudoeste polaco. Detendo a maior concentração de restaurantes e capelas nocturnas da cidade, além de grandes armazéns e comércio tradicional, a antiga praça do mercado é certamente o sítio mais efervescente de Wroclaw.


Coisas redondas


Muita da juventude que anima a praça, sobretudo à noite e aos fins-de-semana, anda a estudar na universidade, que foi fundada quase clandestinamente pelos jesuítas em 1670 e ressuscitada depois da II Guerra Mundial pelas mentes mais brilhantes de Lwow. O edifício-sede é outra maravilha, onde se destaca a Aula Leopoldina, celebração barroca da Sabedoria Divina sob a forma do Espírito Santo na companhia das ciências, dos sábios e da aristocracia setecentista. Há mais espaços que valem a pena na universidade, nomeadamente o terraço da Torre Matemática e as suas esplêndidas vistas panorâmicas sobre a cidade velha. Mas o que é realmente imperdível é a adjacente Igreja do Nome Sagrado de Deus, igualmente barroca, opulenta e delirante.

Deve ser uma coincidência, mas alguns dos edifícios mais interessantes de Wroclaw têm planta circular ou oval. É o caso da já mencionada Sala Centenária, construída em 1913 a pretexto de comemorar cem anos da vitória sobre Napoleão na Batalha de Leipzig. Com um diâmetro interior de 69 metros e uma altura de 42 metros, era na altura uma aposta arrojada, uma experiência em betão e metal, incluindo a maior cúpula construída desde o Panteão de Roma. O projecto, da autoria do alemão Max Berg, foi muito contestado, os próprios operários recusavam-se a entrar na sala depois de acabada, com medo que viesse abaixo. Acabou, no entanto, por se revelar um sucesso, recebendo desde Adolf Hitler a João Paulo II, passando pela supracitada Exposição dos Territórios Recuperados, promovida pelas autoridades comunistas. Agora, a Sala do Centénio, bem como a pérgula que a remata, servem de palco a uma variedade de espectáculos musicais e desportivos, abrigando inclusive feiras de velharias.

Também de planta circular é o edifício construído para abrigar o Panorama da Batalha de Raclawice, porventura a morada mais visitada na cidade, certamente a mais procurada pelas excursões de escolas e famílias polacas. O Panorama ilustra uma batalha lendária, onde os polacos venceram os russos, em 1794, e mede 120 por 15 metros. Estava em exibição em Lwow desde 1894, até os russos tomarem conta da cidade, no fim da II Guerra Mundial, e despacharem a representação do vexame nacional para outro lado. Wroclaw agradeceu, mas as autoridades comunistas foram adiando a exibição e o edifício terminado em 1967 só abriu ao público nos anos 1980. Vendo as coisas em retrospectiva, ou pelo menos numa perspectiva não patriótica, faz mais sentido valorizar o brutal cilindro em betão que serve de embalagem do que a banda desenhada ingénua da batalha que guarda no interior.


Efeitos mágicos


A esta lista de edifícios iconográficos deverá juntar-se o novo estádio municipal de Wroclaw (Stadion Miejski), no subúrbio noroeste da cidade, que por sinal também não é polaco - foi projectado pelo atelier alemão JSK (o mesmo do estádio de Berlim). 

A fachada em fibra de vidro coberta de teflon é semitransparente e permeável à luz, produzindo o efeito "mágico" de um estádio que se ilumina e muda de cor consoante as ocasiões. O efeito é semelhante a uma gigantesca lanterna chinesa, iluminando o novo parque de recreio com bancos e zonas verdes, que corre em redor do estádio. Para Wroclaw estão agendados três jogos do grupo A, onde concorrem a Polónia, a República Checa, a Grécia e a Rússia. 

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