Fugas - Viagens

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Pela Mouraria, é o fado que nos guia

"Queremos dar a conhecer o fado aos participantes, bem como as suas origens", afirma Paulo Antunes. "Temos dois objectivos com esta iniciativa: voltar a trazer o fado à Mouraria, e sobretudo à rua, e chamar as pessoas para este bairro", acrescenta Inês Andrade, da mesma Associação Renovar a Mouraria.

Segundo a organização, hoje há quem tema passear pela Mouraria por considerar que este é um bairro "perigoso". Mas a realidade, acrescentam, é que este é um dos bairros "mais bonitos de Lisboa" e é "uma pena ser desprezado" pelos próprios lisboetas. "Desmistificar" essa ideia é, então, a palavra de ordem. "Quanto mais pessoas de fora vierem visitar este bairro, mais esse preconceito acaba por cair, porque menos perigo existe", salienta Paulo Antunes.

Quem participa na visita fica com vontade de conhecer mais sobreeste bairro com mais de 900 anos. E o lado lúdico é também um dos objectivos da Associação Renovar a Mouraria e do Museu do Fado. Com partida da Igreja da Nossa Senhora da Saúde, com o primeiro momento de fado, de seguida passa-se à Rua da Mouraria, onde se ergue o Edifício Amparo (construído no século XIII), o Antigo Colégio dos Meninos Órfãos. Mandado reedificar por D. José, rasga-se um portal manuelino que dá acesso ao interior, onde as paredes estão revestidas por azulejos do século XVIII. "É claro que com o terramoto de 1775 o edifício ficou um pouco gasto", diz Paulo Antunes. Mas ainda assim, para o visitante Fernando de Oliveira o Edifício Amparo tem "os azulejos mais bonitos da cidade".

Ao virar à direita, a Rua do Capelão espera pelos visitantes, onde a tradição do fado salta aos olhos de quem passa. Se "a Mouraria é as entranhas de Lisboa, a Rua do Capelão é, então, o coração do bairro", confidencia Paulo Antunes. A casa onde nasceu Maria Severa Onofriana, ou Severa, não passa despercebida. Considerada a mítica fundadora do fado, Severa apaixonou e inspirou muitos fadistas. "Há quem diga que o fado nasceu na Mouraria por causa da Severa", conta Paulo Antunes. Agora, a casa da Severa vai ser transformada no Centro Interpretativo do Fado. A Rua do Capelão é também o berço de Fernando Maurício. "Era uma pessoa simples, não se preocupou muito em fazer carreira", contextualiza Paulo Antunes.


Para turistas de Lisboa

O guia explora os recantos do bairro lisboeta. É no largo da Severa que miúdos e graúdos se juntam para ouvir mais uma vez Ana Maurício. À janela, vários habitantes esperavam pela chegada da fadista que, de uma só vez, cantou cinco músicas, deixando em êxtase os amantes do fado. "Isto é lindo, mesmo bonito. Nem parece que estamos em Lisboa", diz Anabela Rainho, visitante que não se cansou de aplaudir a artista. "É fundamental trazer o fado às suas origens", acrescenta.  "É como ir a outra cidade. Traz-me memórias do passado e da minha referência, que é o fado. Sinto-me uma turista, apesar de ser de Lisboa", entusiasma-se Patrícia Lemos, outra participante na visita.

Continuando pela Rua João de Outeiro, Paulo Antunes apresenta a casa onde nasceu Argentina Santos, "uma das divas do fado". E, como Mouraria faz pensar em tascas e como as tascas fazem pensar em Lisboa e Lisboa faz pensar em fado, nessa rua cruzamo-nos com as inevitáveis tasquinhas - a 21 de Julho nasceu a Rota das Tasquinhas e Restaurantes da Mouraria. "É para comer bem e desfrutar do bairro lisboeta", descreve o guia. Apropriadamente, o percurso das "Visitas Cantadas na Mouraria" termina no bar do senhor António, Os Amigos da Severa, com "uma ginjinha que é a melhor de Lisboa", diz Paulo Antunes.

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