Graciosas, parecem bailarinas que agitam os braços suavemente, num enorme palco onde são as únicas estrelas. Isto apesar do mero e da raia que aparecem a pedinchar atenção, enquanto elas passam. Mas os olhos dos mergulhadores estão todos postos nas jamantas que, imponentes, batem as “asas” pontiagudas — têm pelo menos três metros de envergadura. No dorso verde dão boleia às rémoras. Estes pequenos peixes parasitas viajam junto aos “cornos” que as jamantas têm nas laterais da cabeça (daí o nome peixe-diabo) para ajudar a direccionar o fluxo de água para a boca. As jamantas comem plâncton e as rémoras apanham os restos, enquanto desfrutam de uma espécie de voo de asa delta submarino.
O espectáculo dura talvez dez minutos. Quando deixamos de as ver, percebemos que o mergulho acabou. Estamos quase há 40 minutos debaixo de água, o ponteiro do manómetro do ar marca quase na reserva, é tempo de subir. O ideal seria fazê-lo pelo cabo, mas à medida que avançamos a corrente é tanta que nem sequer conseguimos lá chegar. Deixamo-nos levar. Por sorte, saímos mesmo junto ao barco e conseguimos desequipar-nos sem problemas. E em poucos minutos o grupo está pronto para regressar a terra.
Mergulho no azul
Se fomos afortunados à terceira tentativa, à quarta saiu-nos a sorte grande. No domingo fizemos nova viagem, desta vez mais curta, em direcção a um dos principais spots de mergulho em Santa Maria: a Baixa do Ambrósio, a três milhas da costa Norte. O mar está ainda mais picado do que no sábado, mas mais uma vez descemos pelo cabo do barco. Fazemos o verdadeiro mergulho no azul: é como se caíssemos num poço sem fundo (o chão está a cerca de 50 metros de profundidade, não o conseguimos ver), uma sensação quase vertiginosa.
Paramos, agarrados ao cabo, entre os dez e os 15 metros. Não precisamos de descer mais. Ouvimos novamente as maracas do guia.
Num círculo perfeito à volta do grupo de mergulhadores, oito pares de “asas” batem energicamente, a poucos metros da superfície, como atletas de natação sincronizada. A dada altura, algumas desaparecem no azul, voltam em grupos de duas, ou de três, em fila indiana quase perfeita. De onde estamos, conseguimos ver-lhes o ventre branco, em contra-luz, e as rémoras coladas à barriga. Ficamos ali quase uma hora a vê-las passar.
Nem imaginamos o que estará aos nossos pés, que segredos guarda aquele fundo em mar alto. Os olhos, já habituados ao azul, detectam algures uma espécie de parede prateada, que parece formada por bicudas (ou serão anchovas?), às dezenas. Não conseguimos distingui-las a esta distância mas também não importa. O ar está no fim e subimos.
Paramos antes de um último mergulho numa zona abrigada do vento, junto à costa, e ficamos ali a baloiçar devagar, a fazer o intervalo de superfície. Não voltamos a ver as jamantas mas é como se fechássemos os olhos e elas passassem, outra vez, a voar na nossa direcção. A bordo trocam-se experiências, mais difícil é descrever as sensações. Da nossa parte, há uma inesquecível: pela primeira vez, tivemos vontade de chorar de alegria debaixo de água. E isso não se explica.