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Barranquilla, o Carnaval imperdível da Colômbia

Se a mescla de culturas é visível para quem assiste, como eu, à passagem do vistoso desfile ou através de uma caminhada ao longo da Calle 98 ou da 84 — conhecida como La Rumba por ser a zona da moda —, nada melhor do que uma visita ao Museu do Caribe para compreender o carácter singular da mistura de culturas aborígene e africana e a sua capacidade para resistir aos invasores espanhóis e preservar os seus mitos, as suas expressões populares e as suas crenças. Trata-se de um espaço versátil para ver, sentir e tocar elementos culturais da costa atlântica e que foi erguido sobre os antigos terrenos de uma cervejaria, um total de 22 mil metros quadrados que, graças à tecnologia, mostram as lendas do imaginário das Caraíbas, bem como momentos importantes da história social e política da região.

Integrado num ambicioso projecto arquitectónico designado Parque Cultural Caribe, o museu tem também uma sala dedicada ao realismo mágico de Gabriel García Márquez, sempre presente na mente dos curramberos — o escritor colombiano, Prémio Nobel da Literatura em 1982, viveu em Barranquilla na década de 1950. “Barranquilla permitiu-me ser escritor. Tinha a maior população de imigrantes de toda a Colômbia — árabes, chineses, etc. Era como Córdova na Idade Média. Uma cidade aberta, cheia de pessoas inteligentes que se estavam nas tintas para serem inteligentes.2 As palavras do escritor, escutadas pelo seu biógrafo, Gerald Martin, em Uma Vida (D. Quixote), não nos deixam mentir sobre o carácter das gentes da cidade onde Gabo chegou com duzentos pesos, uma sandálias nos pés e apenas duas mudas de roupa que lavava no duche.


O enterro de Joselito

- Esta gente poupa para viver o Carnaval. Se não tem dinheiro, penhora uma televisão ou um frigorífico para comprar umas grades de cerveja.

A simpática agente da polícia, do Departamento de Investigação e Combate ao Narcotráfico, passa grande parte do tempo ao meu lado, ora sorrindo, ora contando histórias de um Carnaval histórico, durante o qual, segundo números que podem pecar por defeito, são vendidas cerca de 100 mil caixas de rum e aguardente. No total, mais de três mil agentes garantem a segurança do evento, também controlado desde o espaço aéreo por dois helicópteros. O homem que, vítima de um enfarte, desfalecera entre a multidão por vezes histérica, regressa na ambulância a tempo de presenciar ainda grande parte da festa e é aplaudido e recebido com abraços pelo povo em êxtase.

- Parecia mais morto do que um morto e está de volta mais vivo do que eu.

A jovem, com uns bonitos cabelos encaracolados que lhe caem pelos ombros e uns olhos negros como o carvão, sorri ao pronunciar estas palavras, enquanto encosta o gargalo aos grossos lábios. A cerveja desaparece nas gargantas sequiosas, o sol continua a castigar com a sua inclemência e a agente da polícia estende-me duas garrafas de água no exacto momento em que ambos recebemos um banho de espuma. É Carnaval, o mundo saiu para a rua, quien lo vive, es quien lo goza. Oficialmente inaugurados há mais de um século mas com uma tradição que remonta a muito antes, os festejos prolongam-se por quatro dias, paralisando, literalmente, qualquer actividade na cidade.

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