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Elas pescam, eles ficam ao leme
As mulheres de Vila do Porto foram para o mar no primeiro fim-de-semana de Agosto tentar a sorte no corrico. Não tiveram muita, mas nem por isso desistiram. Fomos ver quem apanhou mais peixe.
Por trás de uma grande pescadora, há sempre um grande skipper. Podia ser este o slogan do corrico feminino de barco, que se realiza há 11 anos na ilha de Santa Maria. É que nesta prova as protagonistas são elas mas em quase todos os barcos segue um homem ao leme. E o segredo para uma boa pescaria está, em parte, na perícia da condução. O resto é sorte, dizem. Mas este ano não houve muita.
Não é fácil juntar tantas mulheres no mar. A maioria das 66 participantes no torneio deste ano nem costuma pescar, ou fá-lo apenas ao fim-de-semana para passar o tempo. Mas o primeiro fim-de-semana de Agosto era delas. “É a nossa vez”, dizia, firme, Isabel Andrade, enquanto ouvia as regras do concurso, definidas pelo Clube Naval de Santa Maria (CNSM). Isabel, que vai a bordo do Kosmos, nunca falhou uma prova de corrico feminino — a única do género no país. O clube organiza também o corrico geral, que é para todos, embora atraia mais homens.
O corrico é uma pescaria lenta, feita à linha, na ponta da qual se prende a corrica, uma espécie de isco em forma de peixe, feito em materiais como metal ou plástico. Leva ainda um anzol e uma placa que brilha e faz atrito na água. Os peixes predadores sentem-se atraídos rasto deixado pela corrica.
A corrica é lançada na água de modo a ficar a 20 a 30 metros do barco, e este tem de seguir lentamente. Não pode parar, nem quando o peixe pica. É aqui que entra a perícia do skipper — das 18 embarcações a concurso, 16 tinham um homem ao leme. “Ele tem de levar o barco devagar, a uma velocidade constante. E tem de saber voltar ao sítio onde o peixe picou, para ver se apanhamos mais”, diz Helena Cabral, outra concorrente.
Helena participa no corrico feminino pela “quinta ou sexta vez”. Tal como as outras participantes, mora em Vila do Porto. Segue a bordo do Zenite. A melhor classificação que já conseguiu foi um quarto lugar, graças a uma anchova e muitas bicudas. É pescadora de fim-de-semana mas fá-lo com paixão. Gosta de lançar a linha e “sentir a batida do peixe”. A ansiedade é tanta que na noite anterior à prova nem consegue dormir.
O torneio decorre no sábado e no domingo. Os barcos deixam o porto às 17h e podem regressar até às 23h. São seis horas que “passam num instante”, garante Helena Cabral. É nesse período que os peixes predadores, maiores, costumam caçar.
Quem sai para o mar previne-se em terra. No barco, as concorrentes (três no máximo) levam todos os ingredientes para um fim de tarde de festa. É que enquanto o peixe pica e não pica, há tempo para tudo — beber umas cervejas, comer uns petiscos, ou dar música aos peixes tocando uns acordes.
À procura do atum
Os barcos podem dar a volta à ilha e afastar-se até 15 milhas da costa. Naquele fim-de-semana o mar não estava para grandes aventuras — aliás, o vento forte e o aumento da vaga levou a organização a cancelar o segundo dia de prova, por questões de segurança. Os resultados finais seriam os de sábado, dia de pouco peixe. “Logo hoje que íamos apanhar o atum”, lamentava uma concorrente no domingo. O mar trocou-lhe as voltas.