Fugas - Viagens

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    Casa dos Bicos Rui Gaudêncio
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    O Chafariz D`El-Rei Rui Gaudêncio
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    Rua da Judiaria Rui Gaudêncio
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    Entre Largo de São Rafael e Rua da Judiaria Rui Gaudêncio
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    As Escadinhas do Terreiro do Trigo Rui Gaudêncio
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  • Uma das riquezas de Lisboa: os miradouros
    Uma das riquezas de Lisboa: os miradouros Rui Gaudêncio
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    Uma das riquezas de Lisboa: os miradouros Rui Gaudêncio
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    Santo Estevão Rui Gaudêncio
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    Igreja de Santa Engrácia, Panteão Nacional Rui Gaudêncio

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Viajantes do tempo à procura do que escondem as ruas de Lisboa

Alfama é o bairro a atravessar, mas as voltas tornam-se labirínticas a partir do momento em que se deixam para trás os caminhos mais conhecidos. Espreita-se um troço da muralha islâmica, anterior à fernandina, junto ao Chafariz do Poeta, como quem segue pela Rua da Judiaria para o interior do bairro. E, surpreendentemente, o grupo inverte de novo a marcha regressando à orla de Alfama.

Mais uma vez se descobrem histórias e recantos escondidos do lisboeta comum. O Largo das Alcaçarias surge, isolado e em silêncio, onde dois gatos se espreguiçam em cantos distintos do local. Raquel conta que foi em tempos um sítio para os nobres irem a banhos, até porque as águas das nascentes de Alfama eram conhecidas pelas suas propriedades curativas. Eram as chamadas alcaçarias, "uma espécie de spa daquela época", brinca Raquel. Uns metros mais à frente, no Largo do Chafariz de Dentro, o grupo volta a encontrar vestígios desse passado termal.

A partir daqui é sempre a subir. O grupo de viajantes depara-se com a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, mandada construir por pescadores, em 1517. O portal é definitivamente manuelino. A capela tem uma lenda associada, segundo a qual terá sido encontrada uma imagem de Nossa Senhora dentro de um poço, ali instalado, cujas águas se tornaram milagrosas. O grupo ouve a explicação de Raquel, mas tem dificuldade na fotografia. Um automóvel está estacionado à porta da capela.

Prossegue-se viagem. A Igreja de Santo Estêvão surge, envergonhada, entre o casario de Alfama. Um pequeno miradouro serve de pausa para os viajantes, enquanto Inês se debruça sobre a história do local. As vistas de Lisboa para o Tejo são sempre surpreendentes, parecem dizer os olhos concentrados de alguns participantes que viram as costas à igreja. Chuvisca, mas ninguém dá importância. Ainda há muito trilho para completar.

Fôlego restabelecido, pés ao caminho. O grupo estranha os edifícios quinhentistas embaulados, nas vielas estreitas, e descobre histórias de palácios. Entra, por fim, em território da antiga jurisdição eclesiástica, pelo que Raquel aconselha, com humor: "Agora portem-se bem." Os pormenores pitorescos de uma Alfama mais recôndita surgem em catadupa e até a voz de Amália Rodrigues compõe o cenário, ecoando à janela de um rés-do-chão.


Estórias e lendas

O longo trilho desemboca, para surpresa de muitos participantes, na famosa Feira da Ladra, em plena manhã de sábado. Fervilha, lotada de pessoas com os olhos postos no chão. Entre o grupo, quase todo proveniente da Grande Lisboa, há quem nunca tenha visitado esta feira, cujas origens se perdem nos tempos medievais da cidade. "As senhoras, por favor, não se distraiam, depois de o passeio terminar, podem cá voltar", avisa Inês, cuja experiência lhe diz que os ouvidos se fecham às explicações quando os olhos procuram pechinchas.

Raquel delicia-se com as estórias da História de Lisboa. Desenrola ali mesmo, no jardim Botto-Machado, em plena Feira da Ladra, a lenda associada à Igreja de Santa Engrácia. Reza que um cristão-novo terá sido condenado à morte por um crime que não cometeu, corria o ano de 1631. O homem, julgado em auto-de-fé no terreiro onde se construía a Igreja de Santa Engrácia, terá lançado a maldição: "Tão cedo morrer inocente como as obras desta igreja nunca mais acabarem". Certo é que a igreja acabou por não ser construída, fruto de contratempos sucessivos. Hoje chama-se Panteão Nacional e a sua cúpula espreita, resplandecente, por cima de telhados, destacando-se na paisagem.

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