São formas diferentes de dar a conhecer a cidade a turistas e curiosos, mas também oferecem uma nova perspectiva a quem já conhece bem a cidade. "Tours" ou roteiros assumem os mais diversos temas, desde a cultura à história, da gastronomia ao entretenimento.
Paula Teixeira, do Departamento de Acção Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, considera que o aumento de oferta de itinerários e roteiros se deve ao crescimento do turismo na cidade: "Lisboa tem vindo a ganhar terreno sobre outras capitais europeias na área das 'city breaks'". Como complemento, surgem estes roteiros, que se tornam numa forma “diferenciada e relativamente económica de conhecer a cidade sem perder muito tempo”.
O director-geral da associação Turismo de Lisboa, Vítor Costa, encontra uma explicação semelhante: "Os passeios temáticos por Lisboa têm crescido por serem uma das melhores formas de conhecer o destino. São direccionados aos que querem conhecer Lisboa de forma criteriosa, personalizada e de acordo com as suas expectativas. Uma opção de viagem bem diferente dos pacotes fechados e padronizados, que tem como base o perfil de cada visitante".
Para ajudar a construir esta ideia de uma Lisboa emblemática que vale a pena visitar ajudou certamente a forte visibilidade que a capital portuguesa tem merecido a nível mundial: "A imprensa internacional tem destacado a cidade, a sua gastronomia e geografia". Não só o turista fica a ganhar porque "não perde tempo à procura de informação ou a visitar lugares que não são do seu interesse", como também quem organiza os roteiros.
Paula Teixeira considera que esta tendência se deve também a condicionantes dos próprios organizadores: "Esta é uma oportunidade de emprego para licenciados em áreas de fraca empregabilidade como a História, História da Arte, Antropologia, Sociologia ou a Literatura. São normalmente jovens e têm da cidade uma visão múltipla e abrangente".
Raquel Policarpo, uma das responsáveis pela Time Travellers, associação cultural que organiza sobretudo roteiros de cariz histórico, destaca que o grande objectivo dos que organiza é sobretudo "levar as pessoas a conhecer e a gostarem de História, desmistificando a ideia de que falar sobre o passado é aborrecido".
Porque estes roteiros não são apenas para quem está de passagem, mas também para quem quer construir visões inovadoras de Lisboa, reunimos alguns percursos que trazem novos elementos à cidade.
1. “Lisboa Sensorial”
Este tour da Lisbon Walker é uma forma de explorar a cidade sem a visão, "que corta normalmente os outros sentidos que habitualmente não exploramos", explica José Antunes, um dos responsáveis por estes roteiros. Por ser um percurso feito de olhos vendados, cada participante é conduzido por um guia. A principal intenção do roteiro não é interpretar o "universo invisual num sentido incapacitante", mas sim sentido "positivo e estimulante", de forma a conhecer mais profundamente os sentidos do olfacto, tacto, gosto e audição. O acompanhante é geralmente feito por um invisual da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal).
O grupo não poderá exceder os 10 participantes por sessão, pelas questões logísticas de deslocação que envolve e será também acompanhado por um segundo guia, cuja função é contextualizar historicamente os locais pelos quais o tour passa.
2. “Lisboa Cidade de Espiões”
Mais um roteiro da Lisbon Walker, que acontece aos segundos domingos de cada mês. Debruça-se especialmente sobre o período da Segunda Guerra Mundial. "Apesar de não ter participado no conflito, Portugal também viveu a guerra. Foi importante para muitos refugiados e exilados. Era um espaço seguro, ao contrário de toda a Europa".
Fora da guerra e um território neutro, mas no contexto de um regime não-democrático, Lisboa foi o palco central para espiões das forças do eixo e aliados, e que para José Antunes, acaba por mostrar "outro lado do Estado Novo".
3. Movie Tour
Como é a Lisboa das grandes obras da 7.ª arte? A Lisbon Movie Tour foca-se especialmente nos locais de rodagem dos filmes “Afirma Pereira” (1995), de Roberto Faenza, e “Filme do Desassossego” (2010) de João Botelho, inspirado na obra literária de Fernando Pessoa.
Desde o Miradouro de S. Pedro de Alcântara, ao Elevador da Bica até à Praça Dom Pedro IV e a Praça do Comércio, este roteiro mostra a Lisboa cinematográfica, com o acompanhamento de um guia e de um "tablet", onde vão sendo exibidas as cenas dos filmes correspondentes aos locais pelos quais se vai passando.
Mais: Eles querem passear-nos por Lisboa, filme a filme
4. A Lisboa Boémia
Com formação em História e Arqueologia, os roteiros de Inês Ribeiro e Raquel Policarpo são bastante diversificados. É o caso do Passeio à Boémia, que se centra numa época "fértil em mudanças políticas e sociais" na viragem para o século XX. Desde o Martinho da Arcada e A Brasileira, indissociáveis de Fernando Pessoa, até ao café Nicola, de Bocage, ficamos a conhecer "não só os cafés mais famosos da altura, mas também as vidas de famosos escritores e personagens lisboetas".
Neste percurso também se incluem algumas das lojas "mais chiques de Lisboa", num momento histórico em que o Chiado se tornou no "local da moda, onde as damas e a rainha iam às compras de belos tecidos, luvas e chapéus".
5. Ghost Tours
Todas as cidades têm as suas histórias assustadoras e macabras, e Lisboa não é excepção. Num clima o mais tenebroso possível, os passeios acontecem à noite. Para uma representação mais fiel das histórias associadas ao crime e à morte nos recantos da Baixa Lisboeta, são chamados para o percurso alguns actores, que encenam e dão alguma realidade às histórias narradas, baseadas sempre em acontecimentos verídicos.
Destacam-se os massacres de judeus, na viragem para o século XVI ou as execuções sumárias do Estado Novo. Rita Ferreira, responsável por este "tour", deixa mesmo o aviso: "Temos algumas descrições de tortura bastante minuciosas, por isso não aconselhamos o passeio a menores de 12 anos, a menos que seja um passeio excepcional, adaptado para crianças".
Mais: Um périplo horripilante, de crimes e fantasmas, pelas ruas de Lisboa
6. Passeio Fado
O património imaterial da humanidade tão articulado à própria identidadede Lisboa, não podia estar ausente desta lista. Que o diga a jornalista Anja Mutic, do Washingston Post. Este passeio promovido pela Lisboa Autêntica dura cerca de duas horas e meia, onde se juntam a história dos mais míticos fadistas, desde as histórias de Severa até aos nomes actuais; a música, pelo menos um fadista é convidado para cantar ao vivo; e a gastronomia, onde não falta o caldo verde e o chouriço assado.
7. Lisboa Gastronómica
E por falar em gastronomia, as especialidades do mediterrâneo características da cidade têm também direito a um roteiro exclusivo da Lisboa Autêntica, em que as melhores tasquinhas de Lisboa são dadas a conhecer.
“A comida não é só o que está no prato”, é o que dizem os organizadores. É as tascas antigas, as mercearias de bairro, os cafés antiquados e modernos. Começa no Quiosque do Refresco, no Largo de Camões, passa por locais emblemáticos como a Leitaria à Camponesa, a Conserveira de Lisboa, e termina na tasca “Os Amigos da Severa”, em plena Mouraria, onde se pode concluir o passeio com uma ginjinha.