O negócio é assim um projecto de família — e até ocupa o jardim da casa onde o casal reside, de acesso vedado —, tendo nascido também em família. Mas não envolve antepassados dedicados às artes manuais. Antes um sobrinho e a tarefa de fazer babysitting, há já 14 anos. Esgotadas as técnicas de entretenimento infantil, Tiago recuperou o gosto que tinha em miúdo de brincar com plasticina, ao mesmo tempo que conseguiu despertar o interesse do miúdo. Os bonecos encantaram o sobrinho e Tiago (re)descobriu, que, afinal tinha jeito para a coisa. Mas a plasticina acaba por quebrar. E foi então que o artesão, seguindo o conselho de Magda, que já nos tempos de estudante se dedicava a pintar loiça para ganhar dinheiro, se dirigiu à Olaria Guimarães Velho, em São Pedro do Corval, para arranjar um bocado de barro e experimentar.
Pouco tempo depois, a dupla ganhava o primeiro Prémio Nacional de Artesanato Contemporâneo na FIL Artesanato, o que aconteceu dois anos consecutivos, em 2000 e 2001, e abria uma loja em Évora. Desde aí, multiplicaram-se os prémios e o desejo de criar um parque temático de Banda Desenhada a três dimensões foi crescendo, acabando por se desenvolver como todo um projecto de vida.
Numa e noutra volta, observa-se uma vara em intelectual jogatana de xadrez, tem-se vontade de saber o que pensa da vida a senhora dona Maria Vinagre, presidente do clube das sogras e esposa do senhor António Sim Querida da Silva, ou de nos juntarmos ao retrato de casamento com ambas as famílias (bizarras) dos noivos (o original pode ser visto no Centro de Artes Tradicionais - Museu de Artesanato de Évora).
A aldeia pode não ser gigantesca, mas é de reservar pelo menos uma tarde inteira para a percorrer, de tantos pormenores que há a descobrir — se aos mais pequenos arrancam brilhos nos olhos, aos crescidos muitas vezes sacam gargalhadas. E, no fim, guardar tempo para as crianças darem forma à imaginação numa bancada para o efeito. No que diz respeito à aldeia, fica a promessa: as peças serão cozidas e ficarão à espera dos autores que as quiserem resgatar.
Por este rio abaixo
Ou acima. No Grande Lago, o tempo passa ao sabor do Guadiana. E, na Amieira Marina, no concelho de Portel, a ordem é para rumar com as correntes tranquilas deste plácido espelho de água.
As opções podem incluir até alugar um barco-casa que qualquer um pode pilotar (para estas embarcações não é necessária carta de marinheiro): albergam entre quatro e 12 pessoas e incluem tudo o que se pode precisar numa casa de férias, desde forno a um lugar ao sol.
Mas, ao longo do ano, há ainda a possibilidade de embarcar em passeios a bordo do grande Guadiana (capacidade para 120) ou dos mais modestos Alcarrache e Degebe (até 25 pessoas por barco). Para quem prefere traçar o seu próprio curso pelo Guadiana, as canoas podem revelar-se uma boa aposta, já que é fácil ancorar em qualquer ponta de terra, dar uns mergulhos e usufruir do sossego, ou aldeia ribeirinha, com direito a garantidos repastos alentejanos. E, entre os miúdos, as “bananas” e as bóias conquistam adeptos e são ideais para passar o tempo a chapinhar. O resto? Bom, o resto é natureza no seu estado puro, sem postes de alta tensão, ou de qualquer outro género, à vista. Para observar: à noite, estrelas naquela que é a primeira Reserva Dark Sky, usufruindo de baixíssimos níveis de poluição luminosa; de dia, uma multiplicidade de espécies de aves que nos acompanham numa imersão ao Grande Lago. Nas suas águas, abundam peixes de muitos feitios, com especial destaque para o ameaçado saramugo. É para o encontrar e também saber mais sobre ele que invertemos marcha, agora para descer um rio muito especial: o rio ibérico à volta do qual se ergue o Fluviário de Mora.