Fugas - Viagens

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Brasília é rock

Brasília é um lugar de convergência de culturas. Para a levantar do chão vieram gaúchos, amazonenses, nordestinos, cada qual com sua cultura musical específica. “Mas nenhum desses segmentos se projectou para fora, nenhum teve a capacidade de ganhar os media e fazer uma revolução” – como o rock. Afinal, o grande hit dos Legião e de Renato Russo, Geração Coca-Cola, ainda hoje é tocado em manifestações. “Somos os filhos da revolução/Somos burgueses sem religião/Somos o futuro da nação/Geração Coca-Cola” continua actual.

Paragem agora no Parque da Cidade, agora com Fabrício. Este é um dos seus lugares favoritos. “O único show do Chico Science que assisti foi aqui”, diz. E aqui acontecem ao longo do ano vários concertos, e um festival de jazz, I Love Jazz. Eles, Móveis, já tocaram neste parque umas três vezes. Há gente a correr e gente sentada na relva. A área verde é maior que o Central Park, em Nova Iorque, diz o Turismo de Brasília, cidade onde a praia mais próxima fica a uns mil quilómetros. “É muito bem aproveitado pelos desportistas”, e “como brasiliense é um dos lugares que eu cito como sendo mais interessantes porque a cidade é plana, e para ter vista da cidade é muito legal”, diz Fabrício.

Em frente a azulejos inspirados em Athus Bulcão, que tem a sua obra em vários locais da cidade, Fabrício conta-nos aqui a história da sua banda que tem a cidade como inspiração. “Somos 10 integrantes e dos 10 quatro não nasceram em Brasília. Os nossos pais são de origens diferentes. No meu caso tenho mãe paranaense e pai goiano – só que o curioso da história, sendo descendente de japoneses, é que a minha família está aqui desde 1957, três anos antes da inauguração. Isso aconteceu por conta da agricultura: diziam que a terra daqui era muito ruim, então trouxeram os japoneses porque eles entendiam de terra.”

Este parque tem outra particularidade: lembram-se da letra da música Eduardo e Mônica, dos Legião Urbana? “Se encontraram então no parque da cidade/A Mônica de moto e o Eduardo de camelo”. O parque é este, tornando-se assim “um dos lugares citados e eternizados pelo Renato Russo”. Falando de rock é, de facto, difícil não citar Legião Urbana e Renato Russo, lembra.  Já agora: o camelo de Eduardo quer dizer bicicleta em “brasiliês”.

Onde estão as pessoas em Brasília, o que fazem os jovens, que não os vemos nas avenidas largas? “Uma coisa é conhecer Brasília com um brasiliense que gosta da cidade – porque tem brasiliense que não gosta”, nota Fabrício, alguém que nitidamente adora a cidade onde vive e tem prazer em mostrá-la. “A cidade não é amistosa para ir andando, tem necessidade de carro. A dificuldade de locomoção a pé é difícil principalmente de este para oeste. Os jovens usam bicicleta e ônibus. No plano original, a ideia era que desde o motorista a um director morassem nessa área de Brasília mesmo. Mas existe um plano de segmentação das quadras: as pares no lado leste são mais económicas e as ímpares no lado oeste mais luxuosas.” Hoje a Asa Norte é mais jovem, lembra, tem seus bares e restaurantes e uma vida nocturna mais intensa.

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