A sopa está pronta, as batatas fritas aloiradas e a pizza cortada. Há latas de tomate em abundância e a massa tem direito a uma fábrica. Para a sobremesa? Uma casa de chocolate e favos de mel.
A ementa pode parecer um pouco estranha para um festival internacional, mas por aqui as aparências podem iludir. É que não falamos de gastronomia, mas da 8.ª edição do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, dedicada ao tema Jardins p'ra comer. Até 31 de Outubro pode comprovar, numa margem do Lima junto à vila, que os jardins também se comem. Pelo menos com os olhos.
E por aqui a criatividade permite quase tudo. Mesmo um jardim sem flores. A provar isso mesmo está o Jardim Plástico, da autoria de um designer espanhol, um dos onze que o júri seleccionou de um conjunto de 49 propostas. "É uma sopa de sensações, cozinhada numa enorme panela e servida em pratos e tigelas", descreve o autor, António Carvalho, na apresentação do trabalho. Um prato raso azul e por cima outro, de sopa, vermelho, ambos a servir de base a uma tigela branca, que dentro ainda alberga um copo verde pintalgado de azul. Uma flor artificial sustentada num caule branco de madeira. E a receita repete-se às dezenas com variações de composição e cor que divertem os participantes convidados a passear entre colheres e garfos gigantes.
Mesmo ao lado, uma história de encantar serve de inspiração ao jardim de Catarina Lopes, que decora duas árvores com enormes chupa-chupas coloridos. Mas os mais novos quase ignoram essa primeira parte do projecto recheada por flores comestíveis, que pretendem alertar para algumas plantas ignoradas na alimentação. E deliciam-se com banhos no "caldeirão da bruxa", uma piscina de bolas azuis e laranjas, dentro da casa de chocolate.
Como saltamos da sopa directamente para a sobremesa temos de fazer marcha-atrás e voltar ao prato principal. Associando-se jardins consegue-se uma ementa mais completa. As batatas fritas gigantes que deslizam e baloiçam combinam bem com a pizza de grandes dimensões, que presta homenagem à dieta mediterrânica. Porquê fazê-lo através de uma pizza? As quatro arquitectas paisagistas que criaram o jardim explicam: "Nos dias de hoje a pizza é um prato que serve a mesa de todos os portugueses e está sempre associada ao conceito de fast-food, sendo intuito desta proposta desmistificar precisamente este preconceito. Assim, a ‘sugestão do chef' é uma pizza mediterrânica!" Comuns aos dois projectos, as begónias, que num caso simulam o ketchup (com a garantia de que a aproximação não vale nódoas na roupa) e noutro rodelas de chouriço.
Na Fábrica de Paisagem apresenta-se um percurso pelas diferentes fases de produção da massa, numa metáfora à cadeia de alimentação humana. Uma divertida árvore de massa, a que os autores chamaram Máquina da Vida, remata um ciclo que passa pelo cultivo, pela moagem e pela produção industrial. E a massa estendida vai oscilando ao sabor do vento. Pronta a comer com o molho armazenado na Despensa de Tomate, um projecto de dois engenheiros e uma arquitecta, todos espanhóis. Um tapete de latas vermelhas sobressai num chão basáltico. Penduradas em varões, mais latas transformadas em floreiras albergam salsa, tomilho e heras, entre outras plantas e flores.